Com uma guerra muito intensa, uma pandemia assustadora, caos climático e democracias em discórdia, precisamos de protecção para não sucumbir à ansiedade ou ao desespero.
Um poderoso preventivo – ou antídoto – é passar o tempo com o livro A Presença de Deus,[1] que Shoghi Effendi escreveu nos dias perigosos da Segunda Guerra Mundial.
Aqui está um guia para o leitor da “maior obra épica do milénio”.[2]
O que é o livro A Presença de Deus?
Publicado em 1944, o livro é a única narrativa completa escrita por Shoghi Effendi, facto que comprova a importância que ele atribuía ao seu conteúdo.
Trata-se de um levantamento histórico dos primeiros 100 anos da Fé Bahá'í. Os seus 25 capítulos cobrem os Ministérios do Báb, Bahá'u'lláh e ‘Abdu’l-Bahá, e ainda os primeiros 23 anos da Era Formativa da Fé.
Quem escolheu o título?
Ao pedido de Shoghi Effendi para sugerir um título, o seu conselheiro editorial de longa data, George Townshend, da Irlanda (nomeado Mão da Causa, em 1951), respondeu num telegrama com três palavras: “God Passes By” (em português foi adoptado o título “A Presença de Deus”). O Guardião respondeu: “Título Encantador”. Este título pode ser visto como uma referência poética à revelação progressiva.
É um livro grande?
É uma obra exaustiva, mas não é extraordinariamente longa.
Como escreveu o Sr. Ali Nakhjavani na sua excelente descrição [3], tem 412 páginas, das quais 41 páginas são citações de Escrituras Sagradas e de outras pessoas.
Possui três seções autónomas úteis: um prefácio e “retrospectiva e perspectiva” por Shoghi Effendi, e uma introdução do Sr. Townshend.
Qual o objectivo de Shoghi Effendi ao escrever este livro?
O Guardião disse que o seu objetivo não era escrever uma história detalhada, mas sim um levantamento dos eventos importantes ligados ao nascimento e ascensão da Fé Bahá'í e do seu sistema administrativo.
Também afirmou que pretendia mostrar como desastres e outros insucessos muitas vezes se tornaram um prelúdio para novos e estimulantes triunfos que consolidaram conquistas passadas.
E porque não podemos ler apenas resumos?
Os resumos são úteis, e estamos habituados a lê-los; mas este livro detalhado apresenta relatos e perspectivas extensas que criam as bases de um entendimento profundo que alimentam a nossa inspiração e firmeza.
E que efeito pode ter em nós?
Os Bahá'ís estão agora ser chamados em envolverem-se em processos de reconstrução da sociedade; isto é extremamente importante num mundo que enfrenta desafios, não tem confiança, nem esperança.
O livro “A Presença de Deus” vai despertar, inspirar e confirmar a crença na promessa de Bahá'u'lláh de que uma idade de ouro aguarda a humanidade quando ela estiver unida na forma de uma sociedade baseada na justiça e no amor.
Também nos apresenta modelos – os nossos nobres antecessores dos primeiros 100 anos e o exemplo derradeiro, ‘Abdu'l-Bahá, que o autor conhecia tão bem.
Há também algo intrinsecamente agradável na leitura deste livro, algo bastante misterioso. Isso pode fortalecer ainda mais nossos laços emocionais e intelectuais com a Fé Bahá'í.
O livro aborda os acontecimentos actuais?
O leitor perceberá a relevância da prescrição para a paz apresentada por Bahá'u'lláh - uma sociedade global unida - que evitaria guerras, pandemias e emergências climáticas.
Há outra razão também, como assinalou a Mão da Causa Ugo Giachery:
Conhecer a obra literária de Shoghi Effendi é conhecê-lo e amá-lo, penetrar profundamente na descoberta da sua personalidade e do mundo de realidade em que ele viveu. [4]
Como é que Shoghi Effendi o escreveu?
Shoghi Effendi |
Frequentemente, Shoghi Effendi lia as suas frases em voz alta enquanto as escrevia e alterava-as se considerasse necessário. Ele escrevia à mão em pequenos blocos e depois dactilografava o texto; posteriormente, acrescentava acentuação e sinais gráficos.
Durante dois anos, ele trabalhou cerca de 10 horas por dia no manuscrito para cumprir o prazo do aniversário de 1944; tinha os olhos cansados e avermelhados, as costas doridas de exaustão e estava ciente de que – além do livro - precisava ainda de trabalhar no projecto de desenvolvimento do Santuário do Báb e responder à enorme quantidade de correspondência que recebia regularmente.
Qual é a melhor maneira de o ler?
Eu recomendo que leiam o livro da mesma forma que comem um bolo de frutas: uma fatia de cada vez, com tempo para digerir lentamente cada pedaço.
É melhor não ter pressa para chegar ao fim do livro.
Leiam um capítulo de cada vez. A maioria tem menos de 20 páginas. Vejam o índice que explica brevemente o conteúdo de cada capítulo.
O Guardião era um especialista em resumir informações. Cada capítulo é rico em factos e análises, e algumas linhas podem ser fascinantes se as lermos com calma.
Existem frases longas que, se destacadas, podem ser lidas linha a linha, surpreendendo-nos com a sua beleza e visão. Sugiro que as leiam em voz alta.
Mas é um livro difícil de ler?
Não é difícil, se o lermos devagar. No entanto, é um livro com alguns desafios, e por isso oferece-nos o bónus da formação gratuita. Ruhiyyih Khanum disse que Shoghi Effendi estabeleceu um padrão que “educa e eleva o nível cultural” dos leitores ao mesmo tempo em que alimenta as suas “mentes e almas com pensamentos e verdade”.
Como é que os historiadores Baha’is vêem o livro?
A descrição “Mãe” de futuras histórias – feita por Ruhiyyih Khaum, no seu livro The Priceless Pearl [5] – dá-nos uma ideia do seu valor para os historiadores Bahá’ís.
Ela afirmou, e os historiadores Bahá’ís certamente concordarão, que o livro é:
...uma verdadeira essência das essências; destes cem anos de história única, podiam-se facilmente escrever cinquenta livros e nenhum deles seria superficial ou fraco de conteúdo, tão rica é a fonte fornecida pelo Guardião, tão condensado o tratamento que ele lhe deu.
Como é que os autores Bahá’ís vêem Shoghi Effendi como escritor?
Esta citação de Ugo Giachery diz tudo:
Ele abordou um assunto intangível de uma maneira que nenhum outro escritor conseguiria abordar, por falta da estatura espiritual que ele possuía. A sua pena perscrutou os mais remotos atalhos dos sentimentos humanos, trazendo lágrimas aos olhos e prendendo o coração com uma variedade de novas emoções.[6]
Existe alguma boa descrição do livro?
George Townshend escreveu de forma eloquente na sua introdução que o livro é:
...uma história plena de amor, felicidade, visão e força, narrando os triunfos conseguidos e triunfos mais amplos que ainda estão por alcançar; e o que quer que ele contenha de tragédia sombria, deixa a humanidade, no seu final, não enfrentando um futuro sombrio e inóspito, mas saindo da estrada de sombras de densidade inevitável em direcção aos portões abertos da Cidade Prometida da Paz Eterna.
Como é Shoghi Effendi via a história do primeiro século da Fé Bahá’í?
Ele escreveu sobre um “drama indivisível, fantástico e sublime, cujo mistério nenhum intelecto pode sondar, cujo clímax nenhuns olhos podem discernir, mesmo que vagamente, cuja conclusão nenhuma mente pode prever adequadamente”.
Quem é a figura central do livro?
Townshend escreveu: “A narrativa gira em torno de uma majestosa Figura solitária, e a sua motivação que a anima é o amor infinito transcendente que Ele tem por toda a humanidade e o amor que Ele faz emanar dos corações dos fiéis”.
Além disso, as descrições do Mestre são brilhantes. Veja-se o capítulo XIX, por exemplo.
O que diz o autor sobre ele próprio como Guardião?
Demonstrando um nível surpreendente de humildade, Shoghi Effendi não escreveu quase nada sobre si próprio em A Presença de Deus. No prefácio, ele escreveu brevemente sobre o seu objectivo ao escrever o livro, mas no próprio texto há apenas uma breve menção à instituição da Guardiania na lista das disposições da Vontade e Testamento do Mestre.
Existe alguma edição em persa?
Depois de concluir a edição em inglês de A Presença de Deus, Shoghi Effendi escreveu uma “epístola” de 100 páginas em persa sobre o mesmo assunto, uma obra-prima. Ruhiyyih Khanum disse: “Eu ouvia a sua voz entoando a sua composição para si próprio enquanto escrevia, infinitamente doloroso, infinitamente bonito”.
Que exemplos mostram a excelente qualidade da escrita?
Há duas frases na primeira página do capítulo de abertura que dão uma ideia da qualidade da escrita:
Contemplamos, enquanto examinamos os episódios deste primeiro acto de um drama sublime, a figura do seu Herói Principal, o Báb, surgindo como um meteoro no horizonte de Shiraz, atravessando o céu sombrio da Pérsia, de sul a norte, desvanecendo-se com uma trágica rapidez, e perecendo numa explosão de glória. Vemos os Seus satélites, uma galáxia de heróis inebriados por Deus, surgirem no mesmo horizonte, irradiar a mesma luz incandescente, consumindo-se com a mesma rapidez e dando, por sua vez, um impulso adicional à velocidade cada vez mais acentuada da emergente Fé de Deus.
Que outros livros podem aumentar o nosso apreço pelo livro A Presença de Deus?
1.The Priceless Pearl por Ruhiyyih Rabbani
2. Shoghi Effendi: The Range and Power of His Pen por Ali Nakhjavani
3. Shoghi Effendi: Recollections por Ugo Giachery
4. A Celestial Burning: A Selective Study of the Writings of Shoghi Effendi por J. A. McLean
Onde posso ler o livro?
É possível ler o livro A Presença de Deus, na sua totalidade no site http://bahairesearch.com/
Também é possível adquirir um exemplar na Livraria Baha’i do Brasil: A Presença de Deus.
Espero que aumente o seu interesse por esta história “plena de amor, felicidade, visão e força”.
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REFERÊNCIAS:
[1] Shoghi Effendi, God Passes By (1944), Wilmette, Il: Baha’i Publishing Trust, rev. ed. 1974
[2] Ugo Giachery, Shoghi Effendi: Recollections. Oxford: George Ronald, 1973, p. 37
[3] Ali Nakhjavani, Shoghi Effendi: The Range and Power of His Pen. Rome: Casa Editrice Baha’i. rev.ed. 2007
[4] Ugo Giachery, Shoghi Effendi: Recollections, p. 29
[5] Rabbani, Ruhiyyih. The Priceless Pearl. London: Baha’i Publishing Trust, 1969
[6] Giachery, Shoghi Effendi: Recollections, p. 31
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Texto Original: A User’s Guide to God Passes By (www.bahaiblog.net)
Michael Day é autor de "Journey to a Mountain", "Coronation on Carmel" e "Sacred Stairway", uma triologia que descreve a história do Santuário do Báb, e também do livro de fotos “Queen of Carmel”, sobre o mesmo assunto. Foi jornalista em jornais diários na Austrália e na Nova Zelândia. Entre 2003 e 2006 foi editor do Baha’i World News Service no Centro Mundial Baha’i. Actualmente vive na Austrália e dedica-se à investigação e escrita da história Bahá’í.
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Michael Day é autor de "Journey to a Mountain", "Coronation on Carmel" e "Sacred Stairway", uma triologia que descreve a história do Santuário do Báb, e também do livro de fotos “Queen of Carmel”, sobre o mesmo assunto. Foi jornalista em jornais diários na Austrália e na Nova Zelândia. Entre 2003 e 2006 foi editor do Baha’i World News Service no Centro Mundial Baha’i. Actualmente vive na Austrália e dedica-se à investigação e escrita da história Bahá’í.
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