No artigo anterior, citei um excerto belíssimo e poético das Escrituras Bahá'ís, em que a simbólica “Virgem Celestial” exclama:
“Ó povos da terra! Pela rectidão do Deus uno e verdadeiro, Eu sou a Virgem Celestial gerada pelo Espírito de Bahá, que permanece na Mansão talhada com massa de rubi, delicada e vibrante; e neste poderoso Paraíso nada testemunhei salvo aquilo que proclama a Lembrança de Deus louvando as virtudes deste Jovem Árabe. Em verdade, não há outro Deus salvo o vosso Senhor, o Todo-Misericordioso…”Aqui a Virgem Celestial anuncia aos povos do mundo o advento do Báb. Mas esta voz feminina mística também prenuncia o aparecimento de Bahá'u'lláh, cujo advento iminente foi predito pelo Báb.
O prof. Nader Saiedi (UCLA) explica este texto profundo e misterioso:
O verbo árabe usado na frase “a Virgem Celestial gerada pelo Espírito de Bahá” é waladatni, que significa, “Ela deu à luz”. Em árabe, os verbos são diferentes para feminino e masculino. “Walad” significa “Ele gerou”. “Waladat” significa “Ela gerou”Por outras palavras, Bahá'u'lláh gera metaforicamente esta Virgem Celestial, incutindo os ensinamentos Bahá'ís – que enfatizam a igualdade entre mulheres e homens - com um entrelaçado de elementos masculinos e femininos. Podemos entender este símbolo da Virgem Celestial como a metáfora tradicionalmente feminina ou materna que personifica a realidade e a verdade espiritual de Bahá'u'lláh.
Assim, não há dúvida que, nesta frase, “Bahá” está definido como a mãe. A tradução literal diz-nos que “Bahá é a entidade feminina que deu à luz a Virgem Celestial. Não se trata de uma dedução. É a palavra literal.
Como sabem, os Bahá'ís acreditam que Deus transcende o género, tal como o professor Saiedi afirma
Em relação aos pronomes “Ele” e “Ela” na teologia Bahá'í, Deus está acima de qualquer género. O uso de pronomes “Ele”, “Ela” ou qualquer outro não faz diferença.
Agora voltemos à invocação comum das Escrituras e orações Bahá'ís, “Ele é Deus!” Será que isto não sugere uma visão masculina do Criador? O prof. Saiedi explica:
O Alcorão usa “Ele”, e portanto seria considerado anti-Islâmico usar “Ela”. Mas Bahá'u'lláh usa o pronome com o propósito de transformar o seu sentido.Assim, “Ele é Deus!” refere-se primeiramente a Bahá'u'lláh. “Ela é Deus!” poderia referir-se à realidade espiritual de Bahá'u'lláh, personificado metaforicamente na “Virgem Celestial”. Em ambas as expressões, e nas suas correspondentes metáforas, os princípios masculinos e femininos complementam-se num equilíbrio perfeito.
No entanto, uma vez que a Fé Bahá'í surgiu num meio islâmico, e porque o Alcorão se refere a Deus como “Ele”, mudar o pronome para “Ela” poderia ser considerado pelos Muçulmanos como um ataque directo a Deus e ao Islão.
Por esse motivo, Bahá'u'lláh usa a mesma palavra, mas retirou-lhe o sentido patriarcal.
Durante séculos, as pessoas referiram-se a Deus como uma força masculina. Na Fé Bahá'í podemos descobrir o sentido, a beleza e o quão profunda é esta frase das Escrituras – “Eu sou a Virgem Celestial gerada pelo Espírito de Bahá, que permanece na Mansão talhada com massa de rubi, delicada e vibrante” – e começar a compreender Deus como igualmente feminino.
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Texto original: God, the Divine Feminine and the Maid of Heaven (www.bahaiteachings.org)
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Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuíu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.
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