Foi feita menção em certos livros sobre um dilúvio que fez com que tudo o que existia na terra, registos históricos assim como outras coisas, fosse destruído. Além disso, ocorreram muitos cataclismos que eliminaram os vestígios de muitos eventos. (Bahá’u’lláh, SEB, LXXXVII)Todos conhecemos a história de Noé e do dilúvio. Originalmente surgiu na tradição judaico-cristã, certo?
As mudanças climáticas antropogénicas não são inevitáveis; a humanidade escolhe as suas relações com o mundo natural. (The Baha’i International Community, Shared Vision and Shared Volition - Choosing Our Global Future, Statement to the Paris Climate Conference, December, 2015)
Não. A conhecida história de Noé no Génesis apenas representa uma das muitas versões de uma antiga narrativa.
A maioria das religiões mundiais – e antigas civilizações – apresenta alguma variante do conhecido mito do dilúvio. Provavelmente iniciou-se na antiga região agrícola da Mesopotâmia, naquilo que os historiadores designam como o antigo período Babilónico, vinte séculos antes de Cristo, muito antes da revelação da Torá. Temos pelo menos nove versões do mito do dilúvio que precedem o de Noé; o primeiro é conhecido como o Dilúvio Sumério. A mais conhecida destas histórias – o Épico de Gilgamesh, a mais antiga obra literária da humanidade – data de 2100 a.C. Nessa história, o papel de Noé é desempenhado por um imortal chamado Utnapishtim, que significa “aquele que encontrou a vida”.
Assim, praticamente todas as culturas têm uma história sobre o dilúvio. Estes mitos do dilúvio vieram da Mesopotâmia, da mitologia grega, do Génesis (na Torá), da mitologia nórdica, de fontes Hindus na Índia, do Alcorão, e de muitos povos indígenas como os Maias e os grupos tribais Ojíbuas nas Américas. O que poderia ter inspirado essa história tão conhecida?
As gigantescas inundações que se seguiram ao último período glacial, que terminou há cerca de 10.000 anos, podem ser a fonte destes mitos culturais persistentes e muito difundidos. Durante esse período, o Homo Sapiens migrou do seu lar original em África, e começou a habitar as regiões quentes da Terra. Quando o último período glacial terminou e o mundo começou a aquecer, os glaciares que cobriam grande parte do Hemisfério Norte derreteram e recuaram.
Com a água do degelo dos glaciares formaram-se grandes mares interiores, muito maiores que o Lago Baikal (Rússia) ou os Grandes Lagos (EUA). O nível dos mares subiu rapidamente, inundando vastas áreas anteriormente secas e redesenhando as linhas costeiras. Podemos imaginar como as diversas culturas desenvolveram as suas histórias sobre o dilúvio se pensarmos nas inundações catastróficas criadas pelo degelo dos glaciares.
Os cientistas acreditam que a humanidade está prestes a enfrentar grandes inundações, recuo dos glaciares e aumento do nível dos mares, tudo causado pelo aquecimento da Terra resultante das alterações climáticas. E pensam que isto acontecerá muito mais rapidamente.
Na verdade, um novo estudo realizado por oito cientistas especializados em clima publicado na prestigiada revista Nature descobriu que as elevadas e continuadas emissões de gases de efeito de estufa podem provocar a desintegração das duas maiores camadas de gelo em algumas décadas, lançando água suficiente no oceano para fazer subir o nível dos mares 1 a 2 metros, em 2100. Se isto acontecer, obrigaria a deslocar metade da população mundial, criando um enorme caos e sofrimento, e causado um tremendo prejuízo económico.
Os investigadores também descobriram que o aumento do nível do mar poderia aumentar exponencialmente no próximo século, a um ritmo superior a 30 cm por década. Os cientistas documentaram esses aumentos rápidos num passado geológico distante, quando camadas de gelo muito maiores entraram em colapso; mas a maioria dos cientistas assumia que que seria impossível chegar a cadências tão extremas com as pequenas camadas de gelo que agora existem na Groenlândia e na Antárctida. Essa suposição revelou-se falsa; isso que significa a humanidade enfrentará uma inundação catastrófica de proporções míticas num futuro próximo.
Os cientistas que escreveram o novo relatório basearam as suas conclusões em melhoramentos feitas num modelo computorizado da Antárctida que inclui factores recentemente descobertos que põem em risco a estabilidade da maior camada de gelo do mundo. A nova ferramenta de modelação por computador permite que os cientistas, pela primeira vez, reproduzam os elevados níveis do mar no passado. Agora é possível seguir com precisão os níveis do mar imediatamente após a última Era Glacial, quando estes eram muito mais elevados do que os seus níveis actuais, e usar esses níveis para criar um modelo dos efeitos do derretimento das calotas polares num futuro próximo.
Como pode a humanidade evitar os piores efeitos desta crise provocada pelo ser humano?
Os Bahá’ís acreditam na concordância entre ciência e religião; como consequência, os ensinamentos Bahá’ís apresentam soluções viáveis para estes tremendos problemas globais:
A religião e a ciência apresentam perspectivas complementares na formação da vida colectiva e individual. Ambas influenciam as escolhas e as prioridades, e ambas são necessárias para organizar de forma justa e sustentável os assuntos da humanidade.
Abordar as alterações climáticas globais é um trabalho que, em última análise, gira em torno do propósito de vidas humanas bem vividas. Isto é um objectivo acalentado por povos, culturas e religiões em todo o mundo. Nele podemos encontrar um poderoso ponto de unidade que pode apoiar o trabalho que temos pela frente. (The Baha’i International Community Statement to the Lima, Peru Climate Change Conference, 2008)O que significa a frase “vidas humanas bem vividas”? No próximo texto vamos ver a definição Bahá’í para este termo e explorar algumas das suas implicações mais profundas para a resolução de problemas para a crise da subida dos níveis dos mares.
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Texto original: Deluge and Cataclysm: What Happens when the Oceans Rise? (www.bahaiteachings.org)
Artigo anterior: O Materialismo e o próximo Dilúvio
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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