domingo, 24 de janeiro de 2021

Encontrar contentamento na vida

Por David Langness.


Ó FILHO DA LUZ!
Esquece-te de tudo, menos de Mim, e comunga com o Meu espírito. Esta é a essência do Meu mandamento; portanto, volta-te para ele.

Ó FILHO DO HOMEM!
Contenta-te Comigo e não procures outro auxílio, pois nunca ninguém, salvo Eu, te será suficiente.

Ó FILHO DO ESPÍRITO!
Não Me peças o que não te desejamos; assim, contenta-te com o que decretámos para teu bem, pois isto é o que te beneficia, se com isso te contentares. (Bahá'u'lláh, As Palavras Ocultas, do árabe, #16, #17, #18)

Estas três Palavras Ocultas expressam o âmago dos conselhos de Deus para a humanidade.

Esquecer tudo salvo Deus, ficar satisfeito apenas com Deus, e comungar com o Seu espírito é o que Bahá’u’lláh nos pede. Esta advertência e conselho - tão antigo quanto a história e afirmado novamente nos ensinamentos Bahá’ís - pode trazer-nos paz, satisfação e felicidade. Pode levar-nos ao nosso próprio desejo íntimo e inescrutável de fusão com o eterno.

Tal como a maioria dos textos místicos nas Escrituras Bahá’ís, e como a maioria dos livros sagrados de todas as religiões, estes versículos não devem ser entendidos literalmente. Pelo contrário, eles falam numa forma poética, imaginativa e simbólica, chamando-nos para um nível mais elevado de entendimento e compreensão, apelando-nos a que tentemos captar o mistério da vida e nos esforcemos para conhecer o incognoscível. Apenas a linguagem do amor e da paixão podem expressar verdades tão profundamente. Os grandes poetas sabiam isto:

O verdadeiro amado é o teu princípio e o teu fim
Quando o encontrares,
não esperarás qualquer outra coisa. 
(Rumi)

Todas as fontes com o rio se fundem
E os rios com o oceano;
Os ventos, pelos ares, uns aos outros se unem
Com fragrante emoção;
Nada fica sozinho neste mundo;
Tudo, por fado antigo,
Entre si se mistura e se confunde:—
Porque não eu consigo?

Olha! As montanhas beijam o firmamento,
A onda, a onda enlaça;
Nenhuma flor-irmã tem valimento
Se o irmão não abraça;
A luz do Sol envolve a terra à roda,
Raios do luar beijam os mares: —
Mas toda esta ternura que me importa
Se tu não me beijares?
(Percy Bysshe Shelley, tradução de Herculano de Carvalho)

Os poetas falam de amor, os trovadores cantam o amor e os artistas tentam retratar o amor. Este instinto profundamente humano de unidade, contentamento e ligação leva-nos a passar as nossas vidas à procura dele. Todos temos este grande anseio do coração humano - não apenas pelo amor romântico, mas por uma fusão mais ampla e poderosa das nossas almas com o Criador.

Esse tema universal mostra que as formas superiores de arte tendem a concentrar-se na exploração do desejo primordial dos nossos corações pelo amor. Nessa grande arte - os sonetos de Shakespeare, a poesia mística de Rumi, Ibn Arabi e Hafiz, o melhor gospel e rock and roll e música tribal - o amor romântico torna-se uma metáfora, um símbolo do amor apaixonado entre a humanidade e o Divino.

E finalmente, o nosso destino colectivo chama-nos para esse encontro transcendente com o amor de Deus. Nas Palavras Ocultas de Bahá’u’lláh, este mesmo tema poético e místico está presente em vários momentos ao longo do livro. E no Livro da Certeza, Bahá’u’lláh insta-nos a olhar em frente, no decorrer das nossas vidas, para o nosso inevitável encontro com a realidade espiritual:

Ó meu irmão! Dai o passo do espírito, para que, rápido como um piscar de olhos, possais passar rapidamente pelos desertos do afastamento e da privação, e atinjas o Ridvan da reunião eterna, e com um folego comungar com os Espíritos celestiais. Pois com pés humanos nunca podereis esperar atravessar estas distâncias imensuráveis, nem atingir o vosso objectivo. Que a paz esteja sobre aquele a quem a luz guiou a toda a verdade, e que, em nome de Deus, se manteve no caminho da Sua causa, na praia do verdadeiro entendimento. (Baha’u’llah, The Kitab-i-Iqan, ¶44)

Os ensinamentos Bahá’ís dizem-nos que esta existência terrena nos prepara para uma vida eterna. Bahá’u’lláh diz-nos que se conseguimos encontrar contentamento e paz aqui, entraremos na próxima fase da nossa existência com consciência desenvolvida, espírito preparado e coração aberto:

A primeira vida, que pertence ao corpo elementar, acabará, conforme foi revelado por Deus: “Toda alma provará a morte.” Mas a segunda vida, que surge do conhecimento de Deus, não conhece morte alguma… Ó Meu irmão! Abandona os teus próprios desejos, volta a tua face para o teu Senhor, e não sigas os passos daqueles que tomam as suas inclinações corruptas como o seu deus, para que, talvez, encontres abrigo no âmago da existência, sob a sombra redentora d’Aquele que capacita todos os nomes e atributos. (Gems of Divine Mysteries, ¶65-¶66)

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Texto original: Finding Contentment in Life (www.bahaiteachings.org)

 
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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