Será que uma economia aberta e global implica migrações massivas e descontroladas de populações?
Por enquanto parece que sim, não é verdade?
O recente referendo do Brexit no Reino Unido focou-se muito nesta questão. Quando o Reino Unido aderiu à UE, aceitou a livre circulação de cidadãos europeus através das suas fronteiras e abdicou de controlo nacional sobre a imigração europeia. Como consequência de ser membro da UE e de ter relaxado as suas leis de imigração para outros países não europeus - como a Índia e o Paquistão - a população estrangeira nascida no Reino Unido cresceu tremendamente em duas décadas, de 3,8 milhões para 8,3 milhões de pessoas.
Isto foi deixando os Britânicos cada vez mais nervosos. Inicialmente o Reino Unido recebeu com agrado os migrantes porque a sua taxa de natalidade estava abaixo dos níveis de reposição e havia falta de mão-de-obra. Mas em 2008 deu-se a crise financeira e a criação de emprego praticamente acabou. E assim, de repente, os imigrantes e os britânicos competiam por trabalho - e muitos imigrantes aceitavam ordenados mais baixos. A taxa de desemprego subiu. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) do Reino Unido começou a perder muito dinheiro e outros programas da Segurança Social deram sinais de tensão. E da mesma forma que já tinha acontecido no passado, noutros lugares, começou uma reacção anti-imigrante.
Os políticos do Reino Unido viram a reacção e agarraram-na. Culparam a própria UE e os imigrantes em particular. Quando rebentou a guerra na Síria e as guerras americanas (ou por proxies) no Afeganistão e Iraque se intensificaram, milhões de pessoas fugiram para a Europa. O grupo Estado Islâmico formou-se, expandiu-se e atacou. E apesar da Alemanha e da Suécia terem concordado em aceitar a maior parte dos refugiados que estas guerras produziam, e o Reino Unido até hoje só ter recebido 4300 refugiados sírios, as forças do Brexit usaram imagens assustadoras de hordas de refugiados na sua campanha anti-UE. Foi essa campanha de medo que venceu.
Refugiados chegam à fronteira da Alemanha |
Praticamente todas as pessoas de todos os quadrantes políticos - representantes eleitos, estrategas políticos, economistas, planeadores, futuristas, especialistas de direitos humanos e especialistas de política internacional - concordam que um mundo aberto funciona melhor que um mundo fechado. Maior vigilância nas fronteiras, aumento de tarifas comerciais, militarização de zonas fronteiriças, restrições ao movimento de pessoas, bens, serviços e capitais - tudo contribui para uma economia global mais pobre, mais lenta, e altamente disfuncional. Quando o comércio, o capital e as pessoas se podem deslocar livremente no planeta, então o mundo funciona melhor; isto tem sido amplamente demonstrado em todo o mundo.
Esta situação tem levado os observadores e comentadores sensatos a uma conclusão inevitável: o mundo tem que encontrar uma forma de criar um sistema de governação global, que tenha o poder de regular e controlar o fluxo de refugiados e migrantes - e, primeiro que tudo, acabar com as crises e as guerras que causam estas devastadoras migrações forçadas.
Focando-se simultaneamente nos sintomas e na cura, uma autoridade global com poderes executivos poderia imediatamente cortar o fluxo de bens, dinheiro e recursos às nações beligerantes, forçando a cessação das hostilidades e das guerras civis. Poderia consolidar a aplicação da lei internacional ao realizar processos de negociação e consultas para resolver os diferendos. Poderia resolver disputas de longa data entre nações em conflito e eliminar totalmente a horrível praga da guerra. Poderia regular e racionalizar o controlo das migrações dos povos do mundo, proteger os direitos humanos dos refugiados assim como os direitos dos que se encontram em países de acolhimento. Poderia, se quiséssemos, construir o - há muito desejado - futuro global unificado da humanidade com o qual que poetas e profetas sonharam desde o início dos tempos:
Unificação da humanidade inteira é a marca distintiva da etapa que a sociedade humana actualmente se aproxima. A unidade da família, da tribo, da cidade-estado e da nação foram sucessivamente tentadas e completamente conseguidas. A unidade do mundo é o objectivo para o qual a humanidade aflita se encaminha. A construção de nações terminou. A anarquia inerente à soberania do Estado está a dirigir-se em direcção a um clímax. Um mundo em amadurecimento deve abandonar esse fetiche, reconhecer a unidade e a integridade das relações humanas e estabelecer, de uma vez por todas, o mecanismo que melhor possa concretizar este princípio fundamental da sua vida...
As rivalidades nacionais, os ódios e as intrigas cessarão e a animosidade e o preconceito raciais serão substituídos pela amizade, compreensão e cooperação raciais. As causas de conflitos religiosos serão eliminados permanentemente, barreiras e restrições económicas serão completamente abolidas, e a desmesurada diferença entre as classes será obliterada. A destituição por um lado, e excessiva acumulação de bens por outro, irá desaparecer. A enorme energia que se gasta e desperdiça na guerra, seja económica ou política, será consagrada a objectivos, como o alargamento do alcance das invenções humanas e do desenvolvimento técnico, ao aumento da produtividade da humanidade, ao extermínio da doença, à extensão de investigação científica, à melhoria do nível de saúde física, ao aperfeiçoamento e refinamento do cérebro humano, à exploração dos recursos insuspeitos e não utilizados do planeta, ao prolongamento da vida humana e à promoção de qualquer outro meio que estimule a vida intelectual, moral e espiritual de toda a raça humana. (Shoghi Effendi, The World Order of Baha’u’llah, p. 203)
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Texto original: Does an Open World Mean Mass Migration? (www.bahaiteachings.org)
Artigo Anterior: Ser Global, ser Cidadão do Mundo
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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