sábado, 23 de agosto de 2025

A Geografia determina o nosso Destino?

Por David Langness.


Há vários anos, na UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles), conheci um autor e biólogo evolucionista chamado Jared Diamond, que abriu uma nova perspectiva sobre a história humana, para mim e para muitos outros.

Diamond escreveu o livro vencedor do Prémio Pulitzer, Armas, Germes e Aço: O Destino das Sociedades Humanas, onde disse:

A história das interacções entre povos distintos moldou o mundo moderno através de conquistas, epidemias e genocídios. Estas colisões tiveram repercussões que ainda não se extinguiram passados muitos séculos e que continuam activas em algumas das zonas mais problemáticas do mundo.

Armas, Germes e Aço apresenta uma premissa fascinante que deitou por terra muitas teorias históricas anteriores, ao colocarem uma questão muito óbvia:

Porque é que a riqueza e o poder foram distribuídos tal como estão hoje, e não de outra forma? Por exemplo, porque não foram os nativos americanos, os africanos e os aborígenes australianos que dizimaram, subjugaram ou exterminaram os europeus e os asiáticos? (Guns, Germs and Steel, p. 15)

No seu livro, Diamond responde a esta importante questão de uma nova forma, dizendo:

A história seguiu rumos diferentes para os diferentes povos devido às diferenças entre os ambientes dos povos, e não por causa das diferenças biológicas entre os próprios povos. (Idem, p.25)

O trabalho de Diamond destrói as antigas explicações para estas disparidades, retirando da equação histórica as justificações para o racismo. Após décadas de estudo sobre os povos indígenas, por exemplo, determinou que:

Todas as sociedades humanas contêm pessoas inventivas. Acontece que alguns ambientes fornecem mais matéria-prima e condições mais favoráveis para a utilização de invenções do que outros. (Idem, p. 408)

Esta ideia central, e o trabalho de muitos outros cientistas e historiadores, ajudou os estudantes de História a explicar porque é que algumas sociedades se tornaram tecnologicamente mais aptas e mais ricas do que outras. Também ajudou os historiadores a descartar as antigas explicações para as diferenças culturais, que se baseavam frequentemente em teorias racistas ou em medidas de inteligência relacionadas com a cultura em diferentes populações ou grupos raciais.

Diamond defende que este entendimento mais subtil e detalhado das forças da história deve incluir os efeitos profundos do ambiente natural na sua análise. Não acredita no "determinismo geográfico" - a ideia simplista de que o ambiente natural é responsável por todas as escolhas humanas - mas concede ao ambiente natural um lugar maior e mais proeminente na determinação da nossa história:

... muitas pessoas anseiam por acreditar que o espírito humano, o livre-arbítrio e a agência individual são as expressões mais nobres do ser humano e têm um amplo alcance. Mas mesmo estas coisas nobres têm limites. O espírito humano não aquece uma pessoa a norte do Círculo Polar Ártico no inverno se estiver quase nua, como acontece com os povos das terras baixas equatoriais. (“Geographic Determinism,” from www.JaredDiamond.org)

Portanto, para responder à questão do título deste artigo: a geografia não determina o nosso destino. Certamente, existem poucas diferenças geográficas entre, digamos, a Coreia do Sul e a Coreia do Norte, e, no entanto, o desenvolvimento da governação, da cultura e da sociedade civil nestas duas nações apresenta diferenças acentuadas.

Este facto e muitos outros semelhantes levam a uma conclusão inevitável: a história humana, embora fortemente influenciada pela geografia e pelo ambiente, foi impulsionada por uma influência ainda maior: o próprio preconceito:

... entre os ensinamentos de Bahá’u’lláh está o de que os preconceitos religiosos, raciais, políticos, económicos e patrióticos destroem a estrutura da humanidade. Enquanto estes preconceitos prevalecerem, o mundo da humanidade não terá paz. Durante um período de 6000 anos, a história deu-nos informação sobre o mundo da humanidade. Durante estes 6000 anos, o mundo da humanidade não esteve livre de guerras, conflitos, assassinatos e sede de sangue. Em todos os períodos, a guerra foi travada num país ou noutro, e essa guerra deveu-se a preconceito religioso, preconceito racial, preconceito político ou preconceito patriótico. Portanto, foi constatado e provado que todos os preconceitos são destruidores da estrutura humana. Enquanto estes preconceitos persistirem, a luta pela existência deverá permanecer dominante, e a sede de sangue e a rapacidade continuarão. Assim, tal como aconteceu no passado, o mundo da humanidade não pode ser salvo das trevas da natureza e não pode alcançar a iluminação salvo através do abandono dos preconceitos e da aquisição da moral do Reino.

Se este preconceito e inimizade são devidos à religião, considere-se que a religião deve ser a causa da comunhão; caso contrário, é infrutífera. E se esse preconceito for o preconceito de nacionalidade, considere-se que toda a humanidade é de uma só nação; todos surgiram da árvore de Adão, e Adão é a raiz da árvore. Esta árvore é uma só e todas estas nações são como ramos, enquanto os indivíduos da humanidade são como as suas folhas, flores e frutos. Assim, o estabelecimento de várias nações, o consequente derramamento de sangue e a destruição da estrutura da humanidade resultam da ignorância humana e de motivos egoístas. (Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, nº 227)

Os Bahá'ís acreditam que o preconceito — seja ele de raça, nacionalidade ou religião — destrói as civilizações humanas. Os ensinamentos Bahá’ís pedem a toda a humanidade que se livre destes preconceitos, e afirmam que este é um pré-requisito para uma civilização humana verdadeiramente global.

Mas, e os profundos preconceitos de classe que os historiadores marxistas citam como factor causador da nossa evolução histórica? No próximo artigo desta série, examinaremos a teoria histórica marxista e as novas perspectivas que ela oferece.

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Texto original: Is Geography Destiny? (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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