A morte é uma parte inevitável da vida. É frequente as crianças terem consciência da morte desde cedo nas suas vidas quando ouvem falar disso nos contos de fadas, vêem na televisão ou encontram animais mortos. Algumas crianças podem já ter experimentado a morte de um animal de estimação ou membro da família, ou podem ter sido diagnosticadas com uma doença terminal.
No meu caso, a minha filha tinha 4 anos quando reparou num pássaro morto no passeio. O que se seguiu foi um bombardeamento com perguntas sobre a morte. Ela andava obcecada com o tema há alguns meses, tentando perceber o problema de várias perspectivas. Perguntei a outros pais se tinham tido alguma experiência semelhante; fiquei interessada ao saber que a maioria das crianças, a determinado momento, fica curiosa sobre a morte.
Ao responder às perguntas da minha filha sobre a morte tentei alinhar as minhas respostas com os Ensinamentos Bahá’ís. Shoghi Effendi, dá a seguinte explicação sobre a morte:
Você pede uma explicação sobre o que nos acontece depois de deixarmos este mundo: Esta é uma pergunta a que nenhum dos profetas alguma vez respondeu detalhadamente, muito simplesmente porque não se pode transmitir à mente de uma pessoa algo completamente diferente de tudo ela já experimentou. 'Abdu'l-Bahá deu o exemplo maravilhoso da comparação desta vida com a vida do além como sendo semelhante à vida da criança no útero; desenvolve olhos, ouvidos, mãos, pés, uma língua, e ainda assim não tem nada para ver ou ouvir, não pode caminhar, compreender as coisas ou falar; todas estas capacidades são desenvolvidas para usar neste mundo. Se tentasse explicar a um embrião como é este mundo, ele nunca poderia entender; mas entende quando nasce e as suas capacidades podem ser usadas. Portanto, não podemos imaginar o nosso estado no mundo do além. Tudo o que sabemos é que a nossa consciência, a nossa personalidade, perdura num novo estado, e que esse mundo é tão melhor do que o actual, quanto este é melhor que do que o do ventre escuro da nossa mãe...(Lights of Guidance, From a letter written on behalf of Shoghi Effendi to an individual believer, October 3, 1943)Considero a comparação com a criança no ventre uma analogia poderosa., pois é um modelo prático e intuitivo para responder às questões da minha filha. Elaborei uma lista de perguntas e respostas. Apesar deste assunto vasto poder ser abordado de diferentes formas, espero que as minhas respostas possam ajudar e constituam um ponto de partida para quem deseja explorar com as crianças o tema da morte.
QUESTÃO: O que acontece quando as pessoas morrem?
RESPOSTA: As pessoas nascem para o outro mundo. Quando os bebés estão no ventre das mães, estão ligados a uma coisa chamada placenta. A placenta tem um cordão que se liga ao umbigo do bebé e através disso ele come e respira., pois não pode usar a boca. Quando o bebé nasce, já não precisa da placenta, porque pode usar a boca para comer e respirar. Os nossos corpos são como a placenta; quando nascemos para o outro mundo não necessitamos mais dos nossos corpos e a nossa alma (que é como o bebé no ventre) nasce no outro mundo.
Tal como o bebé que tem de crescer no ventre para estar pronto para este mundo, nós também precisamos de alimentar a nossa alma, e garantir que ela fica forte e saudável para o outro mundo. Alimentamo-la mostrando generosidade, bondade e todas as virtudes de Deus.
QUESTÃO: Voltamos a este mundo?
RESPOSTA: Imagina que alguém te dizia para voltares para a barriga da tua mãe, onde não há luz, não podes correr nem ver coisas? Voltavas para lá? Claro que não! Tal como o bebé que nasce e não volta ao ventre, nós também não voltamos a este mundo.
PERGUNTA: Que aspecto tem o outro mundo?
RESPOSTA: Ninguém sabe. Bahá’u’lláh diz-nos que o outro mundo é um lugar belíssimo onde as nossas almas serão livres. No entanto, é-nos dito que não conseguimos sequer imaginar que aspecto tem o outro mundo. Imaginem o que seria explicar a um bebé na barriga da mãe o que são as árvores e o que é a luz. O bebé apenas conhece o mundo escuro no ventre e nunca conseguiria imaginar o mundo exterior.
PERGUNTA: E se eu morrer não conhecer ninguém no outro mundo?
RESPOSTA: Quando a criança está no ventre da mãe, não conhece ninguém. Quando nasce, Deus dá-lhe uma família amorosa e amigos. Se um bebé tivesse muito medo e dissesse “Não quero nascer!” perderia a oportunidade de conhecer toda a sua família e amigos. Existem muitas almas esplendorosas no outro mundo à espera de conhecer todos os que nascem.
'Abdu'l-Bahá, que era amoroso e generoso para todos aqueles que O encontravam, tomará conta de qualquer pessoa que no outro mundo tenha medo ou esteja só. Ele ficará com ela à espera que a sua família e amigos cheguem
PERGUNTA: Quando é que eu vou morrer?
RESPOSTA: Ninguém sabe quando vai nascer para o outro mundo. Deus decide quando uma alma tem saúde e está pronta para o outro mundo; ou se Deus vê que uma alma não está a progredir correctamente neste mundo, Ele leva-a para o outro mundo para a ajudar a crescer. A maioria das pessoas morrer quando está velha.
PERGUNTA: E se a minha família morrer?
RESPOSTA: Quando eras um bebé no ventre da mãe, não podias ver a tua família; mas eles estavam sempre contigo, cuidando de ti e esperando pacientemente que tu nascesses. Se eles morrerem, tal como quando tu estavas no ventre da mãe e não podias vê-los, eles continuarão contigo, tomarão conta de ti e estarão à espera que tu nasças no outro mundo. Podes sempre comunicar com eles através da oração.
PERGUNTA: Os animais vão para o outro mundo?
RESPOSTA: Os animais não têm alma; portanto, ao contrário dos seres humanos, não nascem no outro mundo. No entanto, todas as coisas, incluindo os animais, têm com eles um atributo de Deus, e estes atributos de Deus são eternos.
Estas são algumas ideias sobre a vida depois da morte que partilhei com minha filha. Se procura mais informação sobre como falar com crianças sobre a morte, a obra The Light World de Heather Niderost é um livro pequeno e belíssimo, escrito com esse propósito. Se estiver interessado em ler algumas reflexões sobre o outro mundo, Preethi escreveu Contemplating Death e Iko também explorou alguns princípios Bahá’ís sobre o assunto. Como é que você descreveria a morte a uma criança ou a alguém que não estivesse familiarizado com estas crenças?
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Texto original: Explaining Death to Children (www.bahaiblog.net)
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Kamelia é Bahá’í e mãe de duas crianças. Estudou Direito, Contabilidade e Apoio Infantil. Tem um interesse especial em Estudos Bahá’ís e Educação Infantil.
1 comentário:
Linda, esta explicação, vou partilhar com outros amigos e conhecidos.
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