domingo, 21 de fevereiro de 2021

A Fé Bahá'í e a doutrina da Igreja

Por Maya Bohnhoff.


Uma das perguntas mais invulgares a que respondi, vinda de um pastor de uma igreja evangélica Protestante foi esta: “Os Bahá’ís aceitam a doutrina da Igreja conforme definida pelos Concílios da Igreja?”

Pareceu-que que era uma pergunta estranha, porque a igreja onde me encontrava há muito se afastara da orientação dos Concílios Ortodoxos e Católicos. Mas ainda assim, o pastor Dan apresentou um resumo histórico desses concílios, numa tentativa de mostrar que a Fé Bahá'í não extraiu os seus ensinamentos desses Concílios.

Quando pensamos nos “Pais da Igreja” e na série de concílios eu deram forma à doutrina Cristã, penso que devemos analisar cuidadosamente as páginas da história para ver o quão fielmente esses religiosos aderiram à nova aliança que Cristo estabeleceu com os Seus discípulos - “Amai-vos uns aos outros”. A doutrina formal da Trindade, para citar apenas um exemplo, foi preparada com os fogos do ódio e da intolerância. Depois de definir que Cristo tinha simultaneamente uma natureza humana e uma natureza divina, a questão de pormenor sobre se Ele tinha uma ou duas vontades foi o suficiente para causar dor, sofrimento e guerra entre os Cristãos.

A minha convicção pessoal? Segundo as minhas leituras das Escrituras e de história, quando o Cristianismo se dividiu em grupos que criaram o ódio institucionalizado entre si, esses grupos já se tinham afastado do conselho de Cristo, para que se amassem uns aos outros.

Também houve um momento na história em que a maioria dos Protestantes deixaram de aceitar os líderes das igrejas Católica e Ortodoxas como sendo doutrinariamente correctas. Não sei quais os critérios usados para determinar o momento exacto de ruptura na história; mas para mim é claro que a Aliança de Cristo, conforme definida no Evangelho de João, tinha sido violada. Os Cristãos tinham substituído o “amor sincero pelos irmãos” pela preocupação com a interpretação da doutrina (A cruz deve ter um, dois ou três braços? Cristo era uma vontade, ou essência, ou energia com o Pai? É a fé, a graça ou as obras, ou todas as três que salvam uma pessoa?) e atribuíram maior importância aos “sacramentos” e ao rigor doutrinário do que às virtudes Cristãs, como o amor ou a caridade.

Se, tal como Cristo disse, as Suas palavras servem como critério pelo qual o crente – ou num contexto mais amplo, o corpo dos crentes – é julgado, então a que palavras é que Ele se refere, senão aquelas na Sua mensagem final aos Seus discípulos amados?

Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando… Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros. (João, 15:14,17)

Assim, expliquei ao Pastor Dan que os Bahá’ís não aceitam a doutrina da igreja conforme definida pelos vários concílios; pelo contrário, aceitamos a Palavras de Deus revelada. Os Bahá’ís não têm dogmas, nem rituais, nem clero; e, na verdade, acreditam que os ensinamentos de Bahá'u'lláh constituem uma nova aliança entre Deus e a humanidade. Esta é a mesma aliança que foi feita no passado por Mensageiros tão diferentes como Krishna e Cristo:

Eu sou o Caminho e o Mestre que ensina em silêncio; o teu amigo e o teu abrigo e a tua morada da paz. Eu sou o princípio, o meio e o fim de todas as coisas; a sua semente de Eternidade e seu Tesouro supremo. (Krishna, Bhagavad Gita 9:16-18) 

Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes visto. (João 14:6-7)

E em jeito de conclusão, lembro umas palavras de Bahá'u'lláh:

...Ele manifestou aos homens as Estrelas da Sua orientação Divina, os Símbolos da Sua unidade divina, e decretou que o conhecimento destes Seres santificados fosse idêntico ao conhecimento do Seu próprio Ser. Quem os reconheceu, reconheceu Deus. Quem deu ouvidos aos Seus chamamentos, deu ouvidos à voz de Deus, e quem testemunhou a verdade das Suas revelações, testemunhou a verdade do próprio Deus… Cada um deles é o Caminho de Deus que liga este mundo aos reinos do alto… Eles são os Manifestantes de Deus entre os homens, as evidências da Sua Verdade, os sinais da Sua glória. (Gleanings from the Writings of Baha'u'llah, XXI)

Bahá’u’lláh refere a Aliança entre o Mensageiro divino e os crentes como o “pivot da unicidade da humanidade”. Numa época em que a desunião entre diferentes segmentos da sociedade pode provocar um tormento indescritível, a destruição dos inocentes e a fragmentação da sociedade global, os Bahá'ís trabalham pela unidade.

Na verdade, os Bahá'ís acreditam que a unidade internacional, religiosa e racial caracteriza esta fase de amadurecimento da humanidade. Convidamos todas as pessoas, de qualquer segmento social ou sistema de crenças, a analisar a mensagem de Bahá’u’lláh, a colocar questões tal como fez o Pastor Dan e a decidir por si próprias sobre a verdade dos ensinamentos Bahá’ís.

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Texto original: Baha'i and Church Doctrine (bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

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