Com as Epístolas de S. Paulo instala-se a teologia da Cruz, articulada em torno da pessoa de Cristo, que consente o sacrifício supremo: «Nós proclamamos um Cristo crucificado, escândalo para os Judeus e loucura par aos pagãos» (1ª carta aos Coríntios, 1:23). Infelizmente esta teologia degenerou, sobretudo a partir do século XI, com Santo Anselmo, numa concepção sacrificial sangrenta, segundo a qual o Filho teria vindo salvar os homens da cólera do Pai e do domínio do diabo, morrendo na cruz. O corolário desta concepção sadomasoquista do plano divino era o facto de que os verdadeiros discípulos de Cristo seriam aqueles que sofrem mais. Daí o fascínio mórbido que tantos cristãos tiveram pelo sofrimento – o dito «dolorismo». (p. 56-57)COMENTARIO:
Serão os Bahá’ís imunes a este fascínio pelo sofrimento? Será possível alcançar o sucesso sem sofrimento? Porque é que, em matéria religiosa, há quem prefira invocar o sacrifício dos crentes, em vez de enaltecer a sua dedicação e entusiasmo? Será que a dedicação apenas tem mérito quando há sacrifício?
Imagine-se um baha’i que decide ir viver para outro país com o objectivo de divulgar a Fé e ajudar a comunidade Baha’i a crescer (aquilo a que vulgarmente designamos por “pioneiro”). O que motiva esse crente será certamente uma atitude dedicação e entusiasmo para com a Fé Baha’i. Se, no país de destino, esse pioneiro enfrentar dificuldades (profissionais, culturais, etc) isso será uma consequência do seu entusiasmo e da sua dedicação. Para superar essas dificuldades, o pioneiro terá de fazer alguns sacrifícios (aceitar emprego mal remunerado, mudar alguns hábitos culturais,…).
Note-se que o objectivo da dedicação do pioneiro nunca foi o sacrifício, mas sim o serviço à Fé. O sofrimento é uma consequência (apenas possível) de uma atitude de dedicação e serviço.
Será que o sacrifício é mesmo necessário para o crescimento da Fé Bahá’í? Na minha perspectiva, o crescimento da comunidade Bahá’í necessita de dedicação e entusiasmo. O sofrimento pode surgir como consequência do entusiasmo e da dedicação. Mas o sofrimento só por si - sem a dedicação e entusiasmo - nunca será uma força dinamizadora do crescimento da Comunidade Bahá’í.
2 comentários:
Olá Povo de Bahá, bom dia. hoje às duas da manhã estava a tentar explicar a Fé Bahá'í a uma jovem, numa esplanada de café, e dei por mim a dizer que a palavra sacrifício não consta do meu vocabulário... porque pura e simplesmente não sei o que é. já tinha dito isto muitas vezes durante a minha vida e agora mais que nunca percebo que afinal essa palavra é isenta de significado. Quando alguém acredita num Mensageiro porque este foi apunhalado, fuzilado, crucificado ou outra morte violenta, e, há quem faça gala de dizer que o Mensageiro em que acreditam teve uma morte e uma de cruz, então questiono-me se esse foi o objectivo desse Mensageiro. Tudo quanto os Mensageiros disseram é que é de importância vital e não os Seus milagres ou mortes dolorosas, porque também houve Mensageiros que faleceram de velhice com alguma outra maleita que contraíram ao longo da vida. Os mártires de todas as religiões são respeitados e venerados pelos fiéis dessas religiões mas não podemos esquecer os "mártires vivos" que vivem sofrendo no seu dia a dia a descriminação por pertencerem a um grupo religioso diferente e terem de se submeterem a todas as ignomínias que lhes querem infligir o resto sociedade. São esses heróis vivos que devemos, segundo a minha perspectiva, respeitar e louvar enquanto nesta vida. sei que esta é uma opinião muito pessoal mas que por isso mesmo é de reflectir para ver se damos ou não valor aos nossos mártires que convivem (connosco vivem) o seu quotidiano e aos quais nem prestamos muita atenção.
Congratulações.
"Só queremos o bem do mundo e felicidade das nações"
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