Há mais de dez anos que vivemos com esta espada suspensa sobre a cabeça: quando não têm mais nada com que se entreter para exibir a sua importância, os senhores da Academia das Ciências e os ministros dos Estrangeiros gostam de nos ameaçar com o acordo ortográfico, cujo único objectivo é pôr-nos a escrever como os brasileiros... Como disse Vasco Graça Moura, o acordo é um «diktat» neo-colonial, em que o mais forte (o Brasil) determina a sua vontade ao mais fraco (Portugal). Alguém imagina os Estados Unidos a ditarem à Inglaterra as regras ortográficas da língua inglesa? Ou o Canadá a ditar as do francês à França ou a Venezuela as do espanhol a Espanha?
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 24-Novembro-2007
14 comentários:
Querido Marco
Não consegui distinguir o seu tom neste post se é irónico ou revoltado, ou era apenas um relato do que escreveu uma outra pessoa!!!???
De qualquer forma não acho justo o que você transmitiu ou pareceu transmitir neste post, foi como se os marginais brasileiros tivessem colocado uma faca ao pescoço dos nobres portugueses a obrigá-los a falar "dred" – como denominam a nova linguagem dos jovens portugueses – e no entanto esqueceu de analisar a razão pela qual quando há um evento internacional existem traduções simultâneas para diversas línguas menos para português.
Tentou vulgarizar o acordo como sendo o seu “único objectivo é pôr-nos a escrever como os brasileiros”...sem mencionar que os brasileiros também vão sofrer mudanças ortográficas.
Esqueceu reparar nos alunos brasileiros em Portugal que na sua maioria são descriminados pelos professores porque esquecem de por "actividade" ao em vez de "atividade"...
Ah e ainda a mais doce situação é quando tem um brasileiro em qualquer cerimónia internacional, de repente o “marginal brasileiro” se transforma em representante da língua portuguesa pelo média ou mídia portuguesa!!!
E quanto aos americanos e ingleses devo dizer que eles têm muito mais acordos que os portugueses e brasileiros, acordos de verdades não só no papel, talvez nem ligam tanto para esta questão linguística.
Por favor meu querido não bote lenha na fogueira… até como um bahá’í que você sempre professa ser não acha que deveria ser menos preconceituoso???
Ou as palavras ditas são muito bonitas mas quanto as acções ou as ações… aí dependem de quem as pratica!!!
Peço perdão pelos meus vulgares erros…
O Miguel Tavares tanto quanto sei diz o que pensa, o que não quer dizer que tenha de concordar com ele.
Em termos de revisão ortográfica tivémos a da República que até não foi pequena comparada com esta prjectada.
Não estou muito preocupado com o "diktat", nem me parece que realmente o seja.
O que sei é que já muitos de nós estudamos através de traduções para o português do Brasil, até porque traduzir para o "português genuíno" não se justifica dada a escassês de mercado.
Venha daí a uniformização do português, até porque sê-lo-á sempe. Não poderá ser brasileiro, angolano ou outro. É o português que pertence a quem o assume como seu.
Daniella
O texto não é meu, mas de Miguel Sousa Tavares, e foi ontem publicado no jornal Expresso. Copiei este excerto para aqui porque partilho das opiniões dele. Acho que este acordo é um disparate sem sentido.
Isto tem sido bandeira de umas prima-donas portuguesas, e de gente que não admite que uma das grandes belezas da língua portuguesa está na sua diversidade.
Não tenho nada contra brasileiros; se me conhecesses sabias certamente dos meus antepassados cariocas e gaúchos, e de parte da minha família que vive actualmente no Paraná. Aprecio a literatura brasileira e autores como Machado de Assis, Erico Verissimo, José Lins do Rego; mas tenho para mim que nas obras de autores como estes seria um crime substituir a grafia brasileira pela portuguesa. Que diria se Eça de Queirós tivesse uma das suas obras em grafia brasileira?
Não me lembro nunca de ter corrigido a maneira de falar (ou de escrever) de um brasileiro. Mas já o fiz a vários portugueses.
Afinal, um baha’i acredita na unidade na diversidade ou unidade na uniformidade?
Não tente misturar alhos com bugalhos. O texto refere-se apenas ao Acordo Ortográfico. Nada tem a ver com brasileiros que vivem em Portugal. Se falasse das situações de discriminação que os estrangeiros vivem em Portugal, teria primeiro de falar dos africanos, dos ucranianos e, só depois, dos brasileiros.
Querido Marco sei que o texto não é seu e daí a minha pergunta logo no inicio do comentário e expressei ali o que senti do tom do texto.
Portanto eu continuo a achar que é um absurdo estarmos preocupados com como se escrever acção ou ação, ou se colocar o pronome antes ou depois de verbo.
Ora os ingleses e os americanos não têm tanta discordância linguística como a tem os portugueses com os brasileiros, digo “com” porquê os brasileiros estão minimamente preocupados com esta questão para eles como diz J. M. é a língua portuguesa.
De qualquer maneira acho o acordo ortográfica é bom e será de beneficio de todos.
Quanto a diversidade? Está correto ou correcto, porém a União e Harmonia é essencial para a sobrevivência.
Se num acordo ortográfico os ânimos já se exaltam, avaliem na adoção de um idioma internacional. De minha parte deixaria com prazer qualquer idioma, ainda que nativo, se necessário fosse, pela promoção de uma unidade linguística. Sem despreendimento o gênero humano não vai se unir.
Carlos,
Acontece que uma língua auxiliar internacional é isso mesmo: AUXILIAR!
Não é uma língua de substituição, ou de uniformização das restantes. Não é uma ferramenta para destruir a diversidade linguística, mas apenas um meio para facilitar a comunicação entre os povos.
Na minha opinião, este acordo ortográfico é uma ameaça à diversidade da língua portuguesa.
Sugiro aos amigos a leitura de textos bahá'ís sobre o tema (sugiro esses na medida em que o blog se assume como bahá'í).
Carlos Moreira, estou de acordo consigo!
Marco, gostaria de te ver comentar o meu texto: http://fenixadeternum.blogspot.com/2007/08/minha-ptria-lngua-portuguesa.html
Um abraço.
Carlos Moreira concordo plenamente com você.
Quanto ao AUXILIAR de Marco, acordo não quer substituir nenhuma língua por nenhuma outra, acordo é para harmonizar; portanto ninguém obriga os portugueses a falar ou até escrever como os brasileiros pelo contrário são os brasileiros que vão perder muitos circunflexos e tremas, entre outras coisas, no meio deste acordo.
E já agora observe o exemplo dos países castelhanos ou da língua espanhola…
Quanto ao assunto sobre discriminação que você mencionou de uma maneira estranha, o que eu primeiramente quis ignorar até porquê não tem nada haver com o assunto, porém para que não haja alguma dúvida gostaria de esclarecer que este tipo de discriminação é com os alunos brasileiros. Meu querido os africanos falam e escrevem como os portugueses e os ucranianos, a língua materna deles nem é português!!!
Não é assim tão difícil entender, eu não falei da DISCRIMINAÇÃO em Portugal…ainda.
Daniella,
Os africanos não escrevem como os portugueses.
Angola, Moçambique, Cabo Verde, tem especificidades muito próprias na maneira de falar Portugues.
Sabia que:
Autocarro=Onibus=Maxibombo
:-)
Pois é, também concordo a 1000% com o Miguel Sousa Tavares, e nem sequer sou grande admirador do homem, mas neste caso o homem tem carradas de razão, assim como tu, Marco.
Um abraço.
Mais uma vez discordo do Elfo :-)
Defendo o acordo ortográfico da terceira língua europeia e sexta mundial.
A propósito de preconceitos, um dos mais insidiosos e cortantes são aqueles dirigidos às brasileiras, em particular.
Independentemente da sua profissão, postura ética ou seja aquilo que for, é comum começarmos a extrair conclusões nada abonatória para quem vem ganhar a vida, na grande maioria dos casos de forma honesta e fazer os serviços que os portugueses se entendem recusar a fazer.
O preconceito tem suas armadilhas. A linguagem muitas vezes demonstra isso. Por isso que é necessário refletir sobre o que falamos no dia-a-dia. Bahá’u’lláh afirma: “Nem sequer sussurres os pecados alheios...”. Admoesta também a não aumentarmos as faltas alheias “afim de que as tuas próprias não se afigurem grandes”.
Meus avôs saíram de Portugal e por aqui se estabeleceram, fugidos das difíceis condições do pós primeira guerra. Aqui construíram suas vidas, de início em absoluta pobreza. Quando criança, não entendia direito o que eles falavam, mas achava normal e agradável estar em suas presenças. Com o tempo, viajei para outras regiões e vi a discriminação pela forma como se fala ou algo que demonstre a sua procedência. Posso afirma o quanto isto é opressor ainda que não se fale abertamente sobre o assunto.
Meus avôs falavam de um jeito. Seus descendentes, de outro. Os meus testemunham uma transformação sem precedente com a linguagem que se forma a partir da Internet. Onde vai chegar?
O que me importa é o que eles estarão sentindo e como estarão se relacionando. Poderia pensar em termos de nação e não apenas na família. Mas penso que vou chegar no mesmo lugar.
Pois eu cá não tenciono alterar um mícron (só para mostrar o quão mais pequeno é do milímetro) a tudo o que aprendi. E quantos de nós estarão dispostos a fazê-lo? E que consequências iremos sofrer??? Por que carga de água (embora "por que raio" tenha mais força) hei-de estar a submeter toda uma aprendizagem adquirida à vontade de terceiros? Brasileiros, porquê? Há décadas que somos invadidos por toneladas de novelas, o "tudo bem!?" também veio para ficar e outras tantas expressões que, embora inofensivas, me provocam alguma urticária. Atribuo a responsabilidade dessas adopções (ou já será adoções?) a "nos otros", evidentemente; teremos sido permeáveis, serão os efeitos da globalização, talvez, mas daí até assumirmos uma "identidade literária" alheia!? Naaaaa.....
"Burro velho não aprende línguas"? Até pode ser, mas...e as nossas crianças? E aquelas que já adquiriram algumas "competências" linguísticas? Quem as vai confundir com as (eventuais futuras) formas de escrever? Isso é que considero preocupante. Veremos...
"Unidade na Diversidade"!
Tanta raiva nalguns comentários...
Eu imagino o que diziam os portugueses na altura da mudança gramatical que fez com que o nosso idioma escrito seja diferente do idioma escrito de Pessoa (que nem é tão distante no tempo), de Queiroz, de Camões ou de Fernão Lopes.
E imagino a forma como os brasileiros mudaram a sua forma de escrita, umas três ou quatro vezes, no último século.
"Todo o mundo é composto de mudanças" dizia Camões, muito antes de Bahá'u'lláh dizer "cada era tem o seu problema".
Bem, falar de unidade na diversidade é bom, desde que cada um fique no seu canto com as suas ideias, pelo que vejo!
Viva la diference!
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