Recentemente, o corpo governante global da Fé Bahá'í respondeu aos Bahá'ís do mundo que tinham questões sobre alterações climáticas antropogénicas, i.e., provocadas pelo ser humano.
Essas respostas sobre um assunto que por vezes é controverso são um conselho não apenas para os Bahá'ís; elas permitem a qualquer pessoa obter uma perspectiva mais ampla e mais espiritual sobre as alterações climáticas e o que podemos fazer sobre isso.
A Casa Universal de Justiça, numa carta oficial escrita pelo seu secretariado, começou por dizer:
Estimados amigos Bahá'ís,Aqui a Casa Universal de Justiça descreve claramente que a negação da ciência das alterações climáticas é uma “perspectiva extremada” “promovida por interesses políticos e adquiridos”.
A Casa Universal de Justiça recebeu o vosso email de 21 de Junho de 2017 levantando questões sobre o envolvimento da comunidade Bahá'í na abordagem aos alterações climáticas antropogénicas. Haveis expressado as vossas opiniões sobre o discurso actual em torno das alterações climáticas, observando que existe pressão para aceitar uma posição extremada sobre as causas e os resultados catastróficos previstos das alterações climáticas, e apoiar políticas sociais e económicas relacionadas. Também haveis partilhado a vossa percepção de que alguns Bahá'ís tomaram uma posição fortemente alinhada com essa posição extremada, promovendo os seus argumentos, suprimindo os pontos de vista de outros crentes e, como resultado, vocês temem que isto possa elevar a necessidade de agir sobre esta matéria ao nível de um princípio religioso, e envolva a comunidade num debate político-partidário. Foi-nos pedido que vos transmitíssemos o seguinte.
A Casa de Justiça aprecia o vosso pedido de clarificação em assuntos que são fonte de preocupação para vós. E aproveita a oportunidade não só para abordar o tema das alterações climáticas em si, mas também, num sentido mais amplo, para clarificar certas ideias sobre a forma como os Bahá'ís devem entender e contribuir para a melhoria do mundo.
A vossa carta reflecte uma profunda preocupação sobre os limites práticos do conhecimento científico, as suas implicações nas políticas públicas, e a sua possível deturpação numa tese de advertência sobre alterações climáticas catastróficas antropogénicas, que consideram ser extremada, política e injustificada pelos factos. Apesar de não o mencionarem, estais certamente cientes que o vosso cepticismo ponderado está amplamente ofuscado no debate público por outra perspectiva a extremada, promovida por interesses políticos e adquiridos, que vão ao ponto de negar as alterações climáticas e desconsiderar ou confrontar descobertas científicas relevantes. (A Casa Universal de Justiça , 29 Novembro 2017, a um grupo de Bahá'ís)
Esta posição acompanha a esmagadora maioria dos cientistas de clima do mundo, que concordam que o aquecimento global está a acontecer e que é provocado pela actividade humana.
O Quinto Relatório de Avaliação (AR5) do IPCC (Painel Inter-governamental sobre Alterações Climáticas), redigido por centenas de especialistas climáticos e cientistas dos países membros da Organização Meteorológica Mundial e do Programa Ambiental das Nações Unidas (a agência ambiental da ONU), e ainda uma equipa de revisores externos, afirma:
A influência humana no sistema climático é clara, e as recentes emissões antropogénicas de gases de efeito de estufa são as maiores na história. (...) O aquecimento do clima é inequívoco, e desde 1950, muitas das alterações verificadas não têm precedentes em décadas ou milénios.Hoje, nenhum corpo científico credível no mundo defende uma opinião diferente, e nenhum corpo científico organizado de cientistas nacionais ou internacionais rejeita as descobertas sobre efeitos induzidos pelos humanos nas alterações climáticas. Este tipo de unanimidade científica é raro, a aponta para um consenso esmagador sobre o assunto entre os cientistas de todo o mundo.
As emissões contínuas de gases de efeito de estufa causarão maior aquecimento e mudanças mais duradouras em todas as componentes do sistema climático, aumentando a probabilidade de impactos severos, globais e irreversíveis nas pessoas e nos ecossistemas.
Assim, esta análise de Casa de Justiça - obviamente alicerçada no princípio básico Bahá'í de harmonia entre ciência e religião - está de acordo com o conhecimento científico prevalecente:
É impossível uma religião ser contrária à ciência, apesar de alguns intelectos serem demasiado fracos ou imaturos para compreender a verdade.
Deus fez da religião e da ciência uma medida da nossa compreensão, por assim dizer. Acautelai-vos para não negligenciar um tão maravilhoso poder. Avaliai todas as coisas nesta balança. (…)
Colocai todas as vossas crenças em harmonia com a ciência; não pode haver oposição, pois a verdade é uma. Quando a religião, livre das suas superstições, tradições e dogmas pouco inteligentes, mostra conformidade com a ciência, então haverá uma grande força unificadora e purificadora no mundo que varrerá todas as guerras, desentendimentos, discórdias e lutas – e então a humanidade estará unida com o poder do Amor de Deus. ('Abdu'l-Bahá, Paris Talks, pp. 145-146)
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Texto original: Religious or Spiritual: How Do You Deal with Climate Change? (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
1 comentário:
Gratidão pelo compartilhamento de ideias e saberes tão valiosos e oportunos.
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