sexta-feira, 2 de abril de 2021

O Maior Milagre da Ressurreição

Por Tom Tai-Seale.


Para muitos Cristãos que foram educados com a ideia da ressurreição como verdade literal, uma interpretação simbólica pode parecer difícil de aceitar. Mas as explicações alegóricas não são novas. Elas são tão antigas quanto o apologista cristão do segundo século, Orígenes e a sua obra De Principiis. Revendo o seu trabalho, um investigador cristão escreveu:

Orígenes estava convencido que os símbolos da escatologia cristã original - céu, inferno, ressurreição, a Segunda Vinda de Cristo - não deveriam ser rejeitados apenas porque os crentes literalistas os entendiam de uma forma crua e prosaica ... (Ele) criticava a noção de que a ressurreição do corpo significa uma ressuscitação literal desta estrutura física actual. (Chadwick, p. 106)

Muitos investigadores modernos concordam. Um bispo da Igreja de Inglaterra escreveu sobre a ressurreição:

Dos resumos que apresentámos, é difícil evitar a conclusão de que estamos no domínio do romance religioso, e não da história religiosa. Os primeiros cristãos estavam convencidos de que o Espírito do Senhor Jesus estava com eles. Para sua grande alegria, a Sua paz repousou sobre eles. A Sua orientação contínua era a sua crença fundamental. Eles receberam essa orientação quando tiveram de ser tomadas decisões críticas. Sentiram que o próprio Senhor estava presente nas suas reuniões e, particularmente, na "partilha o pão". Como é que Ele estava assim presente e activo? Ele obviamente devia estar vivo. Mas, se estava vivo, Ele devia ter ressuscitado dos mortos. As histórias do túmulo vazio e das aparições após a ressurreição são tentativas para explicar como Ele ressuscitou para a vida eterna; tentativas para fundamentar a certeza espiritual através de factos materiais. A convicção religiosa deu início à história: a actividade da fé, com uma seriedade impressionante, acrescentou detalhes. (The Rise of Christianity, p. 170, citado em Ferraby’s All Things Made New, p. 178.)

Um outro bispo, o Dr. David Jenkins de Durham, concorda. Para ele, a explicação racional do túmulo vazio significa que os discípulos roubaram o corpo. Michael Goulder, Professor de Teologia na Universidade de Birmingham, escreve sobre a experiência de ressurreição de Pedro:

Na manhã do domingo de Páscoa, Pedro chegou ao mesmo tipo de resolução, uma experiência de conversão em forma de visão. Surgiu-lhe a incrível "verdade" para resolver todos os seus problemas: Jesus afinal não estava morto; tinha ressuscitou; tinha sido levado para a direita de Deus, no céu; e em breve voltaria para estabelecer o seu reino poderoso. A experiência de Pedro foi imediatamente contada aos outros, e tão grande é o poder da histeria numa pequena comunidade que, à noite, à luz de velas, com o medo da prisão ainda bem presente e com a esperança da resolução nascendo também neles, parecia que o Senhor entrava pela porta trancada, vinha até eles e ia-se novamente embora... Para os primeiros cristãos, essas visões de conversão pareciam claramente ser milagres. Jesus estava vivo, pois eles tinham-no visto; Deus justificava Jesus como seu Filho. As primeiras tradições eram todas na forma: "Ele foi visto ..." Meio século depois, Lucas e João adicionaram histórias que enfatizam a sua materialidade: como os discípulos comeram com ele e os incrédulos tocaram nele. (The Myth of God Incarnate, edited by John Hick. pp. 59-60)

Outro académico Cristão, James Mackey, concorda e apresenta uma explicação sobre o significado da pregação da ressurreição:

Assim, o papel da pregação da ressurreição, o papel das histórias sobre a ressurreição é registar - em termos "mitológicos" - esse facto conhecido da pregação e manter a fé dos seus seguidores. (Jesus the Man and the Myth, SCM Press, 1979, p.89)

Estes entendimentos sofisticados e metafóricos sobre a ressurreição estão claramente dentro da faixa do pensamento cristão moderno aceite sobre o assunto. Sabemos agora que a ressurreição foi e é um evento psicológico. A ressurreição física, como se acreditava popularmente, nunca aconteceu.

Isto leva-nos a esta importante conclusão - a ressurreição psicológica representa verdadeiramente o maior milagre, e é isso que opera no Cristianismo desde os dias da crucificação de Jesus. Isto torna o encontro existencial com a realidade espiritual de Jesus, o Senhor vivo, o facto mais importante da ressurreição - não é o encontro um corpo físico. Este milagre é maior porque é imanente, eterno e universal; pode acontecer com todos nós e não requer o corpo físico de Jesus.

Na verdade, como já puderam ler noutros artigos, os Bahá'ís acreditam que a ressurreição se refere à fé que os discípulos descobriram alguns dias após a morte de Jesus. Todo o Cristianismo depende desta fé, que nos dá a consciência de que o Senhor não morreu:

Quanto à luz que testemunhas: não é uma luz terrestre (um fenómeno captado pelos sentidos); pelo contrário, é uma luz celestial. Não pode ser visto pelo olhar; pelo contrário, é percebida pelo percepção.
Quanto à ressurreição do corpo de Cristo três dias após a Sua partida: isto significa que os ensinamentos divinos e a religião espiritual de Sua Santidade Cristo, que constituem o Seu corpo espiritual, que está vivo e é perpétuo para sempre. Por “três dias” da Sua morte pretende-se dizer que após o grande martírio, a percepção dos ensinamentos divinos e a difusão da lei espiritual abrandaram devido à crucificação de Cristo, pois os discípulos ficaram um pouco perturbados com a violência dos testes divinos. Mas quando eles se tornaram firmes, aquele espírito divino ressuscitou e aquele corpo – que significa a palavra divina – ergueu-se. (‘Abdu’l-Bahá, Tablets of ‘Abdu’l-Bahá v1, p. 192)

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Texto Original: The Greatest Miracle of the Resurrection (www.bahaiteachings.org)


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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas AM University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahá’í: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.

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