domingo, 14 de agosto de 2016

Dilúvio e Cataclismo: o que acontece com a subida do nível do Mar?

Por David Langness.


Foi feita menção em certos livros sobre um dilúvio que fez com que tudo o que existia na terra, registos históricos assim como outras coisas, fosse destruído. Além disso, ocorreram muitos cataclismos que eliminaram os vestígios de muitos eventos. (Bahá’u’lláh, SEB, LXXXVII)

As mudanças climáticas antropogénicas não são inevitáveis; a humanidade escolhe as suas relações com o mundo natural. (The Baha’i International Community, Shared Vision and Shared Volition - Choosing Our Global Future, Statement to the Paris Climate Conference, December, 2015)
Todos conhecemos a história de Noé e do dilúvio. Originalmente surgiu na tradição judaico-cristã, certo?

Não. A conhecida história de Noé no Génesis apenas representa uma das muitas versões de uma antiga narrativa.

A maioria das religiões mundiais – e antigas civilizações – apresenta alguma variante do conhecido mito do dilúvio. Provavelmente iniciou-se na antiga região agrícola da Mesopotâmia, naquilo que os historiadores designam como o antigo período Babilónico, vinte séculos antes de Cristo, muito antes da revelação da Torá. Temos pelo menos nove versões do mito do dilúvio que precedem o de Noé; o primeiro é conhecido como o Dilúvio Sumério. A mais conhecida destas histórias – o Épico de Gilgamesh, a mais antiga obra literária da humanidade – data de 2100 a.C. Nessa história, o papel de Noé é desempenhado por um imortal chamado Utnapishtim, que significa “aquele que encontrou a vida”.

Assim, praticamente todas as culturas têm uma história sobre o dilúvio. Estes mitos do dilúvio vieram da Mesopotâmia, da mitologia grega, do Génesis (na Torá), da mitologia nórdica, de fontes Hindus na Índia, do Alcorão, e de muitos povos indígenas como os Maias e os grupos tribais Ojíbuas nas Américas. O que poderia ter inspirado essa história tão conhecida?

As gigantescas inundações que se seguiram ao último período glacial, que terminou há cerca de 10.000 anos, podem ser a fonte destes mitos culturais persistentes e muito difundidos. Durante esse período, o Homo Sapiens migrou do seu lar original em África, e começou a habitar as regiões quentes da Terra. Quando o último período glacial terminou e o mundo começou a aquecer, os glaciares que cobriam grande parte do Hemisfério Norte derreteram e recuaram.

Com a água do degelo dos glaciares formaram-se grandes mares interiores, muito maiores que o Lago Baikal (Rússia) ou os Grandes Lagos (EUA). O nível dos mares subiu rapidamente, inundando vastas áreas anteriormente secas e redesenhando as linhas costeiras. Podemos imaginar como as diversas culturas desenvolveram as suas histórias sobre o dilúvio se pensarmos nas inundações catastróficas criadas pelo degelo dos glaciares.

Os cientistas acreditam que a humanidade está prestes a enfrentar grandes inundações, recuo dos glaciares e aumento do nível dos mares, tudo causado pelo aquecimento da Terra resultante das alterações climáticas. E pensam que isto acontecerá muito mais rapidamente.

Na verdade, um novo estudo realizado por oito cientistas especializados em clima publicado na prestigiada revista Nature descobriu que as elevadas e continuadas emissões de gases de efeito de estufa podem provocar a desintegração das duas maiores camadas de gelo em algumas décadas, lançando água suficiente no oceano para fazer subir o nível dos mares 1 a 2 metros, em 2100. Se isto acontecer, obrigaria a deslocar metade da população mundial, criando um enorme caos e sofrimento, e causado um tremendo prejuízo económico.

Os investigadores também descobriram que o aumento do nível do mar poderia aumentar exponencialmente no próximo século, a um ritmo superior a 30 cm por década. Os cientistas documentaram esses aumentos rápidos num passado geológico distante, quando camadas de gelo muito maiores entraram em colapso; mas a maioria dos cientistas assumia que que seria impossível chegar a cadências tão extremas com as pequenas camadas de gelo que agora existem na Groenlândia e na Antárctida. Essa suposição revelou-se falsa; isso que significa a humanidade enfrentará uma inundação catastrófica de proporções míticas num futuro próximo.

Os cientistas que escreveram o novo relatório basearam as suas conclusões em melhoramentos feitas num modelo computorizado da Antárctida que inclui factores recentemente descobertos que põem em risco a estabilidade da maior camada de gelo do mundo. A nova ferramenta de modelação por computador permite que os cientistas, pela primeira vez, reproduzam os elevados níveis do mar no passado. Agora é possível seguir com precisão os níveis do mar imediatamente após a última Era Glacial, quando estes eram muito mais elevados do que os seus níveis actuais, e usar esses níveis para criar um modelo dos efeitos do derretimento das calotas polares num futuro próximo.

Como pode a humanidade evitar os piores efeitos desta crise provocada pelo ser humano?

Os Bahá’ís acreditam na concordância entre ciência e religião; como consequência, os ensinamentos Bahá’ís apresentam soluções viáveis para estes tremendos problemas globais:

A religião e a ciência apresentam perspectivas complementares na formação da vida colectiva e individual. Ambas influenciam as escolhas e as prioridades, e ambas são necessárias para organizar de forma justa e sustentável os assuntos da humanidade.
Abordar as alterações climáticas globais é um trabalho que, em última análise, gira em torno do propósito de vidas humanas bem vividas. Isto é um objectivo acalentado por povos, culturas e religiões em todo o mundo. Nele podemos encontrar um poderoso ponto de unidade que pode apoiar o trabalho que temos pela frente. (The Baha’i International Community Statement to the Lima, Peru Climate Change Conference, 2008)
O que significa a frase “vidas humanas bem vividas”? No próximo texto vamos ver a definição Bahá’í para este termo e explorar algumas das suas implicações mais profundas para a resolução de problemas para a crise da subida dos níveis dos mares.

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Texto original: Deluge and Cataclysm: What Happens when the Oceans Rise? (www.bahaiteachings.org)
Artigo anterior: O Materialismo e o próximo Dilúvio

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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