quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

BBC: O Homem por detrás da mais famosa Torre do Irão

Por Rozita Riazati.


Durante 45 anos o mais famoso monumento moderno iraniano - a Torre Azzadi ("Liberdade"), em Teerão - tem sido o cenário das principais notícias que saem do país.

Na praça, que tem servido para celebrações, aniversários, paradas militares e ponto de encontro de manifestações de massas, a torre (com 50 metros de altura) testemunhou alguns dos mais importantes acontecimentos políticos do Irão.

O edifício foi construído em 1971 para representar um símbolo da modernidade e projectar o caminho futuro do Irão.

Mesmo quando o projecto terminou, o arquitecto Hossein Amanat não esperava que “se tornasse um ícone, tão popular entre o povo do Irão”.

Originalmente designado "Memorial do Rei", ou Shahyad, estava planeado para assinalar os 2500 anos do Império Persa, celebrando a riqueza da história e cultura persa.

Hossein Amanat era uma estrela nascente no palco da arquitectura iraniana, quando, em 1966, ganhou o concurso nacional para desenhar o monumento.

O Arquitecto Hossein Amanat vive actualmente em Vancouver, no Canadá
Localizada na zona oeste de Teerão, na estrada que faz a ligação ao antigo aeroporto internacional, o monumento é feito de mármore branco e situa-se numa praça onde há jardins, fontes, um museu e um centro de exposições.

Em meados dos anos 1960, o Irão já era um grande exportador de petróleo, e isso levou o Xá Mohammad Reza Pahlavi a empreender um ambicioso programa de modernização e industrialização.

Durante esse período, a arte moderna no Irão estava a florescer. Era uma espécie de “mini-renascença”, afirma Amanat.

Artistas, poetas e músicos tentavam criar os seus próprios estilos originais, distintivos mas também recebendo inspiração do Ocidente. E no entanto também tinham os seus olhos em elementos tradicionais da cultura persa.

O sr. Amanat afirma que o estilo do Shahyad era também uma manifestação deste período: moderno mas muito persa, com aspectos de arquitectura pré e pós-islâmica.

A Torre foi inaugurada em 1971
A Torre Azzadi levou 30 meses a ser construída; foi inaugurada no Outono de 1971 e aberta ao público em 14 de Janeiro de 1972.

Nessa ocasião, o cilindro de Ciro, considerado por muitos historiadores como a primeira declaração de direitos humanos, foi emprestada pelo Museu Britânico para exibição no museu da Torre.

Símbolo do Irão

Durante a revolução de 1979, a praça ao redor da Torre tornou-se ponto de encontro de manifestantes; e essa atracção pelos que afirmam publicamente a sua dissidência continua até hoje.

Mais recentemente, as enormes manifestações que se seguiram às eleições presidenciais de 2009 chamaram milhares de pessoas à Torre Azzadi, onde exigiram uma recontagem dos votos.

O Sr. Amanat afirma que, de todos os acontecimentos que a Torre testemunhou, este foi “memorável”.

Para muito iranianos que vivem fora do Irão, este surpreendente rumo dos acontecimentos aparenta mostrar um lado diferente da nação.

Para o Sr. Amanat, as cenas eram simultaneamente pessoais e tocantes; afirma que o edifício era como "o abraço de um pai, que abraçava todas estas pessoas à sua frente".

Manifestantes junto à Torre Azadi,
durante a Revolução de 1979
O seu ímpeto histórico, acredita ele, está na evolução da Torre como “símbolo do Irão”, um ícone estético da capital que é intensamente iraniano e islâmico ao mesmo tempo.

Muito iranianos que deixaram o Irão durante ou após a revolução, saíram do país devido a uma grande diversidade de motivos: pessoais, políticos, religiosos ou devido a ligações com o antigo regime.

O Sr. Amanat também abandonou o Irão após a revolução e nunca mais voltou.

Apesar da Torre Azzadi ter sofrido estragos ao longo do tempo, o Sr. Amanat afirma que nunca foi abordado pessoalmente, nem nunca lhe foi pedida ajuda ou conselhos, sobre a sua manutenção.

Actualmente vive em Vancouver, no Canadá, onde criou uma bem-sucedida empresa de arquitectura e tem desenhado edifícios para todo o mundo.

Membro da Fé Bahá’í, a maior minoria religiosa do Irão, o Sr Amanat também foi o responsável pelo desenho do centro administrativo mundial da [Fé] Bahá'í, em Haifa, Israel.

Manifestantes junto à Torre Azzadi,
durante os protestos de 2009
Desde a revolução de 1979, os membros da comunidade Bahá’í no Irão têm sido privados de muitos dos seus direitos civis e centenas têm sido presos e até mesmo executados devido às suas crenças.

Muitos iranianos que vivem no Ocidente, incluindo os Bahá’ís, que desejam regressar e visitar a sua pátria têm medo de fazê-lo.

Sinto muitas saudades do Irão, o meu país, mas neste momento sinto que não quer lá ir”, afirma o Sr. Amanat.

Sente que a arquitectura do Irão é “única” e lamenta não ver mais do seu país quando ele tinha pouco mais de 30 anos.

Compensa isso com um livro especial que preenche com os seus próprios desenhos de importantes edifícios históricos iranianos e locais que visitou durante a sua infância.

Sonho sobre isso… na minha imaginação viajo muitas vezes [até lá]

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TEXTO ORIGINAL (em inglês): The man behind Iran's most famous tower (BBC)

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