terça-feira, 5 de abril de 2005

1853: a caminho do Primeiro Exílio

Em 1852, um atentado contra o Xá da Pérsia provocou uma onda de perseguições contra a recém nascida comunidade Babí. Entre as figuras proeminentes dessa comunidade contava-se Bahá'u'lláh. Durante vários meses daquele ano, o nobre persa esteve encarcerado numa masmorra de Teerão, enquanto nos corredores do palácio real se moviam influências, quer para o condenar à morte, quer para Lhe poupar a vida.

Como resultado desse jogo de influências, e de alguma forma, fruto do Seu prestígio social e das pressões do embaixador russo[1], no final desse ano, o governo persa libertou Bahá'u'lláh e dando-Lhe um prazo de um mês para abandonar o país. Ao ser libertado, Bahá'u'lláh estava doente, não tinha casa onde morar (a sua residência tinha sido pilhada e vandalizada), e as Suas duas esposas e filhos encontravam-se a viver num bairro obscuro da capital. Valeu-Lhe, então, o apoio de um dos Seus irmãos. No espaço de um mês, Bahá'u'lláh pôde recuperar a sua saúde, enquanto se faziam os preparativos possíveis para deixar o país.

Em Janeiro do ano seguinte, Bahá'u'lláh e a Sua família[2] abandonaram Teerão, na companhia de um representante do governo iraniano e um oficial da embaixada russa. O governo russo tinha-se oferecido para receber aquele nobre persa no seu território, mas Ele preferiu ir para o Iraque, que na época era uma província Otomana.

A história e os detalhes desta viagem em direcção ao Iraque foram já descritas por vários historiadores bahá’ís[3]. Foram três meses em que tiveram de atravessar o agreste planalto iraniano coberto de neve. Anos mais tarde, Bahá'u'lláh numa das Suas Epístolas atribuiria os motivos do exílio à Vontade de Deus e descreveu as condições dessa viagem, referindo que os grupo de viajantes eram "homens frágeis acompanhados por crianças de tenra idade, num momento em que o frio era tão intenso que não se podia falar e o gelo e a neve tão densos que mal se podiam mover"[4].


Ilustração do Sec.XIX, mostrando uma caravana típica
que cruzava as estradas da Pérsia e do Iraque

Não obstante essas dificuldades, durante essa viagem, em várias paragens foi recebido cordialmente por vários nobres governadores e comerciantes. Por altura do Naw-Ruz (o ano novo persa) atravessou a fronteira. Para trás ficou a Pérsia, o país que O viu nascer, e que não voltaria a ver.

Não deixa de ser curioso perceber como em todas as religiões o exílio parece ser uma constante na vida dos seus Fundadores. Conhecemos a história da viagem de Abraão de Ur para a Terra Prometida, o êxodo de Moisés, a fuga da Sagrada Família para o Egipto e a migração de Maomé de Meca para Medina. Em todos esses momentos Deus protegeu os Seus Manifestantes e os Seu eleitos. E por incrível que pareça, o exílio do seu Fundador, acaba sempre por fortalecer e proteger essa nova religião.

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NOTAS
[1] – Sobre outras acções do Embaixador Russo em Teerão, ver
A Preocupação do Embaixador Russo e Sete Mártires de Teerão: a Reacção Russa.
[2] – Além das esposas e filhos (na época
‘Abdu’l-Bahá tinha nove anos), houve ainda dois irmãos que acompanharam Bahá’u’lláh no Seu primeiro exílio.
[3] – Ver
Bahá'u'lláh, the King of Glory, H. M. Balyuzi, cap. 19 (Release an Exile)
[4] – Citado em Presença de Deus, Shoghi Effendi, pag. 162-163

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