...a música, cantada ou tocada, é alimento espiritual para a alma e para o coração. A arte do músico está entre aquelas artes dignas dos mais rasgados elogios e comove os corações de todos... (Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, #74)
No Centro Bahá’í da cidade de Nova Iorque encontra-se o Auditório John Birks Gillespie, dedicado ao grande e saudoso músico de jazz, carinhosamente chamado de "Dizzy" devido às suas brincadeiras em palco. É claro que muitas pessoas se lembrarão das suas capacidades como trompetista; alguns podem lembrar-se do seu humor malicioso, e outros ainda podem pensar com carinho no seu famoso trompete e nas bochechas inchadas. E também podem saber dos seus inúmeros prémios e reconhecimentos. No entanto, talvez poucos saibam que este virtuoso trompetista e famoso músico de bebop era Bahá’í. Dizzy Gillespie escreveu:
Tornar-me Bahá'í mudou a minha vida em todos os sentidos e deu-me um novo conceito do relacionamento entre Deus e o homem — entre o homem e o seu semelhante — o homem e a sua família... Tornei-me mais consciente espiritualmente, e quando estamos espiritualmente conscientes, isso reflete-se no que fazemos... As Escrituras [Bahá'ís] deram-me uma nova visão sobre qual é o plano — o plano de Deus — para este tempo, a verdade da unicidade de Deus, a verdade da unicidade dos profetas, a verdade da unicidade da humanidade.
Nascido na Carolina do Sul, John Birks Gillespie era o mais novo de nove irmãos. Começou a aprender piano aos quatro anos, quando muitos de nós brincávamos no parque e ainda não estávamos prontos para a escola. Como o seu pai tocava numa banda, conviveu com muitos instrumentos quando era criança. Aos 12 anos, Dizzy aprendeu sozinho a tocar trompete. Os seus talentos de alto calibre acabaram por lhe valer uma bolsa para estudar música no Instituto Laurinburg, na Carolina do Norte.
Este jovem talentoso começou a criar música notável. Para além de tocar trompete, Dizzy foi também cantor e compositor de scat, inovador e improvisador.
Ver vídeos no YouTube das suas actuações ao lado de outros músicos, demonstrando as suas fantásticas técnicas de sopro, exibindo o seu comportamento encantador e usando o seu característico trompete não é apenas divertido, mas inspirador. Mas a sua proeza musical revela apenas uma faceta deste homem talentoso; era também um ser espiritual, atraído pelas Escrituras de Bahá'u'lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá'í.
O livro de William Sears “Ladrão na Noite” — um grande livro que se lê como um romance de mistério e que incentiva a investigação independente da realidade — teve impacto na alma de Dizzy e levou-o à Fé Bahá’í. Aprender sobre o lado espiritual deste génio musical fez-me lembrar como a música pode alegrar os nossos corações, e afastar as nossas mentes das nossas preocupações e tristezas. A música é uma forma de arte que pode realmente “mover os corações”. Senti esse poder em primeira mão quando enfrentei momentos desafiantes — momentos em que ouvir uma música animada ajudou a afastar a minha mente da dor.
De facto, a música é tão vital para todos nós que Bahá’u’lláh abordou este tema no Seu livro de leis:
Nós, em verdade, fizemos da música uma escada para as vossas almas, um meio pelo qual podem ser elevadas ao reino do alto; não a façam, portanto, como asas para o ego e a paixão. (The Most Holy Book, p. 38)
Não é uma analogia adorável? Pensar na música como uma “escada para as [nossas] almas” dá-nos uma imagem mental desta escada espiritual a elevar-nos literalmente do chão. Por outras palavras, a música ajuda-nos a ligar com o nosso lado etéreo, e permite-nos esquecer os assuntos mundanos.
Num outro excerto das Escrituras Bahá’ís, a música é utilizada como uma metáfora importante para nos ensinar sobre a unidade na diversidade:
A diversidade na família humana deve ser a causa do amor e da harmonia, tal como acontece na música, onde muitas notas diferentes se misturam para formar um acorde perfeito. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 53)
Esta citação dos ensinamentos Bahá’ís é uma das minhas favoritas, e estou certa de que muitas pessoas se podem identificar com o seu delicado aviso de que, apesar das nossas diferenças físicas superficiais, somos todos uma única raça humana, e devemos ser amados e apreciados pela singularidade da nossa individualidade. Quando unidas, as diferentes notas musicais criam uma bela melodia, tal como diferentes personalidades humanas, etnias, tamanhos e formas criam a nossa bela família humana global.
A vida desta lenda do jazz e a importância da música para a nossa existência espiritual não podem ser contidas apenas nos limites deste breve artigo. O legado da música de Dizzy perdurará para que as gerações futuras o possam apreciar. As suas canções intemporais e a alegria da sua música continuarão inspirando, elevando e alimentando as nossas almas.
Espero que este artigo incentive os leitores a saber mais sobre a vida de Dizzy, a ouvir a sua música e a aprofundar a fé que ele seguiu.
--------------------------
Texto original: Dizzy Gillespie, Music, and the Baha’i Faith (www.bahaiteachings.org)
Jennifer Campbell e o marido vivem perto de Chicago (EUA) e são ambos membros da comunidade Baha’i.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Jennifer Campbell e o marido vivem perto de Chicago (EUA) e são ambos membros da comunidade Baha’i.
Sem comentários:
Enviar um comentário