"E há milhões e milhões de herdeiros. Apesar das inúmeras revoluções na história do pensamento, Abraão continua a ser uma figura fulcral e decisiva de metade dos crentes do globo inteiro. Os muçulmanos invocam o seu nome todos os dias nas suas preces, tal qual os judeus. Ele surge repetidas vezes na liturgia cristã. A mais cativante história da vida de Abraão, a oferta do seu filho a Deus, tem um papel primordial na mais sagrada semana do ano cristão, a saber, a Páscoa. Esta história é recitada no início da mais sagrada quinzena do judaísmo, o Rosh-ha-Shana, ou «Cabeça do Ano». E o mesmo episódio é fonte de inspiração para o dia mais sagrado do islamismo, 'Id al-Adha, a Festa do Sacrifício, num momento culminante da Peregrinação, ou Hajj."Abraão foi uma figura histórica, mitológica ou o resultado da colagem de várias tradições literárias? Os relatos que os livros sagrados contêm sobre esta personagem são fidedignos, ou uma montagem de diversas tradições orais? Poderemos considerá-lo um co-fundador grandes religiões monoteístas? E porque é que estas religiões se tentaram apropriar desta figura, e se apresentam como detentoras da verdade exclusiva da mensagem abraâmica? Será Abraão factor de unidade ou divisão entre os seguidores dos diversos monoteísmos?
Foi para tentar responder a muitas perguntas como estas que Bruce Feiler se lançou numa investigação/peregrinação pessoal em busca de Abraão, tendo viajado para a Terra Santa e entrevistado diversos lideres espirituais. O resultado desse trabalho foi um livro onde primeiramente se analisam as diferentes perspectivas das Escrituras Monoteístas, sobre a figura de Abraão, o seu conceito de Deus e os seus filhos; posteriormente a investigação alarga-se aos povos de Abraão (judeus, cristãos e muçulmanos), havendo espaço para entrevistas com lideres espirituais e visitas a diversos locais associados à vida daquele que é considerado o fundador do monoteísmo.
O autor descobre que as religiões monoteístas se apoderaram da figura de Abraão e reclamam possuir a verdade exclusiva da sua mensagem. É uma reivindicação que obrigas as religiões a adaptar Abraão à sua imagem. Seguidamente o autor perceber que essa imagem de Abraão varia no interior de cada religião, de acordo com a cultura e as gerações. Desta forma, deparamos com milhares de imagens mentais de Abraão, frequentemente incompatíveis entre si, salvo num aspecto: ele acreditava num Deus único e transcendente (posteriormente referido nos Textos Sagrados como “Deus de Abraão”).
Este livro foi publicado em Novembro do ano passado no nosso país (Ministério dos Livros). Recomendo-o vivamente a qualquer pessoa que queira perceber um pouco das origens e evoluções das religiões monoteístas.
NOTA: Apesar de não ser referido no livro, a religião Bahá'í considera Abraão como um Manifestante de Deus. Nas Suas Escrituras, Bahá'u'lláh alude a muitas tradições e escrituras islâmicas onde se menciona Abraão; no livro "Respostas a Algumas Perguntas" de 'Abdu'l-Bahá, existe um capítulo dedicado a Abraão.
4 comentários:
Com tanto fumo à volta da figura do "Pai Abraão", decerto deve haver por aí "fogo".Óptimo tema para estudo.Obrigado Marco.
Por acaso é pena que ele não refira a perspectiva baha'i sobre Abraão. é porque todas as religiões acrescentam algo sobre esta figura.
A capa do livro é muito bonita
Marco
não conhecia, mas vou procurar para comprar. o tema é realmente bastante interessante e não é muito comum aparecerem livros sobre...
bom fim de semana
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