terça-feira, 11 de abril de 2006

Prós e Contras

Estive ontem a assistir ao vivo ao programa Prós-e-Contras. O tema era “Os Valores da Europa e o Choque das Religiões

Alguns aspectos que gostei:

Algumas intervenções de António Barreto: "Não nego as raízes cristãs dos valores europeus; até as prezo!"; "Houve crises mais graves na Europa do que aquela que estamos a viver agora"; "No que toca às migrações devemos defender o integracionismo em vez do multi-culturalismo; este último cria ghetos e apartheid"; "O Islão é apenas um caso particular do problema das migrações"; "Há estados islâmicos que financiam o terrorismo. Não são os muçulmanos pobres que alimentam o terrorismo, mas sim os milionários muçulmanos"; "Há ecumenismo e diálogo inter-religioso, mas a maioria das pessoas continua a acreditar que a sua religião é uma verdade superior".

Houve também uma frase do Cardeal Saraiva Martins que retive: "Devemos reconhecer a história (num ou noutro sentido) mas não a podemos negar."

Algumas intervenções de Fátima Bonifácio também revelaram muita objectividade e serenidade.

O vice-presidente da comunidade islâmica esteve quase bem. Quando na segunda parte, pode intervir e afirmou que se o terrorismo que tem origem no médio oriente é designado por terrorismo islâmico, então o terrorismo do IRA deve ser designado como terrorismo católico (e recebeu aplausos do público - não da claque do JCN! - com essa frase). Depois podia ter evitado o elogio ao Presidente Cavaco Silva. Não percebi a necessidade desse elogio.

Alguns aspectos que não gostei:

Pareceu-me que a Fátima Campos Ferreira (FCF) não esteve no seu melhor. Por várias vezes confundiu Catolicismo com Cristianismo (como se não Europa não existissem Protestantes e Ortodoxos). Num outro momento, depois de ouvir um muçulmano contar a história da sua filha que rezava pela vitória de Portugal no Euro 2004, FCF teve um comentário muito infeliz: "E Maomé ajudou!..."

Joao César das Neves (JCN) fez-se acompanhar de uma claque. A equipa da realização percebeu isso no início do programa e não hesitou em ameaçar que se fosse necessário ia pôr alguém na rua. Eram um grupo de miudagem que reagia com aplausos às piadas fáceis de JCN. A realização teve de intervir várias vezes a pedir para que contivessem os aplausos (creio que isso não se percebeu para quem viu o programa na TV) e a própria FCF disse por duas vezes que não queria ali claques. Tornava-se claro que JCN tentou manipular o programa.

Os dois jovens entrevistados no início da segunda parte, não foram, obviamente escolhidos ao acaso. Tinham um discurso ensaiado. Isso não é um problema. O problema é que eles apenas apresentaram a perspectiva católica conservadora sobre um os problemas que se debatiam. Num programa que se pretende de debate de ideias, porquê esta uniformidade de opiniões? Porque não se entrevistou um jovem muçulmano ou ateu?

11 comentários:

Anónimo disse...

Marco

Antes de mais, obrigado pela visão a partir de dentro. Realmente, e visto pelo televisor, a claque parecia óbvia e os dois jovens que falaram tinham a “cassete” bem afinada...
Quando ao esquecimento dos protestantes e ortodoxos, acredita que é tão habitual que eu já nem estranhei.
Quanto às intervenções do João César das Neves, tenho que confessar que acabei por gostar. Não tanto por concordar com tudo o que ele disse, mas pelo registo em que falou: sem medo, agressivo, astucioso. Normalmente estas características ficam para quem ataca a religião, neste caso o Cristianismo. Ao cristão fica o papel da defesa. Mas não tem que ser assim. Penso que, neste ponto, pode ser um sinal, porque há outros a falar como JCN, que as coisas estão a mudar.

Anonymous #2

Anónimo disse...

Eu não vi o programa porque em geral não gosto muito desses programas da FCF, em muitos casos parecem mais uma lavagem ao cérebro do que um verdadeiro debate...convida-se para a tribuna, em geral, pessoas com opiniões muito próximas, que pisam e repisam a mesma ideia vezes sem conta, e deixam-se as vozes com alguma coisa de diferente para dizer na plateia onde o tempo de intervenção é muito reduzido e onde às vezes são obrigados a calar-se a meio.

Estou de acordo com o anonymous2, acho que as coisas estão a mudar o conservadorismo católico está de novo a ganhar terreno, mas não acho que seja uma coisa boa porque em muitos aspectos esse discurso aproxima-se do fundamentalismo, e não é só o fundamentalismo islamico que é perigoso!

João Moutinho disse...

Boa Gente,
Ainda te vi a seres filmado o que me veio a dar uma réstea de esperança de que pudesses ainda a ser entrevistado.
Vi a primeira parte e sensivelmente metade da segunda. O debate surpreendeu-me pela positiva, pela forma relativamente cordata com que decorreu sem que as opiniões tivessem de ser as "politicamente correctas".
Nota-se, no entanto, que a sociedade lusa está longe de viver com toda aquela diversidade que existe por exemplo num sociedade anglo-saxónica.
A entrevistadora, apesar de acreditar na sua busca de imparcialidade, não parecia acreditar que o Islão pudesse ser uma religião autêntica. Além de que, e como já foi referido, continuamos a pensar que católico (romano) é o mesmo que cristão.

Anónimo disse...

Tenho a impressão que o Joao Moutinho esteve a ver outro debate noutro canal qualquer...

Gostava de saber é se alguma vez vai haver um debate destes com as confissões religiosas todas ao molho.

Pedro Fontela disse...

O João Moutinho sabe o que é o “politicamente correcto”? Sabe distinguir o que é pressão social do que é simples idiotice/fanatismo?

Pelo comentário está-me a parecer que não.

João Moutinho disse...

Pedro Fontela,

Conforme já referi não vi o programa integralmente.
Quando me referi ao "politicamente correcto", lembrei-me da referência da Fátima Bonifácio em que esta se referia à Europa como "branca e cristã" e que de outra forma não a reconheceria. Neste caso ela poderá ter gorado as expectativas da quem pretendia que ela tivesse outra visão.
Falou-se da imigração, ou "choques de cultura" sem procurar pintar o quadro de cor-de-rosa ou negro.
Pedro,
Deve estar a pensar que quem não gorou as expectativas da "claque" foi o João César das Neves. Mas daí a passarmos para "idiotice/fanatismo" parece-me um pouco exagerado.

Anónimo disse...

Houve lá uns comentários da Fátima Bonifácio que foram tristes: "Tenho medo de acordar numa Europa que não seja branca"

Pedro Fontela disse...

João Moutinho,

O facto de alguém afirmar que têm preconceitos racistas não é ser gorar as expectativas que alguém pudesse ter, é realmente ser idiota ao ponto de pensar que as pessoas se definem pelo cor da pele.

A questão da religião é igualmente reveladora, a tal senhora nem sequer percebe que o facto de não existirem mecanismos repressivos da escolha individual necessariamente leva à diversidade religiosa. Isto chama-se liberdade de culto e o que ela aludia no programa (com a conversa de Europa Cristã) chama-se estado religioso totalitário.

A claque de das Neves mostrou o que o personagem gosta: discursos retóricos com uma plateia que aplaude sempre (deve-se ter habituado assim na católica...), é triste que os do programa tenha permitido que uns miúdos amestrados tomassem conta da coisa.

João Moutinho disse...

Boa Gente,

O racismo, mesmo que inconsciente, é um mal funesto a combater, mas não quero dizer que seja escondido.
A mestiçagem da raça humana é o nosso futuro inevitável.

Quanto aos "miúdos amestrados" não me parece que tenham tomado tanto conta da coisa quanto isso. a entrevistadora deu-lhes tempo de antena como também deu a dois muçulmanos. É certo que já havia dois católicos como entrevistados principais (de entre os quatro).

É natural que depois do debate conideremos que mais alguém devia ser ouvido - de preferência de acordo com a nossa linha de pensamento.

Pedro Fontela disse...

João Moutinho,

Se é um mal funesto porque que é considerou isso como algo positivo, como “politicamente incorrecto” (essa expressão tornou-se a medalha de “coragem” de todos os argumentos obscuros da nossa história)?

O debate foi fraco pela simples razão que convidam extremistas católicos para falar com laicos hesitantes ou com tiques totalitários e racistas. A mim parece-me um grande desequilíbrio, se a isso lhe juntar-mos o facto da moderadora querer fazer conclusões em vez de serem os convidados a fazer isso...

Marco Oliveira disse...

GH,

Tens razão. Tinha-me esquecido desses comentários infelizes da Fátima Bonifácio.

Na verdade, mais importante do que a europa ser branca ou mestiça, é que seja um continente tranquilo, onde haja justiça e um futuro promissor para todos.