sábado, 14 de novembro de 2020

Criado à Minha Imagem

Por David Langness.


Ó FILHO DO HOMEM!
Velado no Meu ser imemorial e na antiga eternidade da Minha essência, conheci o Meu amor por ti; por isso, te criei, gravando em ti a minha imagem e revelando-te a Minha beleza. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, do Árabe, #3)
Neste impressionante trecho das Palavras Ocultas de Bahá’u’lláh, Deus apela a cada ser humano que contemple a sua própria criação, tal como Ele fez no livro do Génesis:
Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. (Gn 1:26)
As histórias da criação – narrativas da criação da raça humana, comuns a todas as tribos, povos e religiões – surgiram ao longo da história, descrevendo as nossas origens e ajudando-nos a formar uma imagem sobre nós próprios, um auto-retrato psicológico e espiritual.

Estas histórias seminais também respondem às maiores e mais profundas questões dos nossos filhos – quem somos nós e de onde viemos?

Cada um dos livros sagrados das grandes religiões mundiais tem uma narrativa da criação que nos diz como começaram os humanos. E ao longo da história, cada cultura manteve as suas tradições orais e mitos da criação, cuidadosamente transmitidos de geração em geração.

Nesta Palavra Oculta, Bahá’u’lláh diz-nos muito especificamente que a nossa criação se desenvolveu directamente do amor de Deus. Bahá’u’lláh confirma que esse amor – o grande Mistério do universo – levou ao nosso nascimento como espécie e alimenta a constante busca humana pela beleza, auto-conhecimento e conhecimento profundo da realidade espiritual interior. Os ensinamentos Bahá’ís dizem que Deus criou a humanidade apenas por amor – isto exclui doutrinas como o destino, ou o pecado original. Para os Bahá’ís, cada bebé que nasce é uma expressão de amor, nobreza e pureza; o verdadeiro objectivo de cada adulto centra-se em torno do amor ao próximo. De facto, Bahá’u’lláh diz claramente que toda a criação de Deus veio à existência para que o nosso amor inerente pudesse encontrar o seu Bem-Amado:
Tendo criado o mundo e tudo o que aí vive e se move, Ele, através da operação directa da Sua Vontade irrestrita e soberana, dignou-Se conferir ao homem a distinção e a capacidade únicas de O conhecer e amar - capacidade esta que deve necessariamente ser vista como o impulso gerador e o desígnio primário subjacente a toda a criação... (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, XXVII)
Este tema do amor – tanto o amor de Deus pela humanidade e o nosso amor inato, recíproco pelo espiritual e pelo místico – flui através de muitos excertos d’As Palavras Ocultas. Frequente, Bahá’u’lláh escreve sobre o amor usando modos de expressão tipicamente Sufis, com uma linguagem de paixão romântica e recorrendo a metáforas sobre o amor entre Deus e a criação. Simbolizando o verdadeiro amor humano que se acerca do divino, este sentido profundamente poético dá-nos uma forma de começar a compreender o propósito dos Profetas, Mensageiros de Deus e fundadores das grandes religiões mundiais:
Assim é que, através do aparecimento destes Luminares de Deus, o mundo é renovado, as águas da vida eterna jorram, as ondas da amorosa generosidade elevam-se, as nuvens da graça acumulam-se, e as brisas das dádivas sopram sobre todas as coisas criadas. É o calor que estes Luminares de Deus geram, e os fogos imortais que acendem, que fazem a luz do amor de Deus arder fortemente no coração da humanidade. (Bahá'u'lláh, Kitab-i-Iqan, ¶31)
Se Deus gravou em nós a Sua imagem, tal como Bahá’u’lláh nos diz n’As Palavras Ocultas, então essa imagem é o amor. E se o amor, intensamente gravado nas nossas almas desde o momento da nossa criação, faz que que sejamos aquilo que somos, então a expressão de amor ao próximo pode cumprir o nosso propósito mais profundo e realizar-nos. Se o amor, tal como dizem as Escrituras Bahá’ís, constitui o princípio fundamental do propósito de Deus para a humanidade, então é nosso dever assimilar esse amor que Deus tem por nós, e transmiti-lo aos outros:
Fostes criados a fim de mostrar amor uns aos outros, e não perversidade e rancor. Orgulhai-vos, não do amor a vós próprios, mas sim, do amor aos vossos semelhantes. Não vos glorifiqueis pelo amor à vossa pátria, mas sim, pelo amor a toda a humanidade. (Baha’u’llah, Tablets of Baha’u’llah, p. 138)
O amor ao próximo e a Deus, dizem as Escrituras Bahá’ís, é o primeiro sinal da fé. Esta Palavra Oculta revela um dos princípios centrais e um dos ensinamentos mais importantes de Bahá’u’lláh – devemos esforçar-nos para difundir a luz do amor no mundo da humanidade.

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Texto original: Created in My Image (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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