sábado, 25 de janeiro de 2025

O Cancro, as Decisões e o Fim da Vida Física

Por Mahin Pouryaghma.


Ninguém deseja morrer – e nunca é fácil decidir não fazer nada para prolongar a nossa existência física. No entanto, quando a dor e o sofrimento desnecessários se intrometem na idade avançada, podemos ter de escolher entre dois caminhos possíveis.

Podemos ficar destroçados, amargurados e revoltados com todos, especialmente com o Criador, gritando “Porquê eu?!”

Ou, em alternativa, podemos aceitar o facto inevitável da morte iminente e curvarmo-nos perante essa inevitabilidade. Mais cedo ou mais tarde, todos lá chegaremos. Podemos trabalhar o máximo possível para resolver todas as nossas coisas que temos por resolver, aceitar o destino que comum a todos, e estar em paz connosco e com o Criador.

Mas mesmo quando fazemos as pazes com o fim iminente do nosso eu físico, aquela questão “Porquê eu?” aparece algumas vezes e destrói a nossa paz interior.

Desde a minha infância que tenho uma ansiedade oscilante e isso teve um forte impacto negativo na minha vida, especialmente no que diz respeito à minha própria paz interior. Felizmente, devido à minha formação profissional como terapeuta, sempre consegui identificar os motivos dessa experiência em qualquer momento. Com alguma respiração profunda, oração e meditação, posso voltar a ficar calma.

No entanto, durante estes últimos meses, os meus momentos de ansiedade tornaram-se cada vez mais frequentes e mais acentuados, a tal ponto que eu sentia calor e frio, juntamente com tremuras e fraqueza interiores. A certa altura, até tive dificuldade em usar um garfo. Por vezes, pensei que talvez devesse pedir à minha oncologista para me receitar um medicamento ansiolítico, mas não quero utilizar nenhuma substância que altere a mente se conseguir sair destes episódios através do pensamento racional e, claro, repetindo as orações Bahá’ís, balsâmicas e tranquilizadoras, como esta breve e poderosa, do Báb: “Há quem remova as dificuldades a não ser Deus? Dize: Louvado seja Deus! Ele é Deus! Todos são Seus servos e todos aquiescem ao Seu mandamento!”

No passado, esta prática sempre funcionou para mim.

Mas recentemente, encontrei outro problema que aumentou a minha ansiedade – senti-me em conflito com a interrupção dos meus tratamentos contra o cancro e preocupada com o facto da sua não continuação ser equivalente ao suicídio, uma vez que cometer suicídio não está de acordo com os ensinamentos da Fé Bahá'í.

Desde então, a minha oncologista garantiu-me que eu não estaria a cometer suicídio – que, em vez disso, estaria a abandonar um corpo que já não consegue resistir à sua morte natural. Durante este processo, a minha oncologista tornou-se uma grande amiga de quem gosto, em que confio e que respeito muito. A minha querida amiga Anne e eu, depois de consultar a minha oncologista, chegámos à conclusão de que, como todos os medicamentos disponíveis, seja em forma de comprimido ou infusão, têm efeitos secundários graves, eu deveria interromper todo o tipo de tratamento e deixar o meu corpo e o cancro seguir o seu rumo normal.

Desde então, a minha ansiedade diminuiu consideravelmente e sinto-me muito aliviada.

A apreensão persistente que ainda me atinge não tem nada a ver com a morte – em vez disso, é o medo da dor, dependendo de onde o cancro possa espalhar mais metástases. Como já referi, geralmente consigo acalmar a minha dor física através do pensamento racional e da auto-hipnose, que bloqueia ou reduz a percepção da dor a um nível satisfatório. Mas desde que me foi diagnosticado cancro, tenho observado pessoas com dores oncológicas difíceis de tolerar e não gosto disso. A perspectiva deste tipo de dor assusta-me. Acho que posso estar a ser medricas. 😊

No entanto, eu e a minha oncologista concordamos que, se a dor começar e eu não conseguir tolerar, ela poderá usar qualquer medicamento que tenha no seu arsenal. Nesse momento, provavelmente já não me importarei se a minha mente está alterada ou não, e espero poder seguir despreocupada para o próximo mundo.

Por isso, neste momento estou em paz, sem dores do cancro, com o mínimo de ansiedade e com uma perspetiva feliz e esperançosa. Reflectindo sobre esta belo excerto das palavras de ‘Abdu’l-Bahá: “Deve-se, portanto, atribuir importância suprema não a esta primeira criação, mas antes à vida futura”. Espero pacientemente que o Criador Omnisciente e Misericordioso decida quando o meu visto no planeta Terra irá expirar, e me atribua um passaporte novo e permanente para o eterno Reino espiritual para além deste plano material da existência.

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Texto original: Cancer, Decision-Making, and the End of This Physical Life (www.bahaiteachings.org)


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Mahin Pouryaghma, tem quase 87 anos, e é iraniana. Desde 1964 que vive na América do Norte e actualmente vive em Marshallville, Geórgia. Mahin comprometeu-se com a Fé Bahá’í desde os seus 30 anos, com o objectivo de servir Deus servindo a humanidade.

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