terça-feira, 18 de novembro de 2014

A Morte da Dignidade no Irão

Artigo de Marjan Keypour Greenblatt, co-fundadora da Alliance for Rights of All Minorities (ARAM), publicado no Huffington Post.

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Haverá maior catástrofe do que a perda de uma criança? Para quem é Bahá’í em Tabriz (Irão) a morte de uma pessoa querida pode ser apenas o princípio de uma nova experiência devastadora.

Mahna Samandari
Há dezenas de milhares de anos que as civilizações praticam rituais para os falecidos. No entanto, em algumas regiões do Irão de hoje, as leis discriminatórias instituídas pela Republica Islâmica e uma cultura de preconceitos sociais impede que os membros da comunidade Bahá’í sepultem os seus entes queridos. Estas famílias em luto, já devastadas pela perda, arrastam-se num estado de agonia perpétua quando tentam encontrar um local onde possam sepultar os seus familiares falecidos.

A família Samandari lutou contra este drama. Durante três semanas, após o falecimento da sua filha de doze anos, Mahna, a família lutou pelo direito de a sepultar de acordo com a lei religiosa Bahá’í. Os pais de Mahna, ambos com deficiências físicas, não sofreram apenas a perda da sua jovem filha, mas também foram impedidos de se despedir dela de acordo com a sua tradição religiosa.

Originária do Irão, a Fé Bahá’í tem sido confrontada com desafios desde que surgiu em meados do séc. XIX; no entanto, os membros da comunidade sepultavam e faziam o luto pelos seus familiares sem grandes interferências. A Comunidade Bahá’í em Tabriz adquiriu um cemitério que foi posteriormente confiscado pelo governo. Desde Agosto de 2011, as autoridades impuseram novas restrições aos sepultamentos Bahá’ís que impediram a realização de - pelo menos - 20 funerais Bahá’ís.

Como alternativa, as autoridades exigem agora que a comunidade transfira os corpos para um cemitério em Urumia ou para a cidade de Mian-do-ab, localizada a 60 minutos de Tabriz. No entanto, o senso comum e as leis religiosas proíbem que se realizem funerais em locais afastados, especialmente para os Samandaris que são deficientes físicos e não podem viajar longas distâncias.

Ainda mais recentemente, faleceu uma idosa Bahá’í, Narges Khatoun Barghi, e aos membros da sua família foi negado a possibilidade de realizar o funeral de acordo com as tradições Bahá’ís. O seu corpo, juntamente com o de Mahna, forma mantidos na morgue de Vadi Rahmat (controlada pelo governo) enquanto os membros da família enlutada lutavam para perceber o sentido de uma cansativa burocracia de leis discriminatórias. Na procura de alguma solução, as famílias foram forçadas a continuar a sofrer apenas devido à sua fé e às políticas sem sentido que punem os mortos pela ofensa de morrer quando se é Bahá’í.

Um relatório divulgado recentemente confirmou que as autoridades acabaram por decidir sepultar estas pessoas na cidade distante Mian-do-ab, sem notificar as famílias sobre o seu destino. Não estavam presentes membros das famílias Samandari nem Barghi quando seus entes queridos foram levados por estranhos e sepultados. Não se despediram. Não fizeram as suas orações. Não tiveram o necessário funeral.

Não há muitas informações pessoais disponíveis sobre Narges Khatoun Barghi, mas sabemos que a menina de doze anos de idade, Mahna, sofria de uma forma de paralisia que lhe dificultava o uso das suas mãos. Apesar da sua deficiência, ela perseguiu a sua paixão pela arte e pintava com a boca. Artista talentosa e determinada, Mahna obteve o primeiro prémio em arte numa competição nacional.

A vida para Mahna não teria sido fácil se ela tivesse sobrevivido e tivesse chegado à idade adulta. Tal como três gerações da comunidade Bahá’í no Irão testemunharam, leis discriminatórias tê-la-iam impedido de entrar na universidade. Embora as Nações Unidas e as autoridades legais em todo o mundo considerem a educação como um direito humano básico, a liderança religiosa no Irão opta por negar este direito a segmentos da população.

Mas, para proibir as pessoas de ter um funeral apropriado nos seus próprios cemitérios simplesmente por causa do que eles acreditam? Isto é uma perda de dignidade humana que todas as pessoas decentes deveriam lamentar.

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TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS: Death of Dignity in Iran


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