quarta-feira, 20 de março de 2019

3 Coisas a Fazer para Acabar com o Terror



O recente massacre numa mesquita da Nova Zelândia – e todos os que o precederam – pretende separar-nos, criar desconfianças entre nós, criar mais ódio, dividir-nos enquanto seres humanos.

Como sabemos isso? São os terroristas que o dizem. No seu pretenso “manifesto”, o assassino da Nova Zelândia afirmou que matava pessoas inocentes para “incitar à violência, retaliação e fomentar a divisão”.

A palavra “terror” vem originalmente da palavra francesa terreur, que significa “terror, medo ou pavor”. É isso que os terroristas fazem: tentam provocar o medo, não apenas do futuro, mas também entre as pessoas. Eles querem que sintamos ódio, que fiquemos polarizados, que tenhamos medo dos outros, que vivamos em terror. Querem que fiquemos divididos e não unidos.

Então como pode uma pessoa sensata responder a estes actos hediondos? Como pode cada um de nós lidar com o ódio nesta dimensão? O que pode qualquer pessoa fazer?

Em momentos destes, quando desesperamos e nos sentimos desamparados, quando nos perguntamos como pode alguém perder a sua humanidade mais básica de forma tão completa, tendemos naturalmente a voltarmo-nos para a beleza, a espiritualidade e a clareza moral da fé. Os profetas e os fundadores das religiões encorajaram-nos a sanar as nossas divisões e a amar-nos uns aos outros – a trabalhar pela unidade, pela unicidade e pela paz:

Os Profetas de Deus devem ser considerados como médicos cuja tarefa consiste em promover o bem-estar do mundo e dos seus povos, para que, através do espírito da unidade, possam curar a doença de uma humanidade dividida. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, XXXIV)

…é evidente que os Profetas de Deus vieram para unir os filhos dos homens e não para os dispersar, para estabelecer a lei do amor e não da inimizade. Consequentemente, devemos pôr de parte todos os preconceitos – sejam religiosos, raciais, políticos ou patrióticos; devemos tornar-nos o motivo da unificação da raça humana. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, pp. 162-163)

Estas instruções vindas dos profundos tesouros espirituais da Fé Bahá’í dão-nos respostas claras às perguntas desagradáveis que o terrorismo levanta.

Em poucas palavras, estes ensinamentos pedem-nos que façamos três coisas vitais e muito específicas em resposta aos que semeiam ódio e divisão: ver todas as religiões como uma só; “por de parte todos os preconceitos”; e pessoalmente, ser “motivo da unificação da raça humana”.

Em primeiro lugar, os ensinamentos Bahá’ís dizem que devemos ver todos os profetas como médicos que trazem a cura para a doença da divisão. As suas mensagens não são hostis, nem rivalizam; pelo contrário, as suas mensagens são essencialmente a mesma – amar o próximo, aceitar o outro, ver amigos e não estranhos, adorar o mesmo Deus aceitando todas as pessoas como uma criação comum. A Fé Bahá’í enfatiza a unidade de todas as religiões, enfatizando as suas verdades essenciais e não as suas diferenças superficiais:

Todas estas divisões que vemos em todos os lados, todas estas disputas e confrontos, são causadas por homens que se agarram a rituais e aspectos aparentes, e esquecem a verdade simples e essencial. São as práticas visíveis que são diferentes; são elas que causam as disputas e as inimizades – mas a realidade é sempre a mesma e é uma só. A Realidade é a Verdade, e a verdade não tem divisão. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, pp. 120-121)

Em segundo lugar, os ensinamentos Bahá’ís pedem-nos que respondamos ao ódio e à divisão, trabalhando pessoalmente para derrotar e destruir os nossos próprios preconceitos. Todos temos preconceitos. Todas as pessoas formam opiniões e crenças baseadas nas suas experiências de vida, que frequentemente as leva a desenvolver medos, fobias e ódios. E esse trabalho espiritual interior – uma tarefa essencial e vitalícia de todo o Bahá’í, e dos crentes de qualquer religião – pede-nos que vejamos a luz do Criador nos olhos de todos os seres humanos que encontramos:

Não é próprio de um homem amaldiçoar outro; não é digno que um homem lance trevas sobre outro; não é adequado que um ser humano considere outro ser humano como maligno; pelo contrário, todos os humanos são servos de um único Deus; Deus é o Pai de todos; não há uma única excepção para esta lei. Não existem pessoas de Satanás; todos pertencem ao Misericordioso. Não existem trevas; tudo é luz. Todos são servos de Deus, e o homem deve amar a humanidade no seu coração. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 266)

Temos de reconhecer que não é uma tarefa fácil. Se queremos eliminar todo o ódio do mundo, parece correcto que comecemos por eliminá-lo dos nossos corações. Quando lhe foi pedido que resumisse os ensinamentos Bahá’ís, ‘Abdu’l-Bahá disse aos Bahá’ís:

… estabelecer a base do amor e da amizade, erguer a melodia do afecto e a unicidade do Reino da humanidade; transformar a tirania e a perseguição em amor e fidelidade; eliminar os rastos da carnificina; construir o edifício da reconciliação; dispersar as trevas das separação; difundir a luz da unidade; trocar o veneno da animosidade pelo mel do afecto carinhoso; destruir preconceitos religiosos, nacionais e sociais nos membros da humanidade; viver e agir com os outros como se fossem todos de uma raça, um país, uma religião e uma espécie. (‘Abdu’l-Bahá, Star of the West, Volume 1, p. 5)

Em terceiro lugar, os ensinamentos Bahá’ís desafiam todas as pessoas a tornarem-se motivo de unificação da raça humana.

Esse enorme empreendimento pode por vezes parecer-se com escalar uma grande montanha. Vivemos em culturas que separam as pessoas por raça, religião, classe social e nacionalidade. Vivemos em bairros diferentes, raramente socializamos, construímos muros entre nós. Então como é que uma pessoa, num mundo onde as forças da divisão e do ódio parecem tão universais, pode ser motivo de unidade para todos os povos?

Apenas nos tornamos motivo de unificação quando nos juntamos a outros para fazer isso acontecer.

Assim, podemos perguntar-nos: quando foi que estive com um grupo diferente para planear ou fazer algo unificador? As minhas redes sociais – as verdadeiras, não as virtuais – incluem pessoas de diferentes raças, origens religiosas e classes sociais? Quando foi que eu saí das minhas rotinas para me encontrar com pessoas com as quais não tenho muito em comum? Consegui chegar a alguém diferente, apenas para mostrar que quero atravessar as barreiras que nos separam? Que coisas fiz que motivassem a unidade?

Amai todas as religiões e todas as raças com um amor que seja verdadeiro e sincero, e mostrai esse amor através de actos e não apenas através da língua, porque esta última não tem importância, pois a maioria dos homens, nas palavras, é bem-intencionada; mas as acções são melhores. (‘Abdu’l-Bahá, Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, p. 69)

Se as suas respostas àquelas perguntas não o satisfazem, e não sabe como se tornar um motivo de unidade, pense no que pode mudar na sua vida e como pode reorganizar-se para criar uma comunidade que apoia a pratica os valores do amor e da unidade. A comunidade Bahá’í recebe todos os que se quiserem juntar e ser motivo de unificação da raça humana.

Quando se faz parte desse movimento – o maior, o mais global movimento social alguma vez imaginado e realizado – trabalha-se a todo o momento para derrotar o ódio e o preconceito divisivo que alimenta o terrorismo.

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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