sábado, 22 de janeiro de 2022

O consumo de drogas leves como a marijuana é mesmo inofensivo?

Por Zarrin Caldwell.


Há alguns dias atrás li uma estatística surpreendente: o excesso de marijuana (“maconha”) no Oregon (Estados Unidos) provocou um aumento do consumo de drogas e poucos candidatos a emprego que conseguem passar num teste de despistagem de drogas!

E seguindo esta tendência, e para minha consternação, vários amigos e familiares que anteriormente evitavam qualquer envolvimento com drogas parecem agora apoiar o crescimento da indústria da cannabis. Afinal, tornou-se um negócio lucrativo e uma fonte de receita fiscal significativa.

Reconheço que há o argumento “não é pior que o álcool”, e entendo a complexidade dos prós e dos contras da legalização. Embora eu não tenha apoiado o uso recreativo de drogas, estas conversas fizeram-me pensar se eu não estaria a ser muito puritana. Orgulho-me de ter um sistema de valores forte, mas, numa era ultraliberal, eu sou frequentemente acusada de ser “antiquada”.

Assim, decidi procurar nas Escrituras Bahá'ís o que se diz sobre o assunto. Na realidade, alguns das expressões mais fortes das Escrituras Bahá'ís proíbem o uso de drogas, especialmente o ópio e o haxixe. Numa epístola, ‘Abdu'l-Bahá afirmou que: “o utilizador, o comprador e o vendedor [de ópio] estão todos privados da generosidade e graça de Deus”. (citado pela Casa Universal de Justiça no Livro Mais Sagrado, de Bahá'u'lláh)

Num outro excerto, este sobre haxixe – uma droga feita de resina da cannabis – 'Abdu'l-Bahá disse:

Em relação ao haxixe, você referiu que alguns persas se habituaram a usá-lo. Deus Gracioso! Este é o pior de todos os intoxicantes, e a sua proibição foi explicitamente revelada. A sua utilização causa a desintegração do pensamento e o completo entorpecimento da alma. Como poderia alguém procurar o fruto da árvore infernal e, ao comê-lo, ser levado a exemplificar as qualidades de um monstro? Como poderia alguém usar esta droga proibida e assim privar-se das bênçãos do Todo-Misericordioso? O álcool consome a mente e leva o homem a cometer actos absurdos, mas esse ópio, esse fruto podre da árvore infernal e esse haxixe perverso extinguem a mente, congelam o espírito, petrificam a alma, desperdiçam o corpo e deixam o homem frustrado e perdido. (Idem, pags. 238-239)

De acordo com o site addiction.com, o “Haxixe é um canabinoide, o que significa que é feito de cannabis ou da planta da marijuana. É um composto químico que produz os mesmos efeitos psicotrópicos da marijuana.” O ingrediente activo do haxixe e da marijuana é o tetrahidrocanabinol, também conhecido como THC.

Embora os ensinamentos Bahá'ís exijam que os Bahá'ís se abstenham dessas e de outras drogas viciantes similares, o seu uso não é necessariamente proibido quando prescrito por um médico habilitado como parte de um plano de tratamento médico – para aliviar a dor, por exemplo.

No entanto, para o uso recreativo, duvido que muitos estejam realmente pensando nas consequências a longo prazo do uso livre de marijuana para todos, particularmente os impactos nos jovens e adultos jovens. Um resumo de um editorial de Maio de 2018 de Judithe Grisel no Washington Post, por exemplo, afirma o seguinte:

Os estudos mostram que os adolescentes que fumam marijuana regularmente têm actividade reduzida nos circuitos cerebrais críticos para perceber novas informações e tomar decisões; eles têm menos de 60% de probabilidade de concluir o ensino secundário, “têm um risco substancialmente maior de dependência de heroína e alcoolismo” e são sete vezes mais propensos a tentar o suicídio. Estudos recentes mostram até que o THC pode activar ou desactivar a expressão genética no epigenoma de um adolescente, colocando os filhos dos consumidores jovens “em risco acrescido de doença mental e dependência” anos antes de serem concebidos.

Por outras palavras, se não queremos mais uma geração de viciados, podemos começar por ajudar os jovens a decidir não usar drogas. Incentivar os jovens a experimentar substâncias que alteram a mente pode levá-los por um caminho sem regresso, especialmente para aqueles que têm uma predisposição genética para se tornarem viciados. Como se afirmava num artigo de 2017 no BahaiTeachings.org sobre vícios em opioides, 90% de todos os vícios em drogas começam na adolescência.

Os esforços de prevenção são críticos. Eu cresci na Fé Bahá'í e fui ensinada a evitar esse caminho a todo o custo. Além das diretrizes mencionadas acima, os meus pais deram-me um bom exemplo e ter-me-iam matado (figurativamente falando) se eu tivesse começado a usar drogas. Não tenho filhos, mas penso que muitos jovens de hoje estão a crescer com mensagens diferentes - que reflectem as atitudes negligentes da comunicação social sobre o uso de drogas - e vendo os seus pais a abusar do álcool, a tomar opioides (agora em proporções epidémicas nos EUA) ou fumar marijuana. Isso pode-se tornar o único caminho que eles conhecem.

Circunstâncias difíceis ou eventos traumáticos da vida podem colocar alguns jovens nesse caminho. Mas, se eles têm modelos fortes ou, mais fundamentalmente, um propósito maior na vida, é menos provável que procurem o mundo das drogas para fugir à realidade:

Todos os homens foram criados para levar avante uma civilização em constante progresso. O Omnipotente dá-Me testemunho: agir como os animais do campo é indigno do homem. As virtudes que se adequam à sua dignidade são a paciência, a misericórdia, a compaixão e a benevolência para com todos os povos e famílias da terra. (Bahá'u'lláh, Gleanings, CIX)

Por outras palavras, estamos destinados a coisas muito maiores do que o consumo de drogas e entretenimento irracional. Muitas pessoas percebem que as drogas nunca saciarão a sua sede mais profunda – e anseios por conexão, amor e significado – que podem estar ausentes nas suas vidas. As Escrituras Bahá'ís apelam repetidamente à humanidade para recuperar essa herança espiritual perdida:

Inebriai-vos com o vinho do amor de Deus, e não com aquilo que enfraquece as vossas mentes, ó vós que O adorais. (Bahá'u'lláh, citado por Shoghi Effendi em The Advent of Divine Justice, p. 33)

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Texto original: Are Habit Forming Drugs like Marijuana Really Harmless? (www.bahaiteachings.org)


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Zarrín Caldwell é uma Bahá’í residente no Arizona (EUA). Tem trabalhado para diversas uma variedade de organizações internacionais sem fins lucrativos, em cargos de comunicação e gestão de programas. A sua experiência profissional centra-se nas organizações multilaterais, relações inter-religiosas, construção da paz e educação internacional. Tem viajado por muitos países e considera-se uma cidadã do mundo.

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