sábado, 21 de abril de 2018

Ressurreição: as diferenças entre os Evangelhos de Marcos e Mateus

Por Tom Tai-Seale.


As ressurreições dos Manifestantes Divinos não são do corpo. Todos os Seus estados, as Suas condições, os Seus actos, as coisas que definiram, os Seus ensinamentos, as Suas afirmações, as Suas parábolas e as Suas instruções têm um significado espiritual e divino, e não têm ligação com coisas materiais. (‘Abdu'l-Bahá, Some Answered Questions, p. 103)
Se queremos, realmente, compreender a ressurreição, precisamos estudar as narrativas nos Evangelhos.

Podemos aprender muito sobre a ressurreição examinando as narrativas dos evangelhos pela ordem em que foram escritas. O Evangelho de Marcos - o primeiro dos evangelhos a ser escrito - não continha qualquer narrativa da ressurreição. Na sua obra História da Igreja, Eusébio, o primeiro grande historiador cristão, diz-nos que a narrativa da ressurreição que agora existe em Marcos foi adicionada mais tarde por um autor conhecido como Aristion. A narrativa original terminava com Maria Madalena, Salomé e Maria (a mãe de Tiago) a encontrar um jovem sentado no interior do túmulo vazio. O jovem no túmulo disse-lhes: "Mas ide, dizei aos seus discípulos, e a Pedro, que Ele vai adiante de vós, para a Galileia; ali O vereis, como Ele vos disse."

O versículo seguinte - que diz que elas fugiram do túmulo vazio - encerra a narrativa. Por outras palavras, Marcos não descreveu nenhum reaparecimento físico de Jesus aos Seus discípulos. Alguns argumentam que Marcos sugere uma ressurreição física nesse final, mas isso representa apenas um de muitos significados possíveis. Por exemplo, o jovem que fala no túmulo pode ter pertencido a um grupo enviado para recuperar o corpo e levá-lo para a Galileia. E as suas instruções para as mulheres podem ter simplesmente reforçado a mensagem para ir ao local de encontro pré-estabelecido, conforme especificado em Marcos 14:28. Não está claro se o corpo que eles levaram estava morto ou, devido à necessidade de terminar a crucificação rapidamente, talvez ainda estivesse vivo, embora gravemente ferido.

Como vimos, Marcos escreve que quando as três mulheres foram ao sepulcro e o encontraram aberto também encontraram um jovem sentado no túmulo. Mateus (28:2) relata o mesmo evento de forma diferente: menciona que apenas duas mulheres foram ao sepulcro (não refere Salomé) e que, quando se aproximaram, "houvera um grande terramoto, porque um anjo do Senhor, descendo do céu, chegou, removendo a pedra, e sentou-se sobre ela."

Marcos nada diz sobre um terramoto ou sobre um anjo. À medida que a narrativa de Mateus (28:9) prossegue, o anjo diz às mulheres para saírem e avisarem os discípulos que Cristo se ergueu dos mortos. Ele diz: "E, indo elas, eis que Jesus lhes sai ao encontro, dizendo: Eu vos saúdo. E elas, chegando, abraçaram os seus pés, e o adoraram." Seguidamente, diz-se que Jesus apareceu num monte na Galileia a onze discípulos: “E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram.” (28:17)

Devemos acreditar na visão de Marcos ou de Mateus? Atendendo à inclinação de Mateus para o exagero - como se percebe nas suas narrativas exageradas dos milagres descritos por Marcos - não será a versão de Marcos mais credível? Não estaria Mateus a escrever para um público com paixão e expectativa de milagres? Estaria apenas a relatar algumas das histórias fantásticas que escutara? Ou será que juntou os relatos literais e figurativos e deixou que os leitores fizessem a sua interpretação?

Estas questões não são fáceis de responder, mas algumas observações adicionais podem ajudar-nos a encontrar a verdade. O relato de Mateus é muito espartano. Não contém diálogos. As duas Marias e os onze discípulos nada têm a dizer a Jesus - o que é improvável, se de facto Jesus tivesse ressuscitado fisicamente. A acção também passa de um lugar para outro sem explicação dos passos intermédios. Jesus vai do sepulcro para a Galileia e depois para lugar nenhum. Nada é dito sobre para onde vai Jesus, nem o que Ele faz após o encontro com as duas Marias, ou depois de encontrar os discípulos. Não acontece a Ascensão final. E por outro lado, o autor mistura imagens materiais e espirituais de uma forma que nos deixa constantemente a questionar qual é qual. Estará ele a falar de um terramoto e um anjo físicos - e qual seria o aspecto do anjo? Será o monte da Galileia uma referência a um monte físico ou a um monte de fé? Terá a ressurreição sido física ou espiritual? E se fosse física como poderia algum discípulo duvidar?

Os Bahá’ís acreditam que apenas podem ser respondidas se recusarmos o sentido literal destas narrativas. No próximo artigo sobre Lucas e João, essa conclusão torna-se ainda mais forte.

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Texto Original: The Conflicting Gospels of Mark and Mathew (www.bahaiteachings.org)

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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A&M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Baha'i: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.

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