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Haverá maior catástrofe do que a perda de uma criança? Para quem é Bahá’í em Tabriz (Irão) a morte de uma pessoa querida pode ser apenas o princípio de uma nova experiência devastadora.
Mahna Samandari |
A família Samandari lutou contra este drama. Durante três semanas, após o falecimento da sua filha de doze anos, Mahna, a família lutou pelo direito de a sepultar de acordo com a lei religiosa Bahá’í. Os pais de Mahna, ambos com deficiências físicas, não sofreram apenas a perda da sua jovem filha, mas também foram impedidos de se despedir dela de acordo com a sua tradição religiosa.
Originária do Irão, a Fé Bahá’í tem sido confrontada com desafios desde que surgiu em meados do séc. XIX; no entanto, os membros da comunidade sepultavam e faziam o luto pelos seus familiares sem grandes interferências. A Comunidade Bahá’í em Tabriz adquiriu um cemitério que foi posteriormente confiscado pelo governo. Desde Agosto de 2011, as autoridades impuseram novas restrições aos sepultamentos Bahá’ís que impediram a realização de - pelo menos - 20 funerais Bahá’ís.
Como alternativa, as autoridades exigem agora que a comunidade transfira os corpos para um cemitério em Urumia ou para a cidade de Mian-do-ab, localizada a 60 minutos de Tabriz. No entanto, o senso comum e as leis religiosas proíbem que se realizem funerais em locais afastados, especialmente para os Samandaris que são deficientes físicos e não podem viajar longas distâncias.
Ainda mais recentemente, faleceu uma idosa Bahá’í, Narges Khatoun Barghi, e aos membros da sua família foi negado a possibilidade de realizar o funeral de acordo com as tradições Bahá’ís. O seu corpo, juntamente com o de Mahna, forma mantidos na morgue de Vadi Rahmat (controlada pelo governo) enquanto os membros da família enlutada lutavam para perceber o sentido de uma cansativa burocracia de leis discriminatórias. Na procura de alguma solução, as famílias foram forçadas a continuar a sofrer apenas devido à sua fé e às políticas sem sentido que punem os mortos pela ofensa de morrer quando se é Bahá’í.
Um relatório divulgado recentemente confirmou que as autoridades acabaram por decidir sepultar estas pessoas na cidade distante Mian-do-ab, sem notificar as famílias sobre o seu destino. Não estavam presentes membros das famílias Samandari nem Barghi quando seus entes queridos foram levados por estranhos e sepultados. Não se despediram. Não fizeram as suas orações. Não tiveram o necessário funeral.
Não há muitas informações pessoais disponíveis sobre Narges Khatoun Barghi, mas sabemos que a menina de doze anos de idade, Mahna, sofria de uma forma de paralisia que lhe dificultava o uso das suas mãos. Apesar da sua deficiência, ela perseguiu a sua paixão pela arte e pintava com a boca. Artista talentosa e determinada, Mahna obteve o primeiro prémio em arte numa competição nacional.
A vida para Mahna não teria sido fácil se ela tivesse sobrevivido e tivesse chegado à idade adulta. Tal como três gerações da comunidade Bahá’í no Irão testemunharam, leis discriminatórias tê-la-iam impedido de entrar na universidade. Embora as Nações Unidas e as autoridades legais em todo o mundo considerem a educação como um direito humano básico, a liderança religiosa no Irão opta por negar este direito a segmentos da população.
Mas, para proibir as pessoas de ter um funeral apropriado nos seus próprios cemitérios simplesmente por causa do que eles acreditam? Isto é uma perda de dignidade humana que todas as pessoas decentes deveriam lamentar.
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TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS: Death of Dignity in Iran
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