sábado, 9 de novembro de 2019

Quem foram as Letras dos Viventes?

Por Soheila Mikkonen.
“Letras dos Viventes” é um título atribuído pelo Báb aos Seus primeiros 18 seguidores. O Báb era um comerciante de Shiraz, na Pérsia. O Seu nome próprio era Siyyid Ali-Muhammad Shirazi, mas ficou conhecido como “o Báb”, que significa “a Porta”; os Bahá’ís acreditam que Ele foi a porta simbólica entre a era passada da profecia e a nova era da realização da humanidade. Quando tinha 25 anos, o Báb anunciou ser um Profeta e o arauto de “Aquele que Deus tornará Manifesto” (Bahá’u’lláh).

A primeira pessoa a aceitar a declaração do Báb foi Mulla Husayn, um jovem estudante Shaykhi [1], que, tal como muitos outros Shaykhis, tinha partido em busca do Prometido. Em Maio de 1844, a busca de Mulla Husayn levou-o à cidade de Shiraz, onde encontrou o Báb, e uma noite ele tornou-se a primeira pessoa a acreditar no Báb.

Os Primeiros 18 Discípulos
Depois de Mulla Husayn, outras 17 pessoas reconheceram o Fundador da Fé Babi através da sua busca, entre Maio e Julho de 1844; o Báb atribuiu-lhes o título de “Letras dos Viventes”.

A expressão “Letras dos Viventes” em árabe é “Huruf-i-Hayy”. A palavra árabe “havy” corresponde numericamente ao número 18. As 18 Letras dos Viventes e o Próprio Báb são conhecidos como o Primeiro Vahid (unidade) da Dispensação Babi, que numericamente corresponde ao número 19.

O Báb escolheu especificamente a palavra “letras” para designa as primeiras pessoas que acreditaram n’Ele enquanto Manifestante de Deus. As letras actuam como um intermediário entre o Ponto – o Mensageiro de Deus – e as palavras e frases que florescem – a nova revelação – trazidas pelos Manifestantes de Deus.

As Letras dos Viventes – uma mulher e dezassete homens – eram:

  • Mulla Husayn-i-Bushru’i (o seu título era Babu’l-Bab, ou “A Porta da Porta”);
  • Muhammad Hasan (o seu irmão);
  • Muhammad-Baqir (o seu sobrinho);
  • Mulla Aliy-i-Bastami;
  • Mulla Khuda-Bakhsh-i-Quchani (posteriormente chamado Mulla Ali Razi);
  • Mulla Hasan-i-Bajistani;
  • Siyyid Husayn-i-Yazdi;
  • Mirza Muhammad Rawdih-Khan-i-Yazdi (ou Dhakir-i-Masa’ib);
  • Said-i-Hindi;
  • Mulla Mahmud-i-Khu’I;
  • Mulla Jalil-i-Urumi;
  • Mulla Ahmad-i-Ibdal-i-Maraghi’i;
  • Mulla Baqir-i-Tabrizi;
  • Mulla Yusif-i-Ardibili;
  • Mirza Hadi (filho de Mulla Abdu’l-Vahhab-i-Qazvini);
  • Mirza Muhammad-i Aliy-i-Qazvini;
  • Fatimih Baraghani (que recebeu o título Tahirih, que significa “a Pura”);
  • e Mulla Muhammad-Ali Barfurushi (intitulado Quddus, que significa “o Mais Santo”).


A Missão do Báb
Epístola do Báb à Primeira Letra dos Viventes
O Báb dedicou a Sua vida à transformação de velhos hábitos, normas e atitudes. Escreveu muitos livros durante a Sua vida, sendo o mais importante o Bayan (que significa “Expressão”). A palavra “Bayan” pode referir-se ao Bayan persa ou ao Bayan árabe. Tratam-se de dois textos distintos que foram revelados mais ou menos na mesma época (1847-1848), durante o quarto ano do Seu Ministério; também se pode referir à revelação do Báb como um todo.

O Bayan persa é considerado o Livro Mãe da Dispensação do Báb. Nele, o Autor explica que as mulheres têm um papel importante na sociedade e que ambos os sexos são iguais aos olhos de Deus. O Báb cultivava a compaixão e esforçava-se para criar alegria entre os seres humanos; a busca do discernimento e da ciência é elogiada, assim como a união entre conhecimento, acção e fé.

Abrigados à Sua Sombra
O Báb refere as Letras dos Viventes directa e indirectamente em muitas das Suas Escrituras. Por exemplo, Ele salienta que a crença no Manifestante e na unidade de Deus implica a crença nas Letras dos Viventes e vice-versa. Segundo o Báb, quem se volta para as Letras dos Viventes estará seguro, até ao aparecimento de “Aquele que Deus tornará Manifesto”.

O Báb encorajou a construção de locais de oração, não só em Seu nome, mas também em nome das Letras dos Viventes. No entanto, a sua condição é espiritual e simbólica. O Báb não lhes conferiu autoridade para interpretar ou legislar, não lhes atribuiu cargos ou missões entre a comunidade Babi.

Preparando o Caminho para a Fé de Bahá’u’lláh
O Báb pediu aos Seus discípulos que viajassem, espalhassem a Sua religião e preparassem o povo para o Prometido de Todas as Eras que viria depois d’Ele. O seu papel era dar a conhecer a Fé do Báb e este novo sistema de crença e de busca de conhecimento. A maioria das Letras dos Viventes permaneceram leais à causa do Báb e 12 deles foram mortos devido à sua fé, antes do nascimento da revelação de Bahá’u’lláh.

Após o Martírio do Báb, os Seus seguidores recorriam cada vez mais a Bahá’u’lláh. Encontravam n’Ele o mesmo espírito e sabedoria que observaram nos ensinamentos do Báb. Bahá’u’lláh só declarou publicamente a Sua Missão em Abril de 1863. Apenas uma das Letras dos Viventes viveu o suficiente para abraçar a Causa de Bahá’u’lláh: Mulla Baqir-i-Tabrizi. Ele tinha acompanhado Bahá’u’lláh ao Forte de Shaykh Tabarsi, e esteve presente na Conferência de Badasht, em 1848 – dois momentos ímpares no início da história da Fé Bahá’í.

O Significado das Letras
Segundo o Bayan, as Letras dos Viventes são o regresso das essências e atributos da Sagrada Família do Islão. As correspondentes 18 figuras chave do Islão Xiita são o Profeta do Islão, Maomé; o Seu genro, Ali; a Sua filha, Fátima; 11 Imams da Sagrada Família; e quatro representantes do Imam Oculto ou os quatro anjos responsáveis pela criação, subsistência, morte e existência.

O Báb também deixou claro que as Letras dos Viventes tinham influência espiritual enquanto estivessem voltados para o Sol da Verdade, mas que perderiam esse poder quando se afastassem. Nem todos permaneceram leais ao Báb. Estar mais próximo do Manifestante de Deus também significa estar exposto a testes mais severos. Por exemplo, Mirza Hadi, uma das Letras dos Viventes, distanciou-se dos Bábis e acabou por se tornar um infiel.

A maioria das Letras dos Viventes permaneceu na vanguarda da Dispensação Babi e temos muito a aprender com a sua dedicação. O Bab usava a palavra “letra” para se referir a todos os Seus crentes, e não apenas os 18. Ele apelava a toda a humanidade para que se juntasse a uma nova civilização, uma forma revitalizada de pensar – um estado de espírito vivo a que todos podemos aspirar:
Quem actua em conformidade com o que ali [no Bayan] está revelado, viverá no Paraíso, na sombra da Sua afirmação e será contado entre as mais sublimes Letras na presença de Deus. [2]

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NOTAS 
[1] - https://en.wikipedia.org/wiki/Shaykhism
[2] - Selections from the Writings of the Bab, pag. 102

Texto original: Who Were the Letters of the Living? (www.bahaiblog.net)

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