segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Carta aberta ao Irão pede o fim à opressão dos estudantes

Numa carta aberta dirigida a Kamran Daneshjoo - o ministro iraniano da Ciência, Investigação e Tecnologia - a Comunidade Internacional Bahá'í pediu o fim das "práticas injustas e opressivas" a que os Bahá’ís iranianos e outros jovens universitários são sujeitos. "Nesta carta afirma-se que é dever de cada pessoa adquirir conhecimentos para que possa contribuir, com os seus talentos e capacidades, para a melhoria da sociedade", disse Bani Dugal, representante da Comunidade Internacional Bahá'í nas Nações Unidas.

"É não só reprovável privar qualquer jovem do direito à educação, como ainda é contra todas as normas legais, religiosas, morais e humanitárias. Nenhum governo deve negar este direito fundamental e sagrado aos seus cidadãos."

A carta relata, principalmente, a história da campanha sistemática do Irão que, desde há 30 anos, nega aos jovens Bahá’ís a possibilidade de acederem ao ensino superior e a proibição de uma iniciativa informal da comunidade - conhecido como o Instituto Bahá'í de Educação Superior (BIHE) - que utiliza o trabalho voluntário de professores demitidos para ensinar os jovens Bahá'ís. A imprensa do Irão anunciou recentemente que o BIHE foi declarado ilegal.

Na carta pergunta-se: "Como é que um governo pode privar uma população de jovens cidadãos do acesso ao ensino superior e, em seguida, pronunciar como “ilegal” uma iniciativa privada, entre as suas famílias, para estudarem, em suas casas, assuntos como física e biologia, citando leis que são, na realidade, as que orientam o funcionamento das instituições educacionais do público em geral? "

"Por que é o governo tão implacável em face das diligências da juventude Bahá’í para aceder ao ensino superior? Não são os professores nas vossas universidades que incentivam os seus alunos a desenvolverem esse compromisso de aprendizagem?"

Fotos de 16 dos Baha'is colaboradores do BIHE detidos nas rusgas de Maio

POLÍTICA OFICIAL DO GOVERNO

A carta identifica as diversas estratégias utilizadas pelas autoridades iranianas ao longo dos anos para aplicar uma política oficial do governo que exclui os Bahá’ís das instituições de ensino superior.

Os Baha'is fazem o exame de admissão à universidade “apenas para descobrirem que foram desqualificados, pela afirmação totalmente falsa, de que os seus requerimentos estavam "incompletos". As Universidades recusam-se a matricular muitos daqueles que passaram no exame. Um pequeno número que consegue inscrever-se, porque a sua religião foi ignorada, são posteriormente expulsos. Em alguns casos particularmente cruéis, essas expulsões foram realizadas apenas algumas semanas ou dias antes da conclusão dos seus cursos."

"Para qualquer observador atento", afirma a carta, "é evidente que a única razão para que um pequeno número de jovens Bahá'ís sejam admitidos nas vossas universidades é apenas para permitir aos funcionários do vosso governo dizerem que não é proibido o acesso dos Bahá’ís ao ensino superior - uma reivindicação de uma hipocrisia flagrante”.

UM “NOVO GRAU DE SOFRIMENTO”

"E agora um novo grau de sofrimento abateu-se sobre os Bahá’ís", continua a carta, "no modo cruel como eles são tratados nos interrogatórios sobre o seu envolvimento informal, no esforço para a educação da juventude. Os indivíduos que colaboram com o programa educacional são ameaçados de prisão. Os pais, em cujas residências são leccionadas as aulas, são notificados de que as suas casas serão confiscadas se as aulas continuarem. E os alunos são advertidos de que não podem frequentar essas aulas e são informados de que nunca irão aceder ao ensino superior, a não ser que abandonem a sua fé e se declarem muçulmanos."

No entanto, observa a carta, quando os representantes do governo iraniano são confrontados com estes factos na arena internacional, afirmam que ninguém está privado de educação no Irão, por motivos religiosos. "É lamentável que os representantes da República Islâmica vendam repetidamente tais falsidades óbvias, minando ainda mais a credibilidade do seu governo. Quando é que os funcionários do governo iraniano porão fim à prática enraizada de dizer uma coisa aos Bahá’ís enquanto apresentam uma gama de garantias contraditórias no cenário global?"

Apesar de ser negado o ensino superior e nunca receberem qualificação formal, muitos estudantes do Instituto Bahá'í de Educação Superior destacaram-se a tal ponto que as universidades de outros países os aceitaram para a pós-graduação.

"O que provoca a admiração profunda dos professores e colegas daqueles que foram para o estrangeiro fazer esses estudos", diz a carta, "é a determinação evidenciada por estes estudantes para voltarem para o Irão após a conclusão dos seus estudos, apesar dos numerosos obstáculos que têm de enfrentar, e a sua disponibilidade para aceitar todo o tipo de dificuldades na sua ânsia de contribuir para o progresso do seu país ... "

"Porque é que tamanha dedicação para a melhoria do país não é reconhecida no Irão?" pergunta a Comunidade Internacional Bahá'í.

CONDENAÇÃO MUNDIAL

O último ataque ao Instituto Bahá'í de Educação Superior levantou um protesto a nível mundial. Os ataques de há três meses às casas do pessoal do IBES e aos membros do corpo docente, e a subsequente detenção de alguns deles, foi condenado nos parlamentos do Brasil, Canadá e Chile; censurado por altos ministros e parlamentares na Áustria, Alemanha, Irlanda, Nova Zelândia e Estados Unidos, provocou declarações de cidadãos proeminentes na Índia e de educadores na Austrália e no Reino Unido, e foram pedidas campanhas de protesto de organizações e indivíduos, que proliferam através das redes sociais online e junto dos campus universitários em todos os continentes.

A carta também relata casos em que muitos oficiais do governo, a quem os Bahá'ís apelavam para reparação das injustiças - incluindo os próprios funcionários do Ministério da Ciência, Investigação e Tecnologia – simpatizavam com os Baha'is mas diziam-lhes que tinham as mãos atadas por ordens dos seus superiores.

"Com esta carta, estamo-nos a juntar a todas aquelas pessoas de boa vontade que, em todo o mundo, estão a erguer as suas vozes em protesto", disse Bani Dugal.

"Estamos a dizer ao governo iraniano que esta injustiça e esta opressão devem terminar agora."

Ler a carta em inglês aqui.
Ler a carta em persa aqui.

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FONTE: Open letter to Iran calls for an end to oppression of students (BWNS)

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