sábado, 26 de julho de 2025

Quem gostaria de ser famoso?

Por David Langness.


Recentemente, uma menina de 12 anos surpreendeu-me quando lhe fiz aquela pergunta padrão dos adultos: "O que queres ser quando fores grande?". Entusiasmada, respondeu: "YouTuber! Influencer! Qualquer coisa que me torne famosa!".

Entre as gerações criadas nas redes sociais, este desejo de fama tem-se tornado uma tendência cada vez mais evidente.

Sondagens e inquéritos também identificaram esta tendência — um estudo recente de uma revista de psicologia descobriu que as crianças dos 9 aos 11 anos identificam agora a fama como o seu primeiro valor. Em 1997, quando as redes sociais estavam apenas a começar, a fama ocupava o 15º lugar.

Numa entrevista ao Palm Beach Post sobre o seu artigo "Poder, Fama e Recuperação", o conceituado psiquiatra norte-americano Reef Karim afirmou: "As crianças de hoje não querem ser médicas ou advogadas. Só querem ser famosas." Caramba!

Como me interesso por esta tendência de obsessão por celebridades — e também me sinto um pouco horrorizado com ela — comecei a fazer a pergunta «o que gostarias de ser?» a todas as crianças e jovens que conheço, e adivinhem? Os resultados do meu inquérito informal revelam que muitos jovens, salvo raras excepções, gostariam muito de ser famosos. Alguns não o admitem de imediato, mas, quando me aprofundo um pouco, o desejo de fama parece estar presente na maioria das crianças mais velhas e dos adolescentes que encontro.

Talvez isso não seja surpreendente. Obviamente, vivemos numa era que venera a fama. Grande parte da cultura ocidental centra-se agora nas celebridades — basta testemunhar a glorificação infinita daqueles que consideramos famosos, em todos os meios de comunicação e por qualquer motivo.

Sim, todos gostaríamos de ser vistos, valorizados, amados — mas qual a melhor forma de o fazer? Os ensinamentos Bahá’ís apresentam uma enorme sabedoria sobre o assunto, por isso vamos aprofundá-los.

‘Abdu’l-Bahá — filho e sucessor de Bahá’u’lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá’í — proferiu um importante discurso em Paris, em 1911, sobre o tema da busca da fama mundana:

A vida de alguns homens está ocupada apenas com as coisas deste mundo; as suas mentes estão tão circunscritas pelos costumes exteriores e pelos interesses tradicionais que eles ficam cegos para qualquer outro reino da existência, para o significado espiritual de todas as coisas! Pensam e sonham com a fama mundana, com o progresso material. Prazeres sensuais e ambientes confortáveis limitam o seu horizonte; as suas maiores ambições centram-se nos sucessos em condições e circunstâncias mundanas! Não refreiam as suas propensões inferiores; comem, bebem e dormem! Tal como o animal, não pensam para além do seu próprio bem-estar físico. É certo que essas necessidades devem ser satisfeitas. A vida é um fardo que deve ser carregado enquanto estamos na Terra, mas não se deve permitir que os cuidados com as coisas inferiores da vida monopolizem todos os pensamentos e aspirações de um ser humano. As ambições do coração devem ascender a um objetivo mais glorioso, a actividade mental deve elevar-se a níveis superiores! Os homens devem manter nas suas almas a visão da perfeição celestial e aí preparar uma morada para a inesgotável dádiva do Espírito Divino.

Que a vossa ambição seja a consecução de uma civilização celestial na Terra! Peço para vós a bênção suprema, para que estejais tão plenos da vitalidade do Espírito Paradisíaco que possais ser a causa da vida para o mundo.

Por isso, em vez de procurarmos a fama — que está inevitavelmente condenada a desaparecer— os ensinamentos Bahá'ís sugerem que conservemos nas nossas almas "a visão da perfeição celestial" e estabeleçamos como nossa principal ambição "a consecução de uma civilização celestial na Terra". Estas ambições grandiosas não se centram no indivíduo, mas na massa da humanidade. De certa forma, são exactamente o oposto de querer ser famoso — em vez disso, incentivam-nos a esforçarmo-nos para sermos humildes, compassivos e centrados no bem maior.

A fama mundana, salientam os ensinamentos Bahá'ís, é efémera — nunca é duradoura. Pela sua própria natureza, e devido aos caprichos inconstantes do que é popular no momento, quase toda a fama é passageira. Por isso, em vez de empenharmos esforços procurando algo tão temporário e, por isso, sem sentido, ‘Abdu’l-Bahá recomendou que todos procurássemos uma fonte de honra mais permanente e duradoura:

Cada alma procura um objetivo e nutre um desejo, e de dia e de noite esforça-se para atingir o seu objetivo. Uma anseia por riquezas, outra tem sede de glória e ainda outra anseia por fama, arte, prosperidade e coisas do género. No entanto, no final, todos estão condenados à perda e à desilusão. Todos eles deixam para trás tudo o que lhes pertence e, de mãos vazias, correm para o reino além, e todos os seus esforços serão em vão. Todos regressarão ao pó, despidos, deprimidos, desanimados e em completo desespero.

Mas, louvado seja o Senhor, tu estás empenhado naquilo que te assegura um ganho que durará eternamente; e isto não é mais do que a tua atracção pelo Reino de Deus, a tua fé e o teu conhecimento, a iluminação do teu coração e o teu sincero esforço para promover os Ensinamentos Divinos.

Em verdade, esta dádiva é imperecível e esta riqueza é um tesouro do alto!

Esta dádiva imperecível — a iluminação do nosso próprio coração, o conhecimento interior, a fé e o amor duradouro pelos outros — durará para sempre. Bahá’u’lláh prometeu:

Assim como a conceção da fé existe desde o princípio, que não tem princípio, e perdurará até ao fim, que não tem fim, da mesma forma o verdadeiro crente viverá e perdurará eternamente. O seu espírito circulará eternamente em torno da Vontade de Deus. Ele perdurará enquanto o próprio Deus perdurar.

Quem trocaria uma fama temporária e fugaz por uma eterna?

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Texto original: How Would You Like To Be Famous? (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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