sábado, 16 de janeiro de 2021

A escolha fundamental na Vida

Por David Langness


Ó FILHO DO HOMEM!
Tu és o Meu domínio, e o Meu domínio não perece; porque receias perecer? És a Minha luz, e a Minha luz jamais se extinguirá; por que temes extinção? És a Minha glória, e a Minha glória não desvanece; és o Meu manto, e o Meu manto jamais se desgastará. Mantem-te, pois, no teu amor por Mim, para que possas encontrar-Me no reino da glória.

Ó FILHO DA PALAVRA!
Volve a tua face para a Minha e renuncia a tudo salvo a Mim, pois a Minha soberania perdura e o Meu domínio não perece. Se buscares outro que não Eu, ainda que procures eternamente no universo, a tua busca será em vão. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, do árabe, #14, #15)

Quando Bahá’u’lláh escreveu estas duas Palavras Ocultas, ao caminhar nas margens do rio Tigre, em Bagdade, Ele estava exilado da Sua terra natal há mais de cinco anos, e tinha enfrentado privações e tortura numa terrível prisão.

No entanto, estas Palavras Ocultas encorajam-nos a pensar na vida depois da morte, dando-nos esperança de uma existência imortal. Os ensinamentos Bahá’ís afirmam assertivamente que esta breve vida terrena é uma preparação para uma consciência espiritual eterna, uma segunda vida que, como diz Bahá’u’lláh, é interminável.

As Palavras Ocultas repetem várias vezes este tópico. Dizem-nos que a alma vem de Deus e não se decompõe, nem morre; que a luz em nós reflecte o esplendor do Criador; que a nossa essência eterna significa que vamos viver eternamente.

Na segunda citação anterior, Bahá’u’lláh diz-nos que podemos viver eternamente se voltarmos a face para Deus e transcendermos esta existência temporal. Se nos apegamos ao temporário e ao efémero, se procuramos o significado das nossas vidas noutras coisas, então a nossa busca, diz-nos Bahá’u’lláh, será em vão.

O Budismo Zen tem um ensinamento muito semelhante. Muita da sabedoria Zen tem origem nos koans Zen, frases místicas e curtas que transmitem conhecimento, frequentemente na forma de enigma ou paradoxo. Um dos mais conhecidos e profundos koans Zen diz o seguinte: “Se morreres antes de morrer, quando morreres, não morrerás.

Podemos pensar e reflectir um pouco sobre este koan. Mas se o colocarmos no contexto dos ensinamentos de Bahá’u’lláh, percebemos a sua profunda sabedoria.

É óbvio que este koan se refere a dois tipos de “morte” – o fim da vida física e a morte do ego. Diz-nos que a morte do ego precede o desenvolvimento de uma consciência espiritual; e permite-nos ver que a alma, quando livre do ego individual e de todos os seus apegos e barreiras, pode viver eternamente.

As escrituras de Bahá’u’lláh abordam este tema poderoso e universal. Afirma-se que toda a alma viverá eternamente:

A primeira vida, que se refere ao corpo elementar, terá um fim, tal como foi revelado por Deus: “Toda a alma provará a morte”. Mas a segunda vida, que surge do conhecimento de Deus, não conhece a morte... (Bahá'u'lláh, Gems of Divine Mysteries, pp. 41-42)

Os Bahá’ís não acreditam seguramente em qualquer conceito de inferno, purgatório ou condenação eterna – essas ideias punitivas não têm lugar nos ensinamentos Bahá'ís de vida depois da morte. No entanto, os ensinamentos Bahá'ís dizem claramente que que o progresso da alma e o seu nível de consciência na fase seguinte da sua existência depende do nosso desenvolvimento neste plano terreno:

...o homem é imortal e vive eternamente. Para os que acreditam em Deus, que têm fé e amor de Deus, a vida é excelente; mas para aqueles que estão velados de Deus, apesar de terem vida, eles vivem nas trevas e a as suas vidas, em comparação com as dos crentes, são a não-existência. ('Abdu'l-Bahá, Some Answered Questions, ch 67)

Isto significa que podemos escolher, que podemos seguir um caminho para a espiritualidade ou seguir um caminho para uma vida mais materialista. Podemos enaltecer e educar o espírito humano, ou podemos enfatizar o físico. Podemos servir a humanidade e trabalhar pela paz e justiça no mundo, ou podemos seguir os nossos prazeres egoístas e sensuais. Podemos trabalhar pelo bem comum ou podemos concentramo-nos nas nossas necessidades e desejos individuais. Esta escolha humana fundamental pode transformar-nos em seres espirituais que transcendem este plano de existência e que alcançam a vida eterna.

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Texto original: The Question at the End of Life (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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