E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça quando chama ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob. (Lc 20:37)As citações anteriores, além de evidenciarem o tronco comum do Cristianismo e do Islão, mostram um conceito que é hoje enfatizado pela religião bahá'í: Deus tem-Se revelando progressivamente à humanidade. No entanto, a maioria dos seguidores destas religiões acredita que a revelação divina terminou (ou teve o apogeu) com o aparecimento do Profeta fundador da sua religião.
Dizei: «Cremos em Deus, na revelação que nos enviou, e no que foi revelado a Abraão, Ismael, Isaac, Jacob e às Tribos, no que foi revelado a Moisés e a Jesus, no que foi revelado aos Profetas pelo seu Senhor. Não fazemos distinções entre qualquer um deles. Submetemo-nos a Deus. (Alcorão 2:130)
Mas num mundo cada vez mais multi-cultural e globalizado estas ideias são questionadas com frequência crescente. Porque é que Deus escolheria apenas um único povo e um único momento na história da humanidade para Se manifestar e dar a conhecer a Sua Vontade? Porque é que a enorme maioria dos adeptos de todas as religiões acredita que o seu Profeta foi o último que Deus enviou?
Na tentativa de procurar respostas a este tipo de questões podemos destacar dois tipos de reacções: o diálogo inter-religioso (procurando compreender as diferentes convicções e expressões religiosas) e a criação de comunidades e doutrinas religiosas estanques voltadas sobre si próprias e, de alguma forma, desajustada das realidades sociais que hoje vivemos.
Relativamente a este segundo tipo de reacção, é de notar que nestas comunidades religiosas estanques os adeptos reclamam duas coisas: a exclusividade (ou superioridade) da revelação divina proclamada pelo Profeta fundador da sua religião, e o fim da revelação divina (Deus não enviará mais Profetas). Esta perspectiva exclusivista e derradeira sob a natureza da mensagem religiosa fomentou durante muito tempo mal-entendidos, tensões e conflitos entre adeptos de diferentes religiões.
Esta atitude em relação ao fenómeno religioso enferma de várias contradições:
- Fará sentido acreditar num Deus Omnipotente que "tem as mãos atadas"(a) e não pode enviar mais Mensageiros?
- Fará sentido acreditar num Deus Misericordioso, cuja Mensagem nunca chegaria a determinados povos do mundo?
- Todos os Profetas elogiaram os Seus antecessores. Porque devem os Seus seguidores entrar em contenda?
- Todas as religiões anunciam uma nova revelação e um Prometido em termos profundamente elogiosos. Porque haveremos de pensar que a intervenção divina terminou?
No Kitáb-i-Íqán, Bahá'u'lláh descreve como a revelação divina é contínua, e que nunca a humanidade esteve, ou estará, privada dos Seus Mensageiros:
... em todos os tempos, as múltiplas graças do Senhor de todos os seres têm abrangido a terra e todos os que nela habitam, através dos Manifestantes de Sua Essência Divina. Nem por um momento sequer, negou Ele a Sua graça; jamais as chuvas da Sua benevolência cessaram de cair sobre a humanidade.[14]Tal como os alunos de uma escola que vão adquirindo conhecimentos ao longo dos anos, através de sucessivos professores, também a humanidade vai amadurecendo e evoluindo ao longo dos séculos, graças aos ensinamentos de sucessivos Profetas. E semelhante a uma escola, onde os professores continuam o trabalho dos anteriores e anunciam novos professores, também os Profetas continuam o trabalho dos Seus antecessores e anunciam um Sucessor.
O tema da revelação progressiva é recorrente nos livros e epístolas do fundador da religião baha'i(b). Um único Deus é a fonte de todos os Profetas fundadores das grandes religiões mundiais; a sequência de Profetas enviados pelo Criador deve ser vista como um processo evolutivo destinado a inspirar o progresso humano e civilizacional.
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NOTAS
(a) – "A mão de Deus está presa por correntes" (Alcorão 5:64) Esta era a resposta dados pelos Judeus da Arábia perante a pretensão de Maomé ser Profeta. Curiosamente, hoje a grande maioria dos muçulmanos acredita que a Revelação Divina terminou com Maomé.
(b) – Um dos excertos mais citados das escrituras Bahá'ís sobre este assunto é a seguinte: "Contempla tu com a vista interior a corrente de sucessivas Revelações que ligou a Manifestação de Adão com a do Báb. Dou testemunho perante Deus de que cada um desses Manifestantes foi enviado através da operação da Vontade e Desígnios Divinos, que cada um foi o Portador de uma Mensagem específica, que a cada um se confiou um Livro divinamente revelado e foi incumbido de desvendar os mistérios de uma Epístola poderosa." (Selecção dos Escritos de Bahá'u'lláh, XXXI).
3 comentários:
A Revelação Progressiva parece um princípio tão lógico...
Cirilo,
Já houve duas pessoas que me mostratram escrituras do Hinduismo e do Budismo a sugerir que o conceito de Revelação Progressiva também existe nestas religiões.
Só que eu não faço ideia quais sejam esses textos. Pode ser que algum baha'i que visite este blog te consiga responder.
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