Vamos analisar
três questões relacionadas que o meu amigo ateu, "Maynard", colocou a
respeito de Deus. As duas primeiras são:
Deus pode mudar o passado? e Deus conhece o futuro?
Essas
questões envolvem não só as nossas concepções de Deus, mas também a nossa
concepção de tempo, uma dimensão que entendemos talvez menos bem do que as
outras. De facto, deparamo-nos com problemas relacionados com o tempo quando
tentamos medir simultaneamente a velocidade e a localização de um objecto.
Graças ao cientista Werner Heisenberg, sabemos que quando tentamos fazer isso,
o próprio acto de medição afecta o objecto a ser medido. Por exemplo: um filme
é projectado a uma determinada velocidade; podemos isolar uma única imagem (“frame”) desse filme... mas como
consequência já não podemos medir a velocidade do filme.
Isto tem
todo o tipo de ramificações. Se tentarmos observar um arco (falando metaforicamente)
apenas podemos identificar um único ponto. Heisenberg provou que apenas podemos
medir a velocidade ou a localização de uma entidade. Não podemos medir ambos.
Não podemos ver o universo por mais de um ponto de vista. Deus - teorizou o meu
filho quando estudava física na escola - pode ser capaz de ver não apenas
pontos individuais, mas também arcos e ondas, incluindo o arco de tempo.
Em resposta
à pergunta de Maynard, eu poderia admitir que Deus pode mudar o passado. Mas
porque o faria? Os seres humanos por vezes desejam fazer isso, porque não têm
qualquer noção sobre o que podem aprender com o passado. Numa maravilhosa história
de amor, Bahá'u'lláh descreve n’Os Sete Vales os amantes separados, Majnun e
Layli, que sentem saudades um do outro. Majnun passa por uma série de
calamidades que por fim o levam ao jardim de Layli, onde os amantes finalmente
se reúnem. Majnun percebe que a sua vontade mal informada em reescrever o
passado (de modo a não ter que experimentar a calamidade) teria evitado o próprio
encontro com sua amada.
Reescrever o
passado significa que perdemos as lições que ali aprendemos - e nunca saberíamos
a diferença.
A segunda destas
questões pergunta se Deus conhece o futuro. As declarações de Bahá'u'lláh e de 'Abdu'l-Bahá
sobre o futuro indicam certos arcos ao longo do tempo - Objectivos Divinos,
podemos dizer – ocorrem de forma pré-determinada. Por exemplo: Deus coloca em
movimento a revelação progressiva da religião e da maturação da humanidade de
selvagem para civilizada, de material para espiritual, de irracional para
racional, do egoísta para altruísta. Como é que acontece, quanto tempo demora e
quanto sofrimento exige - isso depende de nós. Podemos apenas ficar sentados,
desejando ou rezando pela unidade mundial, pela paz e pela compaixão, ou
podemos aprender as competências necessárias para as alcançar e pô-las em
prática.
Na minha
escrita encontro uma analogia para isto. Em cada história que escrevo, existem momentos
onde eu e as minhas personagens devemos tomar decisões sobre as suas linhas de
acção. Sei que há certas coisas que devem acontecer no livro antes da trama se
revelar completamente, mas a forma como as minhas personagens chegam ao momento
final muda à medida que eles navegam pelos diferentes pontos de viragem da
história. É claro que eu tenho uma visão na perspectiva de criadora de tudo isto;
assim, posso ver vários rumos que a acção pode tomar e que conduzem aos pontos-chave
que eu sei que devem ocorrer. Curiosamente, se eu fizer as coisas "correctamente",
as interacções entre as personagens vão definir o seu rumo ao longo da história,
em vez de ser eu a forçar uma determinada sequência de eventos.
Quando se trata
de Deus e do futuro, nenhum ser humano pode responder a esta pergunta com qualquer
certeza. Como é que um ser que só pode ver pontos responde a perguntas que se
relacionam com o arco? É como se uma das minhas personagens num livro
perguntasse a outra: "Sabes que existe um Escritor lá fora, que sabe exactamente
o que eu vou dizer na página 123?"
No meu caso,
a resposta é "não". Eu ainda não sei o que a minha personagem vai
dizer na página 123, mas sei que ela, à sua própria maneira, vai ajudar a história
a desenvolver-se. Será que Deus trabalha assim? Só Deus sabe. Além disso, os
Seus educadores, os fundadores das religiões mundo, só podem dizer-nos aquilo
que temos capacidade para entender.
E isto leva-nos
à pergunta nº 6: Deus sabe absolutamente
tudo o que acontece a cada momento, incluindo todos os pensamentos de todos os
seres?
Esta questão
lida com a omnisciência de Deus com relação ao tempo. Os seres humanos, com os
nossos pontos de vista singulares e limitações perceptivas e intelectuais, não
podem, por definição, ter alguma experiência da omnisciência. Nenhuma. Podemos
ficar irritados com isso, mas é mesmo assim.
Penso que o
personagem de ficção científica, Buckeroo Banzai, descreveu isso de forma
eloquente quando disse: "Lembra-te, não importa para onde vais, lá estás."
Nós só temos o nosso ponto de vista singular, aquele microscópico "você
está aqui" num mapa do cosmos. Não podemos saber o que um Ser
super-eminente sabe ou não sabe, a menos que Ele nos diga (talvez o Seu Emissário
nos diga), porque nós não temos capacidade para fazer mais do que imaginar o
que significa a omnisciência.
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Texto original: Can God Change thePast? (www.bahaiteachings.org)
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Maya
Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção
científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora
(juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View
Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na
www.commongroundgroup.net.
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