A obra mais nobre de um homem é pôr ao serviço dos outros todos os seus dons e poderes. (Sófocles)
A alegria só pode ser real se as pessoas considerarem a sua vida como um serviço, e tiverem um objectivo definido na vida fora de si mesmas e da sua felicidade pessoal. (Leon Tolstoy)
O destino superior do indivíduo é servir e não governar. (Albert Einstein)
No início da minha carreira, a vida profissional levou-me às legislaturas estaduais da Califórnia e de outros estados, depois ao Congresso e à Casa Branca em Washington, DC. Ali aprendi muitas coisas.
Primeiro, aprendi que muitas pessoas que trabalham na administração pública fazem-no num verdadeiro espírito de serviço. No seu papel de funcionários públicos, eles querem realmente ajudar os outros. Nem todos os líderes eleitos ou nomeados desejam poder, riqueza ou fama – claro, alguns desejam, mas descobri que muitos desejam servir honestamente. Tendemos a ouvir muita publicidade negativa sobre os nossos líderes, e parte dela é certamente justificada – mas não toda.
Em segundo lugar, criei uma grande estima pelos empregados da administração pública, sejam eles eleitos ou nomeados. A maioria das pessoas que conheci e com quem trabalhei, independentemente da sua filiação partidária ou filosofia política, esforçavam-se, faziam o seu melhor e queriam honestamente tornar a vida melhor para os seus cidadãos. Trabalhavam arduamente, durante muitas horas por um salário inferior ao que poderiam ter no sector privado, por um sentido de dever e obrigação para com as pessoas que representavam. Sim, também conheci alguns que tinham segundas intenções de promoção pessoal ou de enriquecimento pessoal - mas a maioria tentava verdadeiramente servir os outros.
Em terceiro lugar, gradualmente comecei a compreender que os funcionários da administração pública exercem funções incrivelmente difíceis. Quando se tomam decisões que afectam milhares ou mesmo milhões de pessoas, quando os problemas mais controversos e difíceis de resolver chegam às suas mãos depois de muitas opiniões e grupos antagónicos não conseguirem encontrar soluções, o dirigente tem de decidir – e suas decisões nunca agradam a todos. Os dirigentes públicos são muito criticados pelas decisões que tomam, mas essas decisões de compromisso não são fáceis. Um bom líder precisa de aprender a arte do compromisso, e essa é uma competência difícil de dominar.
Em quarto lugar, aprendi que a liderança requer visão. É preciso pensar a longo prazo e ter uma missão, um conceito de futuro, um fim derradeiro para o qual trabalhamos. Por vezes, os líderes falham nesse objetivo, mas a maioria tem uma visão do tipo de sociedade que gostaria de criar. Eles fazem o melhor que podem, na maioria dos casos, para encontrar maneiras de concretizar essa visão a longo prazo. Isso não é fácil.
Em quinto e último lugar, percebi que os líderes da sociedade merecem o nosso respeito. Pessoalmente, devo admitir que quando entrei pela primeira vez nos corredores do Congresso e nos gabinetes dos líderes eleitos tinha menos respeito do que devia. Cometi o erro de acreditar em tudo o que via nas notícias, e de acreditar em parte da retórica partidária que ouvia. Além disso, subestimei seriamente a dificuldade dos trabalhos que os líderes eleitos tinham de realizar. Depois de ver, de perto e em detalhe, o que era necessário para fazer o seu trabalho, tive de começar a questionar os meus próprios preconceitos e, ao fazê-lo, passei a respeitar muito a maioria das pessoas que trabalham na administração pública. Quer eu concordasse ou não com as suas posições sobre os assuntos, percebi que tinha uma dívida de gratidão para com eles, por dedicarem as suas vidas ao serviço do público.
Sim, eu sei – estes cinco tópicos certamente não se aplicam a todos os políticos e dirigentes. Sabemos que actualmente está na moda, e até é expectável, rebaixar os políticos. Somos cínicos em relação aos nossos governos; pensamos que o sistema está viciado; suspeitamos que o dinheiro corrompe todas as pessoas; não confiamos nos poderosos e nas “elites”; estamos sempre a caluniar e falar mal dos seus esforços. Isto é completamente compreensível, porque as sondagens mostram que apenas uma pequena percentagem da população acredita que os seus líderes pensam nos seus melhores interesses. Em muitos lugares, as coisas não são assim.
Mas estes pontos de vista e atitudes, embora possam ser justificados em alguns casos, também podem formar preconceitos injustificados em relação a todos os líderes eleitos ou nomeados. Quando as acções corruptas de alguns políticos provocam a condenação de toda a classe política, esses preconceitos podem tornar-se prejudiciais, levando ao insulto, à desunião e à desconfiança em relação a todos os que querem trabalhar para o bem público. Esta desconfiança leva depois à raiva generalizada, às teorias de conspiração agressivas, à suspeição em relação a todos os governos, e a um sentimento de distanciamento entre os governados.
No entanto, os ensinamentos Bahá’ís dizem-nos que devemos adoptar uma abordagem completamente diferente na forma como pensamos e tratamos aqueles que nos governam:
Ó meus amados! O mundo está envolto na escuridão espessa da revolta aberta e está a ser varrido por um turbilhão de ódio. São os fogos da malevolência que lançam as suas chamas para as nuvens do céu, é um dilúvio repleto de sangue que corre pelas planícies e pelas colinas, e ninguém na face da terra consegue encontrar qualquer paz. Assim, os amigos de Deus devem gerar aquela ternura que vem do Céu, e conceder amor no espírito a toda a humanidade. Devem lidar com cada alma segundo os conselhos e advertências Divinas; devem mostrar bondade e boa fé para com todos; devem desejar o bem a todos. Devem sacrificar-se pelos seus amigos, e desejar boa sorte aos seus inimigos. Devem confortar as pessoas desagradáveis e tratar os seus opressores com bondade amorosa. Devem ser como água refrescante para os sedentos, e para os enfermos, um remédio rápido, um bálsamo curativo para os que sofrem e um consolo para todo o coração oprimido. Devem ser uma luz orientadora para aqueles que se desviaram, um líder seguro para os perdidos. Devem ser olhos para os cegos, ouvidos para os surdos, e vida eterna para os mortos, e alegria permanente para os desanimados.
Que se submetam voluntariamente a todo o rei justo e sejam bons cidadãos para todo o governante generoso. Que obedeçam ao governo e não se intrometam nos assuntos políticos, mas que se dediquem ao melhoramento do carácter e do comportamento, e fixem o vosso olhar na Luz do mundo. (Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, #236)
O que significa isto? Como podemos obedecer aos nossos governos quando não confiamos neles? Este conselho aplica-se a políticos e governos corruptos? Será que os Bahá’ís se afastam completamente dos processos políticos nos seus países? Nesta breve série de artigos vamos analisar a abordagem Bahá’í à política e a forma revolucionária como os ensinamentos Bahá’ís lidam com as respostas a estas questões importantes.
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Texto original: 5 Positive Things I Learned Working with Politicians (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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