domingo, 4 de abril de 2010

Sobre a crise na Igreja Católica

Excerto de um texto assinado por José Manuel Fernandes, ontem no jornal Público:
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Vale por isso a pena começar por tentar saber se o problema da pedofilia e dos abusos sexuais - um problema cuja gravidade ninguém contesta, ocorram num colégio católico, na Casa Pia ou na residência de um embaixador - tem uma incidência especial em instituições da Igreja Católica. Os dados disponíveis não indicam que tenha: de acordo com os dados recolhidos por Thomas Plante, professor nas universidades de Stanford e Santa Clara, a ocorrência de relações sexuais com menores de 18 anos entre o clero do sexo masculino é, em proporção, metade da registada entre os homens adultos. É mesmo assim um crime imenso, pois não deveria existir um só caso, mas permite perceber que o problema não só não é mais frequente nas instituições católicas, como até é menos comum. Tem é muito mais visibilidade ao atingir instituições católicas.

Uma segunda questão muito discutida é a de saber se existe uma relação entre o celibato e a ocorrência de abusos sexuais. Também aqui não só a evidência é a contrária - a esmagadora maioria dos abusos é praticada por familiares próximos das vítimas - como o tema do celibato é, antes do mais, um tema da Igreja e de quem o escolhe. Não existiu sempre como norma na Igreja de Roma e hoje esta aceita excepções (no clero do Oriente e entre os anglicanos convertidos). Pode ser que a norma mude um dia, mas provavelmente ninguém melhor do que o actual Papa para avaliar se esse momento é chegado - até porque talvez ninguém, no seio da Igreja Católica, tenha dedicado tanta atenção ao tema dos abusos sexuais e feito mudar tanta coisa como Bento XVI.

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COMENTÁRIO: Todo o texto é muito interessante e merece ser lido (está disponível aqui). Parece-me que há dois aspectos que escaparam a JMF:

1. Bento XVI (e as pessoas que o acompanham) tem um problema de comunicação. Isso ficou claro com o incidente de Ratisbona, com a nomeação do bispo Richard Williamson (que negava a existência do holocausto) e agora com o seu pregador Raniero Cantalamessa (ao fazer a comparação com os actuais ataques à Igreja e o ante-semitismo).
2. Bento XVI sempre esteve associado a uma imagem de teólogo austero e pouco simpático (recorde-se o seu papel à frente da Congregação para a Doutrina da Fé hostilizando "heresias" como a Teologia da Libertação e denunciado o que designava por "Ditadura do Relativismo").

Estes dois aspectos voltaram-se contra o líder da Igreja Católica na crise actual.

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