segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

Seminário República e Religiões

Creio que a única falha que se poderia apontar ao seminário “República e Religiões” será o facto de ter tido tantos palestrantes num único dia. Os temas expostos e a vivacidade de alguns debates deram uma nítida percepção que ainda havia muito para dizer e debater.

Além das intervenções que referi em posts anteriores, gostei bastante da intervenção do Padre Peter Stillwell. Começou por referir que a Igreja Católica não acompanha segundo a segundo as transformações mundiais; tem um ritmo diferente. E recordou o trabalho dos Papas Bento XV e Pio XI. O primeiro, durante a guerra 1914-1918, condenou as partes envolvidas e alertou para erros existentes no armistício; para ele, o mundo precisava de construir a paz. Já Pio XI, percebeu que a intervenção da Igreja no mundo devia ser feita pelos leigos; e assim surge a Acção Católica. Em França sob ocupação alemã, alguns membros da Acção Católica cooperaram com a Resistência; em Portugal várias personalidades bem conhecidas pertenceram à Acção Católica (Sá Carneiro, Lurdes Pintasilgo, Helena Roseta,...). A grande mudança da Igreja Católica no séc. XX foi inevitavelmente o Vaticano II; esse concílio mudou a atitude da Igreja face à liberdade religiosa e à liberdade de consciência.

Os membros de outras organizações e confissões religiosas apresentaram perspectivas pessoais da forma como a mudança de regime político de 1974 se reflectiu nas suas comunidades, e de que forma vivem hoje a liberdade religiosa. Ficam aqui algumas frases interessantes que, de alguma forma, reflectem o conteúdo das diferentes intervenções:

"Ser judeu é uma maneira diferente de ser português" (José Carp – Comunidade Judaica);
"Um muçulmano não consegue separar a vida material da vida espiritual. São uma só e vivem em harmonia, sem que uma se sobreponha à outra." (Faranaz Keshavjee – Comunidade Ismaeli);
"Um Estado laico defende as minorias sociais. Não pode ignorar a confessionalidade da sociedade nem reduzir a expressão religiosa à esfera privada." (Samuel Pinheiro – Aliança Evangélica)
"A maior parte dos debates na opinião pública são choques de ignorâncias; quanto maior a ignorância, maior é o choque." (José Barata-Moura);
"A arte da vida está em fazer da vida um obra de arte" (Mahatma Gandhi, citado por Asok Hansraj – Comunidade Hindu);
"A laicidade não é uma religião; é a possibilidade de cada um ter a sua religião (que incluía a não religião)" (Luis Mateus - Associação Republica e Laicidade);
"Mais importante que a laicidade é a liberdade religiosa. Se o lugar da religião é apenas o privado caímos numa espécie de esquizofrenia (semelhantes aos Marranos) conde há uma prática privada e uma prática pública." (Esther Mucznick);
"As religiões sempre tentaram humanizar a espécie humana. A globalização e a mundialização criaram interdependências para o bem e para o mal. Mas estes processos não foram acompanhados por uma valorização ética e espiritual da humanidade. A presente ordem mundial reflecte isso nos seus desequilíbrios." (Adel Yussef Sidarus - cristão copta)

2 comentários:

Marco Oliveira disse...

Então e voces nao falaram?

Marco Oliveira disse...

Cirilo,
Houve uma intevenção do Carlos Jalali sobre o papel da religião na sociedade moderna. O texto dessa intervenção já foi publicado neste blog e na Terra da Alegria.