Naturalmente, nesta época festiva do ano, as pessoas gostam de perguntar aos Bahá’ís se celebram (ou não) o Natal. E a resposta é simples: Não. Sim. Mais ou menos. Às vezes. Depende.
Isto não é exactamente uma resposta elucidativa, pois não?
A confusão aqui, acho eu, reside mais na própria pergunta do que na resposta. A minha resposta confusa acima é adequada para a pergunta "Os Bahá'ís celebram o Natal?" porque essa questão específica contém várias questões distintas mas relacionadas entre si.
Para esclarecer as coisas, pensei que podia tentar separar essas questões tanto quanto me fosse possível (com a ressalva de que estas respostas são baseadas na minha própria compreensão, que dificilmente é infalível). Assim, aqui ficam algumas perguntas que geralmente estão associadas à questão mais genérica sobre se os Bahá'ís celebram (ou não) o Natal, e minhas respostas a essas perguntas.
Os Bahá'ís acreditam em Cristo?
Sim, acreditamos.
Aqui fica um resumo da perspectiva Bahá'í sobre Jesus:
Quanto à posição do Cristianismo, diga-se sem qualquer hesitação ou equívoco que a sua origem divina é reconhecida incondicionalmente, que a Filiação e Divindade de Jesus Cristo são destemidamente declaradas, que a inspiração divina do Evangelho é plenamente reconhecida, que a realidade do mistério da Imaculabilidade da Virgem Maria é confessada, e o primado de Pedro, o Príncipe dos Apóstolos, é mantido e defendido. (Shoghi Effendi, The Promised Day is Come, pag. 109)O Fundador da Fé Cristã é referido por Bahá'u'lláh como o "Espírito de Deus", é proclamado como Aquele que "apareceu do sopro do Espírito Santo" e é enaltecido como a "Essência do Espírito". A Sua mãe é descrita como "aquele belíssimo semblante velado e imortal", e a condição do seu Filho elogiado como uma "condição que está enaltecida acima das imaginações de todos os que habitam na terra", enquanto Pedro é reconhecido como aquele a quem Deus fez "os mistérios da sabedoria e da expressão fluir da sua boca."
Além disso, Bahá’u’lláh afirmou: "Sabe que quando o Filho do Homem entregou o espírito a Deus, toda a criação chorou num grande pranto. Ao sacrificar-Se, porém, uma nova capacidade infundiu-se em todas as coisas criadas. As suas evidências, como se testemunha em todos os povos da terra, estão agora manifestas diante de ti. A sabedoria mais profunda que os sábios pronunciaram, o conhecimento mais profundo que qualquer mente explicou, as artes que as mãos mais hábeis produziram, a influência exercida pelo mais poderoso dos governantes, são apenas manifestações do poder vivificador libertado pelo Seu Espírito transcendente, omnipresente e resplandecente. Testemunhamos que quando Ele veio ao mundo, Ele derramou o esplendor da Sua glória sobre todas as coisas criadas. Através d’Ele, o leproso recuperou da lepra de perversidade e da ignorância. Através d'Ele o ímpio e rebelde foram curados. Através do Seu poder, nascido do Deus Todo-Poderoso, os olhos dos cegos abriram-se e a alma do pecador santificou-se… Ele é Quem purificou o mundo. Bem-aventurado o homem que, com um rosto radiante de luz, se volveu para Ele." (SEB, XXXVI)
Portanto, a resposta é sim. Nós veneramos e adoramos Cristo e acreditamos n’Ele como um Mensageiro Divino (Para mais informações sobre a relação entre a Fé Bahá'í e o Cristianismo, clique aqui.)
Os Bahá'ís celebram o Natal como comunidade religiosa?
Não. Nós aceitamos Cristo com todo o coração, e, portanto, honramos a celebração do Seu nascimento; mas a nossa comunidade não celebra o Natal. Também aceitamos e veneramos Moisés, Buda, Krishna, Zoroastro, Maomé e outros Mensageiros Divinos; mas se celebrássemos todos os seus nascimentos e outros dias santos associados a cada um deles... estaríamos em festa durante todo o ano. Por muito divertido que isso possa parecer, não tem muito sentido lógico. E também não faria sentido celebrar apenas alguns, e não outros. Assim, enquanto comunidade, apenas comemoramos os dias sagrados e feriados do calendário Bahá'í.
Mas os Bahá'ís PODEM celebrar o Natal?
Sim, não apenas entre Bahá’ís. Muitos de nós participamos alegremente nas celebrações de Natal organizadas pelas nossas famílias e amigos. Como indivíduos, somos livres de participar em quaisquer actividades religiosas que não interfiram directamente com os ensinamentos Bahá'ís. Na verdade, a partilha de tradições espirituais é uma das melhores maneiras de criar laços de comunhão e unidade entre pessoas de todas as fés. Isto é um dos ensinamentos centrais de Bahá'u'lláh: "Associai-vos com os seguidores de todas as religiões num espírito de amizade e camaradagem."
Então os Bahá'ís têm Árvores de Natal, fazem bolos de Natal, colocam enfeites de Natal, trocam prendas de Natal, etc.?
Talvez. Às vezes. Mais ou menos. Depende. Parte da confusão é que o Natal tornou-se um feriado cultural para muitas pessoas. Todos os ateus e agnósticos que conheço ainda montam Árvores de Natal, cantam canções de Natal, e trocam prendas de Natal. Para a maioria dos Cristãos, é um dia santo. Para pessoas não-religiosas, é um tempo para a família e para a tradição. Para os Bahá'ís, pode ser os dois e pode não ser nenhum; tudo depende da perspectiva. Isolar práticas culturais de práticas religiosas numa época festiva é o suficiente para deixar muita gente baralhada.
Conheço algumas famílias Bahá'ís que montam Árvores de Natal; mas diria que a maioria não o faz. Pessoalmente, adoro partilhar bolos. Alguns Bahá'ís oferecem presentes às suas famílias e círculos de amigos, especialmente aqueles cujas famílias não são Bahá'ís. Temos um grande feriado chamado Ayyam-i-Ha no final de Fevereiro, em que oferecemos presentes; por isso, normalmente guardamos as prendas maiores para essa época.
E o Pai Natal?
Tenho que reconhecer que vou escrever algo que pode irritar algumas pessoas. Como adulta e mãe, toda a história do Pai Natal me chateia (isto não é o ensinamento Bahá'í oficial, apenas para que fique claro!) Isso deve-se ao facto de muitas pessoas perguntarem constantemente aos meus filhos o que foi que o Pai Natal lhes deu. Nós não nos mascaramos de Pai Natal; por isso, a coisa fica estranha.
A outra parte é apenas a minha própria análise pessoal. Penso que São Nicolau (o verdadeiro) foi uma maravilhosa inspiração, dando generosamente aos pobres e salvando as meninas de terem de se prostituir. Mas o Pai Natal que temos na tradição - na minha opinião - não tem uma imagem assim tão perfeita. Primeiro, é suposto que ele apenas dá prendas às crianças que se portam bem. Lá se vai o ensinamento da generosidade para com todos. Em segundo lugar, em qualquer outro contexto, um velho que convida crianças que não conhece para se sentarem no seu colo e oferecendo-lhes doces é... esquisito. Em terceiro lugar, perguntar repetidamente às crianças o que elas querem para o Natal tende a perpetuar o materialismo e o consumismo que todos reclamam durante os feriados. Acho que seria preferível se o Pai Natal perguntasse às crianças o que elas gostariam de dar. Em quarto lugar, mentir às crianças para manter viva uma fantasia não faz sentido. Em quinto lugar, quando as tradições culturais se formam e, em seguida, se misturam com actividades comerciais e sentimentalismos nostálgicos, é muito fácil que estas se transformem em algo que lembra vagamente a ideia original; assim, acabamos por dizer que isso é uma importante tradição de longa data sem a questionar.
Eu sei, eu sei. É uma tradição inofensiva e eu sou uma velha rabugenta. Penso que é importante deixar as crianças terem as suas fantasias. Mas os nossos filhos têm vidas com muita fantasia (por vezes, demasiada) sem o Pai Natal. Eu cresci sem acreditar no Pai Natal, e apesar disso gostava desta época festiva. Por isso, não me parece que as crianças estejam a perder muita coisa...
Na verdade, e talvez ironicamente, eu adoro os filmes com o Pai Natal. Devo ter visto o Miracle on 34th Street uma dúzia de vezes quando era criança. E gostamos imenso dos filmes do Tim Clause sobre o Pai Natal. Deve ter sido desde que me tornei uma mãe excessivamente analítica que o alegre velho barbudo me sensibilizou.
E incomoda se as pessoas lhe desejam um Feliz Natal?
De maneira nenhuma. Pessoalmente, adoro todos os bons votos da época, e não entendo como as pessoas se podem ofender com isso. No entanto, o que eu realmente gostaria de ver era as pessoas a desejarem umas às outras votos de felicidade em qualquer época festiva. Desejar Feliz Natal aos seus amigos cristãos, um feliz Hanukkah aos seus amigos judeus, um feliz Kwanzaa aos seus amigos afro-americanos. Porque não há nada de errado em desejar boas festas. Tudo é dito com boa vontade, e eu penso que nós devemos tomá-lo como tal.
Portanto, agora que já expliquei como é que os Bahá'ís celebram o Natal de forma sim/não/mais ou menos/talvez/às vezes, e que já denegri completamente a amada instituição chamada Pai Natal, pergunto: o que faz a sua família no Natal?
Nós aproveitamos a festa e calor da época festiva, e maravilhamo-nos com as iluminações e as Árvores de Natal dos nossos amigos. Como eu disse, gostamos de filmes do Pai Natal porque às vezes as coisas que fazemos não fazem um sentido perfeito. Havarti é um grande fanático de LEGO, e nós temos uma cidade do inverno da LEGO que nós colocamos sobre um manto. Também sempre gostei de nozes, por isso temos uma pequena colecção de quebra-nozes usamos durante os meses de inverno. Também gosto de decorações com bonecos de neve, que eu penso que ajuda as crianças a não se sentirem estranhas por não terem algum tipo de decorações festivas no mês de Dezembro. Contamos às crianças as histórias de Hanukkah, da Natividade e da Kwanzaa, e participamos em quaisquer festividades para que sejamos convidados, e falamos sobre a importância de respeitar as celebrações de todos.
(...)
Espero que as coisas tenham ficado claras. Depois disto sinto uma vontade irresistível de escrever uma carta de desculpas ao Pai Natal. Coitado!
Que todos tenham um Feliz Natal, um Feliz Hanukkah, um feliz Kwanzaa, e uma época festiva calorosa (qualquer que seja a celebração!).
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Texto original: Do Bahá’ís Celebrate Christmas? (Motherhood and More)
10 comentários:
>MUITO OBRIGADO PELA EXCELENTE TRABALHO DESENVOLVIDO>,
UM ABRAÇO
SAAVEDRA
Obrigado, Saavedra
Obrigado amigo Marco.
Abraço, Siavash
Excelente texto, obrigada.
Partilho do mesmo pensamento.
Muito bem explicado, legal... Allah u abha!
Muito bem esplicado, legal! Allah u abha!
Muito Obrigado, Amigo Marco, por partilhares este texto, o qual, pela forma simples e clara como é apresentado, nos ajuda a sentir e viver esta época festiva, junto da família e amigos.
Fraterno abraço
J. Carlos
Excepcional artigo !
Gostei muito das observações sobre o Natal e Papá Natal!
Agrradecer a excelente explicação.
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