Por Marvin Holladay.
Ser músico e
ser Bahá’í permite-me ter duas perspectivas que prendem a minha atenção –
especialmente quando convergem.
Os
ensinamentos Bahá’ís dizem muito sobre a música e o seu impacto arrebatador na
alma humana:
Tornámos legítimo para vós ouvir
música e canto. Acautelai-vos, porém, para que a sua audição não vos leve a
ultrapassar os limites da conveniência e da dignidade. Que o vosso prazer seja
o prazer nascido do Meu Mais Grandioso Nome, um nome que trouxe arrebatamento
ao coração e encheu de êxtase as mentes daqueles que se aproximaram de Deus. Em
verdade, fizemos da música uma escada para as vossas almas, um meio pelo qual elas
se possam elevar ao reino no alto; não a façais, pois, como asas para o ego e a
paixão. Em verdade, repugna-nos ver-vos contados entre os insensatos. (Bahá’u’lláh,
The Most Holy Book, ¶ 51)
Com isto em
mente, vamos ver no dicionário a definição de quatro palavras-chave nesta
citação: conveniência, dignidade, ego e paixão:
Conveniência: o que convém a alguém; qualidade do que é apropriado ao fim a que se
destina; adequação; conformidade; pertinência; vantagem; interesse; proveito;
Dignidade: título ou cargo que confere
a alguém uma posição elevada; cargo honorífico; honraria; qualidade moral que
infunde respeito; respeitabilidade; autoridade moral; decência; gravidade; modo
digno de proceder; atitude nobre; nobreza; grandeza; consciência do próprio
valor; pundonor;
Ego: o ser enquanto entidade consciente;
auto-estima;
Paixão: sentimento intenso e geralmente
violento (de afecto, ódio, alegria, etc.) que dificulta o exercício de uma lógica
imparcial; objecto desse sentimento; grande predilecção; parcialidade; grande
desgosto; sofrimento intenso;
Obviamente,
estas palavras têm muitas conotações com coisas em que podemos pensar quando
vemos o que se passa hoje no mundo da música.
É verdade
que não estamos no século 19, mas no século 21. No entanto, os ensinamentos Bahá’ís pedem-nos que clarifiquemos as definições que seguimos – as que vêm do
nosso Criador ou as definições mais correntes e populares prontamente
disponíveis para todos nós através de vários meios, nomeadamente a TV, o
cinema, a literatura e também a música.
Músicos e
artistas Bahá’ís vêem o nosso papel como expoentes de uma Nova Ordem Mundial.
Fazemos música para elevar a alma humana “ao reino no alto”, o que ajuda a criar
unidade e harmonia entre a humanidade. Esse caminho não se encontra numa
qualquer tendência popular à nossa volta, mas compete-nos criar uma sinfonia e
um coro diversificado de novas vozes para estes novos tempos que abraçámos:
A arte da música deve ser levada aos
mais altos níveis de desenvolvimento. Pois esta é uma das mais maravilhosas
artes e nesta era gloriosa do Senhor da Unidade é essencial conseguir o seu
domínio. No entanto, devemos esforçar-nos por conseguir um grau de perfeição
artística e não ser como aqueles que deixam os assuntos por acabar.
(‘Abdu’l-Bahá, de uma epístola traduzida do persa)
O grande
humanista Albert Schweitzer fez um estudo sobre Bach e escreveu:
Com Bach, a música é um acto de
adoração. A sua actividade artística e a sua personalidade baseiam-se ambas na
sua piedade. Toda a grande arte, mesmo a secular, é em si religiosa aos seus
olhos, pois para ele, os sons não morrem, mas ascendem a Deus como louvores
demasiado profundos para serem proferidos.
Schweitzer
prossegue citando as regras e princípios de acompanhamento que Bach prescreveu
aos seus alunos:
Tal como em toda a música, o baixo
figurado (que era o princípio harmónico da música) não deve ter outro fim e
propósito senão a glória de Deus e a recriação da alma; se não se tem isto em
mente, não há verdadeira música, mas apenas ruídos e gritos infernais.
Acho muito interessante perceber que a referência de Bach
àquilo à verdadeira música, se assemelhe aos comentários de Bahá’u’lláh e
‘Abdu’l-Bahá, feitos 200 anos depois. Os ensinamentos Bahá’ís designam a música
como “o alimento espiritual de corações e almas”:
Entre as nações do Oriente, a música
e a harmonia não eram aprovadas, mas a Luz Manifesta, Bahá’u’lláh, neste
período glorioso revelou em Epístolas Sagradas que o canto e a música são o
alimento espiritual de corações e almas. Nesta dispensação, a música é uma das
artes que é altamente aprovada e é considerada como sendo causa de exaltação
dos corações tristes e desanimados.
A música é muito importante. A música
está no coração da própria linguagem. AS suas vibrações elevam o espírito; é
uma arte grande e bela. (’Abdu’l-Bahá,
Star of the West, Volume 9, p. 131)
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Texto original: Music: the Heart’sOwn Language (www.bahaiteachings.org)
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Marvin “Doc”
Holladay é saxofonista barítono que fez carreira no jazz, tendo tocado com
músicos como Duke Ellington, Dizzy Gillespie, Charles Mingus e Ella Fitzgerald.
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