Os Bahá’ís acreditam que religião e política não combinam bem.
Os ensinamentos Bahá’ís descrevem claramente a religião e a política como duas esferas separadas da actividade humana:
A religião preocupa-se com as coisas do espírito, a política com as coisas do mundo. A religião tem que trabalhar com o mundo do pensamento, enquanto o campo da política se foca no mundo das condições externas. ('Abdu'l-Bahá, Paris Talks, p. 132)
'Abdu'l-Bahá falou muitas vezes sobre o contraste entre a actividade política e espiritual, mas a sua palestra sobre o assunto em Paris, em 1911, apresentou definitivamente o ideal Bahá’í de separação de religião e política de uma nova maneira - focada no amor:
Devemos encontrar um meio de espalhar o amor entre os filhos da humanidade. O amor é ilimitado, imenso, infinito! As coisas materiais são limitadas, circunscritas, finitas. Não se pode exprimir apropriadamente amor infinito com meios limitados.
O perfeito amor necessita de um instrumento altruísta, absolutamente livre de todo o tipo de grilhões. O amor da família é limitado; o laço da consanguinidade não é a mais forte das ligações. Frequentemente, os membros da mesma família discordam, e chegam a odiar-se uns aos outros.
O amor à pátria é finito; amar um país e provocar ódio aos outros não é amor perfeito! Os compatriotas também não estão livres de disputas entre si.
O amor à raça é limitado; há aqui alguma união, mas isso é insuficiente. O amor deve ser livre de fronteiras! Amar a nossa própria raça pode significar aversão a todas as outras; até pessoas da mesma raça, frequentemente, antipatizam uns com os outros.
O amor político está muito ligado ao ódio de um partido contra outro; este amor é muito limitado e incerto.
O amor da comunidade de interesses em servir é igualmente flutuante; muitas vezes surgem as competições, levando à inveja e, por fim, o ódio substitui o amor. Há alguns anos, a Turquia e a Itália mantinham um acordo político de amizade; hoje estão em guerra!
Todos estes laços de amor são imperfeitos. É claro que os laços materiais são insuficientes para expressarem adequadamente, o amor universal. O grande e generoso amor pela humanidade não está preso a nenhum desses laços imperfeitos e interesseiros; este é o único perfeito amor, possível a toda a humanidade, e somente será conseguido através do poder do Espírito Santo. Nenhuma força na terra pode realizar o amor universal. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 36)
Visto que a Fé Bahá'í ensina que o amor por toda a humanidade pode revigorar o mundo e levar à sua unidade, os Bahá’ís entendem que escolher um lado ou outro nas divisões políticas partidárias do nosso tempo só servirá para manter a fragmentação e desunião.
Isto não significa que os Bahá’ís evitem o envolvimento nas sociedades onde vivem. Na verdade, Bahá’u’lláh exorta os Bahá’ís a ser parte activa na sociedade civil, a trabalhar com entusiasmo e persistência na melhoria das suas aldeias, vilas e cidades:
Preocupai-vos veementemente com as necessidades da época em que viveis, e centrai as vossas deliberações nas suas exigências e requisitos (Baha’u’llah, The Proclamation of Baha’u’llah, p. 116)
É claro que os Bahá’ís votam nas eleições dos seus países; e votam na pessoa que consideram mais ética e mais capacitada para o cargo. Os Bahá’ís não votam segundo orientações partidárias, não se identificam com partidos políticos, nem aceitam cargos políticos, preferindo dedicar as suas energias ao crescimento espiritual da humanidade:
A política dedica-se às coisas materiais da vida. Os eruditos religiosos não devem invadir o campo da política; devem preocupar-se com a educação espiritual do povo; devem sempre dar bons conselhos aos homens, procurando servir Deus e a espécie humana; devem esforçar-se por despertar a ambição espiritual, alargar a compreensão e o conhecimento da humanidade, melhorar os costumes e incrementar o amor pela justiça. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 158)
Que, de boa vontade, se sujeitem a todo rei justo, e sejam bons cidadãos para com todo o governante generoso. Que obedeçam ao governo e não intervenham em questões políticas, mas antes, se dediquem ao aperfeiçoamento do carácter e da conduta, e fixem o seu olhar na Luz do mundo. (‘Abdu’l-Bahá, Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, #236)
Esta relação única entre a Fé Bahá’í e as muitas nações e culturas onde ela está presente, significa que os Bahá’ís concentram os seus esforços na construção de uma nova comunidade global. O facciosismo partidário, como ‘Abdu’l-Bahá indica, nunca conseguirá construir a unidade entre todas as pessoas - apenas a fé no amor universal e na paz o conseguirá. Os Bahá'ís acreditam que o mundo entrou num período de transição de um conjunto de regras políticas para outro - que os velhos princípios divisivos da política partidária acabarão dando lugar a um novo corpo político, agora em processo de formação, que irá, em última análise, unificar as nações e os povos em conflito.
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Texto original: Religion and Politics: A Baha’i Perspective (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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