Por Hussein Ahdieh.
Depois de ter sido executada, a fama e o
nome de Tahirih – poetisa Babi e defensora dos direitos das mulheres –
espalhou-se quase imediatamente pelo Ocidente.
Justin Sheil, um general e diplomata
britânico que serviu como representante da rainha Vitória na corte do rei da
Pérsia, enviou a primeira referência conhecida da execução de Tahirih num
despacho datado de 22 de Agosto de 1852:
Entre os que sofreram a morte encontrava-se uma jovem mulher, filha de um
famoso professor de Direito em Mazindaran, que tinha estado detida durante três
anos em Teerão. Ela era venerada como profetisa pelos Babees [Babis], e a
designada entre eles como “Koorat ool ain”
– “Pupila dos olhos” [na verdade, Qurrat’ul-Ayn
significa “Consolo dos Olhos”]. Ela foi estrangulada por ordem do Xá. O Sedr
Azim opôs-se a estes actos, mas a raiva e a vingança do Xá não lhe permitiram
prestar atenção ao conselho (Moojan Momen, The Babi and Baha’i Religions,
1844-1944, Some Contemporary Western Accounts, p. 135.)
No dia seguinte, o príncipe Dolgorukov,
embaixador russo na Pérsia, enviou o seguinte despacho:
… Durante muito tempo, esteve presa em Teerão, sob vigilância de Mahmud
Khan, o chefe da polícia, um mulher Babi (Tahirih). Apesar disto, ela
aparentemente encontrou forma de se encontrar diariamente com muitos membros da
sua seita. Ela foi estrangulada num jardim, na presença de Ajudan-Bashi… (Ibid.,
p. 143)
Pouco depois, a execução de Tahirih era tema
de um artigo de jornal The Times (de
Londres), em 13 de Outubro de 1852. O título do texto era “Como castigam a
traição Pérsia”.
Em 1852 a Fé Babi era pouco conhecida no
Ocidente; e a Fé Bahá’í – que lhe sucedeu e completou -ainda não tinha surgido.
Bahá’u’lláh, o profeta fundador da Fé Bahá’í – era nessa época um dos
principais Bábis, e estava encarcerado numa prisão de Teerão, devido às suas
crenças.
O artigo no jornal The Times, de Londres, incluía muito pormenores que ‘Abdu’l-Bahá –
filho e sucessor de Bahá’u’lláh – mais tarde incluiria no seu livro Memorials of the Faithful. Nesse livro,
‘Abdu’l-Bahá recorda Tahirih e descreve o momento do seu martírio:
Trouxeram-na para o jardim onde o carrasco aguardava… colocaram-lhe um
lenço entre os lábios e enfiaram-no pela sua garganta. Depois ergueram o seu
corpo imaculado e lançaram-no num poço ali no jardim, e lançaram sobre ele
terra e pedras. Mas Tahirih regozijava-se; ela tinha ouvido com a luz do
coração as notícias do seu martírio; fixou os olhos no Reino celestial e ofereceu
a sua vida. (‘Abdu’l-Bahá, Memorials of the Faithful, p. 203)
O primeiro livro a incluir uma referência
a Tahirih foi “Glimpses of Life and Manners in Persia”, de Lady Mary Sheil,
publicado em 1856:
Houve uma outra vítima. Esta era uma mulher jovem, filha de um mullah de
Mazindaran, que, tal como o seu pai, tinha aceite os princípios do Bab. Os
Babees, veneravam-na como uma profetisa; e chamavam-lhe Khooret-ool-eyn, palavras árabes que significam Pupila dos olhos.
Depois da insurreição Babees ter sido subjugada na província, ela foi levada
para Teerão e detida, mas foi bem tratada. Quando se deram estas execuções, ela
foi estrangulada. Foi um acto cruel e desnecessário. (Lady Mary Sheil, Glimpses of life and manners in Persia, citada
por Farzaneh Milani em Veils and Words,
The Emerging Voices of Iranian Women Writers, p. 97)
O diplomata britânico Robert Grant Watson
escreveu um livro intitulado A History of
Persia – cobrindo a história na Pérsia na primeira metade do século XIX –
que foi publicado em 1866. Nesse livro, Watson faz uma breve referência a
Tahirih: “… a filha de um célebre professor de Direito, que era considerada
pelos Babis como uma profetisa…” (pag. 409)
O primeiro livro – numa língua ocidental –
sobre a história do Bab e dos seus seguidores foi The Báb and the Bábis: Religious and Political Unrest in Persia in
1848-1852, escrito em russo por Aleksandr Kazem-Bek, e publicado em 1865. Kazem-Bek
era um filólogo que se dividia entre os mundos russo e persa; nasceu no
Azerbaijão, viveu na Pérsia e faleceu em S. Petersburgo.
Em 1865, um médico austríaco, Jakob Polak,
afirmou ter presenciado a execução de Tahirih – uma afirmação que nunca foi
confirmada:
Testemunhei a execução de Qurret el ayn, que foi executada pelo ministro da
guerra e seus ajudantes; a bela mulher suportou uma morte lenta com uma força
sobre-humana (citado por Moojan Momen in The
Babi and Baha’i Religions, 1844-1944, Some Contemporary Western Accounts,
pp. 26-27)
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Texto
original: How the West Found Out about Tahirih (www.bahaiteachings.org)
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Hussein Ahdieh nasceu em Nayriz, no Irão.
Na sua adolescência foi viver para os Estados Unidos, onde mais tarde estudou
História da Europa e concluiu um Doutoramento em Educação. Foi um elemento
chave na criação da Harlem Preparatory School, de Nova Iorque; foi director do
Programa de Estudos Superiores da Universidade de Fordham. É autor dos livros
Abdu'l-Bahá in New York, AWAKENING: A History of the Babí and Bahá'í Faiths in
Nayriz e de numerosos artigos e ensaios.
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