Aqui ficam algumas citações:
O diálogo representa, sem dúvida, um risco real. Poderíamos perder o nosso ponto de apoio, poderíamos inclusive, inverter a nossa situação. A conversão é possível, mas também o é a confusão. Tudo está em jogo. O diálogo requer, portanto, uma enorme confiança no homem – e nesse poder, ordem ou realidade que faz com que o homem seja homem. (p.51)A comparação com Bento XVI poderá ser injusta. No fundo, Pannikar é fruto de um encontro de culturas (filho de mãe espanhola e pai indiano) e testemunha privilegiada desse fenómeno. O actual líder da Igreja Católica tem necessariamente uma visão muito mais limitada no que toca à diversidade religiosa no nosso planeta. Mas Panikkar habilmente consegue desfazer os mitos, os receios e os equívocos com que por vezes se tenta encobrir o diálogo inter-religioso.
A finalidade do diálogo não consiste em eliminar opiniões divergentes ou em conseguir a uniformidade do mundo, ou na criação de uma única religião mundial – como se a realidade pudesse ou tivesse que ser reduzida a um princípio único. Esta poderia ser uma consequência inesperada do diálogo, mas não pode ser um pressuposto. (p.52)
Se não tenho dúvidas, se a minha opinião já está estabelecida, se creio já ter alcançado toda a verdade, então não sentirei nenhuma necessidade de diálogo. O diálogo requer essa atitude interior. (p.57)
Com demasiada frequência, as religiões institucionalizadas têm sido um obstáculo para a paz e bendisseram as guerras – inclusive na actualidade. O diálogo entre as religiões não procura eliminar as religiões reduzindo-as a um mínimo denominador comum, de religiosidade generalizada e superficial. O novo diálogo abre uma via intermédia entre todos os baluartes religiosos fortificados que combatem uns contra os outros desde o alto das suas colinas (onde todo o castelo reivindica que a salvação só se encontra dentro das suas muralhas) e uma tediosa estagnação nos vales superficiais da indolência e indecisão humanas, onde toda a religião perde a sua identidade e o seu valor específico. (p.90)
Os ventos do diálogo, que hoje sopram cada vez com mais força, apesar de se construírem, para enfrentá-los, novos e mais altos muros, representam mais do que uma nova moda ou estratégia por parte de alguma velha tradição religiosa para sair de uma certa estagnação. O diálogo tem em si mesmo um espírito religioso. O diálogo é uma autêntica manifestação de religiosidade. Inclusive o medo dos ultra-conservadores, que só vêem no diálogo perigos para as religiões estabelecidas, dá testemunho do carácter destabilizador do diálogo. O diálogo das religiões derruba, de facto, os muros do “nacionalismo” religioso, ao abrigo dos quais se sentem seguros. (p.87)
Para um baha’i, as ideias de Panikkar merecem uma análise cuidadosa; é difícil deixar de nos identificarmos com as suas opiniões.
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