Na edição desta semana da revista VEJA, é dado um destaque especial ao tema da religião e ao facto desta resistir num mundo cada vez mais marcado pela “descrença”. No artigo intitulado COMO A FÉ RESISTE À DESCRENÇA (do jornalista André Petry) encontra-se uma curiosa referência ao ateísmo no Brasil, acompanhada de uma sondagem (clique sobre a imagem para ampliar) não menos surpreendente. Aqui fica um excerto:
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Às vésperas do Natal, quando 2,1 bilhões de cristãos vão comemorar os 2 007 anos do nascimento de Jesus Cristo, os católicos brasileiros seguem diminuindo ano após ano, como vem acontecendo desde 1940, mas ainda formam uma estupenda multidão: são quase 74% da população brasileira – o que equivale a mais de 130 milhões de fiéis. Com alguns disciplinados e praticantes e muitos displicentes e relapsos, os católicos do Brasil, com seu número espetacular, mostram o vigor da crença divina, a pujança da fé, a robustez de Deus – uma potência curiosamente dotada de todas as qualidades inversas às da humanidade, que é criada (e Deus é incriado), que é limitada (e Deus é ilimitado) e que é mortal (e Deus é imortal). Os números da fé no Brasil talvez sirvam como explicação para dois fenômenos. Explicam a resistência da religiosidade em um mundo marcado pela descrença e, ao mesmo tempo, o notável preconceito da maioria dos brasileiros em relação aos ateus. Faz sentido rejeitar alguém apenas porque não acredita em Deus?
"Faz todo o sentido", afirma a historiadora Eliane Moura Silva, professora da Universidade Estadual de Campinas e especialista em religião, ela própria uma atéia. "O brasileiro ainda entende o ateu como alguém sem caráter, sem ética, sem moral." É um entendimento que parece espalhar-se de modo mais ou menos homogêneo por todas as classes sociais. Recentemente, a historiadora deu duas aulas sobre ateísmo na Casa do Saber, instituição criada para eliminar lacunas intelectuais dos endinheirados de São Paulo, e a platéia teve uma reação adversa, quase hostil, às idéias ateístas. Antes, a neurocientista Silvia Helena Cardoso, doutora em psicobiologia pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles, publicou um artigo num jornal de Campinas discutindo se os santos seriam esquizofrênicos, dada a freqüência com que tinham visões – ou alucinações. Recebeu tantas ameaças que resolveu abandonar o assunto. O professor Antônio Flávio Pierucci, da Universidade de São Paulo, especialista em sociologia da religião, explica o fenômeno: "Os brasileiros não estão habituados a se confrontar com a realidade do ateu". É o que leva os políticos – antes, durante e depois da eleição – a sempre dizer que ninguém é mais temente a Deus do que eles.
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COMENTÁRIO: De todos os brasileiros que conheço – incluindo vários familiares – uma das principais impressões que retenho é a imagem da tolerância e da religiosidade. Creio que isso forma parte do estereotipo que a maioria dos portugueses tem sobre os brasileiros. Por esse motivo o que me surpreende no texto e na sondagem da VEJA é o preconceito anti-ateu. É certo que não podemos dizer que o ateísmo seja uma religião; uma religião possui vários ensinamentos, e o ateísmo consiste num ensinamento: a não existência de Deus. Mas não vejo muitas diferenças entre o preconceito anti-baha’i, tão propagado no em países muçulmanos e este preconceito exposto nesta revista. Ambos são preconceitos religiosos, na medida em que sustentam a discriminação de pessoas com base numa (ou mais) convicções religiosas. Ambos são inaceitáveis.
2 comentários:
O mesmo se aplica às palavras do Cardeal de Lisboa quando se referiu aos ateus! Também é uma expressão de preconceito.
Marco
A questão é que o brasileiro é espiritual por natureza, é religioso, ele não consegue imaginar alguém sem religião ou alguém que não acredite em Deus.
Mas não anda a chacinar ou até maltratar ateu por ser ateu, ou dar qualquer tratamento diferente por esta razão, simplesmente não consegue assimilar a sua existência.
Talvez até eu nem consiga explicar corretamente mas vc olha para o número de seitas existentes no Brasil para compreender a necessidade que as pessoas têm para agarrar a uma força superior, uma força espiritual.
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