sábado, 22 de junho de 2024

Porque é que existem coisas em vez de não existirem?

Por David Langness.


Alguma vez se perguntou porque é que existimos? Claro que sim — essa pergunta ocorre a todos nós, em algum momento. A ciência também faz essa pergunta, geralmente nesta forma mais ampla: porque é que tudo existe em vez de nada existir?

Em outras palavras, porque é que a existência existe? Porque é que este universo incrivelmente complexo e toda a sua vida maravilhosa surgiram?

Muitas tradições culturais e religiosas têm uma história da criação que explica como tudo começou; e algumas pessoas religiosas simplesmente responderão à pergunta com uma única palavra: "Deus". Mas essa resposta não convence todos, e por isso, a filosofia e a ciência têm-se envolvido repetidamente em várias tentativas de encontrar uma resposta.

Considerada como “a questão fundamental da metafísica” por filósofos prestigiados como Leibniz e Heidegger, a questão pede àqueles que não aceitam a crença aristotélica do “Motor Imóvel” que façam algo que muitos acham impossível: deduzir a existência de todas as coisas sem usar nenhuma explicação existencial. A ciência, é claro, tentou – a questão motivou milhares de experiências e enormes especulações durante séculos.

Aparentemente fizemos alguns progressos à procura de por uma resposta. No nosso estado actual de entendimento científico, a mecânica quântica diz-nos que não existe algo como o vazio completo. E hoje sabemos que até mesmo o vácuo mais perfeito conhecido é preenchido com nuvens de partículas subatómicas e antipartículas – que aparecem e desaparecem quase imediatamente. Por causa da sua curta vida útil, não podemos observar essas chamadas "partículas virtuais" directamente, mas sabemos que elas existem devido aos seus efeitos.

Agora conseguimos provar que até o espaço interestelar — anteriormente considerado um vácuo de baixa densidade, baixa pressão e perfeitamente vazio — contém um tênue plasma criado por ventos solares e povoado por partículas carregadas, incluindo grandes números de fotões; elementos livres como hidrogénio, hélio e oxigénio; campos eletromagnéticos; e radiação cósmica de fundo.

Por outras palavras, tanto quanto sabemos, não existe um verdadeiro vácuo. O universo, mesmo as partes que podem parecer completamente vazias, está cheio de matéria e energia – o que leva a uma conclusão profunda: não existe o nada. Esse facto levou muitos cientistas a concluir, que a ciência em si não pode responder a todas as perguntas:

A ciência diz-nos muita coisa sobre o nosso mundo! Agora entendemos, mais ou menos, de que é feita a realidade e quais forças empurram e puxam o material da existência para frente e para trás. Os cientistas também construíram uma narrativa plausível e empiricamente fundamentada da história do cosmos e da vida na Terra. Mas quando os cientistas insistem que resolveram, ou resolverão em breve, todos os mistérios, incluindo o maior mistério de todos, eles prestam um mau serviço à ciência; eles tornam-se as imagens espelhadas dos fundamentalistas religiosos que desprezam. (John Horgan, Director of the Center for Science Writings at the Stevens Institute of Technology, in Science Will Never Explain Why There’s Something Rather Than Nothing, Scientific American, April 23, 2012.)

O que nos leva de volta à pergunta inicial: se a existência começou como absolutamente nada – um vácuo completo sem espaço, tempo, matéria ou energia, nem mesmo contendo as condições iniciais propícias à sua criação, então como é que alguma coisa veio magicamente à existência a partir do nada? A ciência nunca respondeu a essa pergunta fundamental, mas os ensinamentos Bahá'ís já responderem:

O poder de Deus é eterno e sempre houve seres para manifestá-lo; é por isso que dizemos que os mundos de Deus são infinitos – nunca houve um tempo em que eles não existissem. Não se pode trazer algo a partir do nada, da mesma forma que aquilo que existe nunca é destruído; a aniquilação aparente é meramente transmutação. ('Abdu’l-Bahá, Divine Philosophy, p. 106)

O argumento cosmológico (frequentemente chamado de lei de causa e efeito) significa que todos os efeitos podem, em última análise, ser rastreados até uma “Primeira Causa” – geralmente considerada como um Criador omnisciente e omnipresente que sempre existiu e, portanto, não precisa de causalidade. Platão, Aristóteles, Aquino, Hume e Russell, entre muitos, muitos outros filósofos e teólogos, apresentaram versões dessa prova profunda. Os ensinamentos Bahá’ís referem este argumento desta forma:

A existência é de dois tipos: uma é a existência de Deus que está além da compreensão do homem. Ele, o Invisível, o Sublime e o Incompreensível, não é precedido por nenhuma causa, mas, pelo contrário, é o Originador da causa das causas. Ele, o Antigo, não teve começo e é o Independente de Tudo. O segundo tipo de existência é a existência humana. É uma existência comum, compreensível para a mente humana, não é antiga, é dependente e tem uma causa associada. (Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, #30)

Esta afirmação – de que a Primeira Causa, Deus, sempre existiu – tende a confundir a mente. Os seres humanos vivem no plano físico temporal e aceitam a realidade de uma existência limitada ao tempo; por isso, todos nós temos dificuldade em compreender uma existência atemporal. Mesmo assim, a ideia de uma Primeira Causa, um Motor Imóvel, dá-nos uma resposta profunda que explica por que existem as coisas em vez de nada existir:

É claro e evidente que o Deus uno e verdadeiro – glorificada seja a Sua menção – está santificado acima do mundo e de tudo o que nele há...

Tudo provém das moradas do pó e ao pó regressará, enquanto o Deus uno e verdadeiro, só e único, está instalado no Seu Trono, um Trono que está para lá dos limites do tempo e do espaço, está santificado acima de toda a palavra ou expressão, sugestão, descrição e definição, e está exaltado cima de toda a noção de humilhação e glória. (Baha’u’llah, The Summons of the Lord of Hosts, ¶210214)

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Texto original: Why Is There Something Rather than Nothing? (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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