terça-feira, 28 de agosto de 2007

Mãe, não vou conseguir cumprir a minha promessa...

Escrito por um estudante Bahá'í iraniano e publicado no site Iranian.com.
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Desde 1979, o governo iraniano tem sistematicamente procurado privar a sua maior minoria religiosa do direito a uma educação completa. Especificamente, a República Islâmica do Irão há mais de 25 anos que tem impedido a Comunidade Bahá’i – 300.000 pessoas – de aceder ao ensino superior, recusando aos jovens Bahá’ís a entrada na universidade e outros estabelecimentos de ensino superior.

Posteriormente, em resposta a um protesto internacional contra este comportamento opressivo, o governo anunciou oficialmente no final de 2004 que iria retirar a declaração de filiação religiosa das candidaturas ao exame nacional de admissão na universidade. Consequentemente, os Bahá’ís puderam fazer o exame em 2004 e em 2005. No entanto, no processo de admissão, os jovens Bahá’ís foram postos de lado e não foram aceites.

Em 2006, pela primeira vez em 29 anos, mais de 200 estudantes Bahá’ís puderam entrar nas universidades públicas. Porém, desde o início do ano lectivo, os estudantes foram gradualmente sendo expulsos de acordo com uma estratégia previamente planeada.

Neste ano (2007), o governo usou uma nova táctica. A maioria dos estudantes Bahá’ís não recebeu os seus cartões com as classificações das provas. Ao não receber os seus resultados, nem sequer sabem se passaram ou chumbaram no exame.

Segundo o site da Internet da Organização Nacional para Avaliação da Educação, 800 estudantes Bahá’ís cujos cartões ainda não foram emitidos, não possuem toda a documentação necessária. Foram feitos contactos com as entidades responsáveis pelo processo, mas apesar disso não se conseguiu uma resposta razoável. Neste momento, os estudantes Bahá’ís que ainda não foram informados sobre o resultado dos seus exames enfrentam uma situação incerta.

Quando eu era criança falava sobre os meus sonhos com a minha mãe. Num dia queria ser professora; no outro queria ser cientista ou médica. A minha mãe olhava para mim e dizia-me: “Tenta amar toda a gente. O que quer que sejas, tenta ajudar os outros.”

Assim, há sete anos atrás decidi ser médica. Tinha a certeza que trataria os meus doentes com amor. Os dias passaram e eu aprendi muito. No início, o sonho de ser médica era o sonho mais real e mais belo da minha vida. No entanto, acabei por saber que a minha mãe tinha sido impedida de concluir o último semestre dos seus estudos na universidade. Vi os meus irmãos que nem sequer puderam fazer o exame nacional de admissão na universidade.

Então, um dia ouvi uma voz de esperança de um dos meus amigos que tinha uma nova história para mim. Falou-me das suas aulas, do exame de admissão que ia fazer, e das aulas de preparação. Partilhou comigo os seus sonhos, esperanças, preocupações e medos. Senti o seu entusiasmo. Senti a sua preocupação e ansiedade. Eu estava feliz pelo facto de que ser Bahá’i já não ser um obstáculo para prosseguir a minha educação.

Hoje, o meu amigo telefonou-se e falou com uma voz que não mostrava qualquer ansiedade. Falou-me do seu cartão de classificações que ainda não tinha sido emitido, e que o seu resultado não era claro. Falou-me das respostas que lhe tinham dado. Falou-me da sua determinação cada vez maior em revitalizar o seu país, o Irão.

Chorei. Chorei até não ter mais lágrimas para chorar. Chorei, não por causa da minha mão que não conseguiu realizar o seu sonho; dos meus irmãos que nem por um segundo invejaram os seus amigos não-bahá’ís; do meu amigo que se via impedido de prosseguir a sua educação; nem por minha causa, e pelo meu sonho perdido de vir a ser médica. Chorei porque ainda me lembro do dia – na minha infância – em que prometi à minha mãe que ia amar toda a gente. Foi só então que percebi porque tinha feito aquela promessa no auge dos meus sonhos. Chorei porque temi não ser capaz de cumprir a minha promessa.

Mas estas pessoas – que eu tento amar – não foram crianças? Não prometeram às suas mães que iam amar-me?

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