quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Diálogo Inter-Religioso

No último post que dediquei ao livro de Bento XVI, Fé, Verdade e Tolerância: o Cristianismo e as Grandes Religiões do Mundo, critiquei as suas posições sobre o diálogo inter-religioso. Como tenho dito, essas são opiniões de uma corrente de pensamento conservador na Igreja Católica. Uma voz, que reflecte outra corrente de pensamento liberal encontra eco nas palavras de homens como Raimon Panikkar. No seu livro O Diálogo Indispensável: Paz entre as Religiões, este teólogo católico tece várias considerações sobre o diálogo inter-religioso para as quais chamo a vossa atenção.

Aqui ficam algumas citações:

O diálogo representa, sem dúvida, um risco real. Poderíamos perder o nosso ponto de apoio, poderíamos inclusive, inverter a nossa situação. A conversão é possível, mas também o é a confusão. Tudo está em jogo. O diálogo requer, portanto, uma enorme confiança no homem – e nesse poder, ordem ou realidade que faz com que o homem seja homem. (p.51)

A finalidade do diálogo não consiste em eliminar opiniões divergentes ou em conseguir a uniformidade do mundo, ou na criação de uma única religião mundial – como se a realidade pudesse ou tivesse que ser reduzida a um princípio único. Esta poderia ser uma consequência inesperada do diálogo, mas não pode ser um pressuposto. (p.52)

Se não tenho dúvidas, se a minha opinião já está estabelecida, se creio já ter alcançado toda a verdade, então não sentirei nenhuma necessidade de diálogo. O diálogo requer essa atitude interior. (p.57)

Com demasiada frequência, as religiões institucionalizadas têm sido um obstáculo para a paz e bendisseram as guerras – inclusive na actualidade. O diálogo entre as religiões não procura eliminar as religiões reduzindo-as a um mínimo denominador comum, de religiosidade generalizada e superficial. O novo diálogo abre uma via intermédia entre todos os baluartes religiosos fortificados que combatem uns contra os outros desde o alto das suas colinas (onde todo o castelo reivindica que a salvação só se encontra dentro das suas muralhas) e uma tediosa estagnação nos vales superficiais da indolência e indecisão humanas, onde toda a religião perde a sua identidade e o seu valor específico. (p.90)

Os ventos do diálogo, que hoje sopram cada vez com mais força, apesar de se construírem, para enfrentá-los, novos e mais altos muros, representam mais do que uma nova moda ou estratégia por parte de alguma velha tradição religiosa para sair de uma certa estagnação. O diálogo tem em si mesmo um espírito religioso. O diálogo é uma autêntica manifestação de religiosidade. Inclusive o medo dos ultra-conservadores, que só vêem no diálogo perigos para as religiões estabelecidas, dá testemunho do carácter destabilizador do diálogo. O diálogo das religiões derruba, de facto, os muros do “nacionalismo” religioso, ao abrigo dos quais se sentem seguros. (p.87)
A comparação com Bento XVI poderá ser injusta. No fundo, Pannikar é fruto de um encontro de culturas (filho de mãe espanhola e pai indiano) e testemunha privilegiada desse fenómeno. O actual líder da Igreja Católica tem necessariamente uma visão muito mais limitada no que toca à diversidade religiosa no nosso planeta. Mas Panikkar habilmente consegue desfazer os mitos, os receios e os equívocos com que por vezes se tenta encobrir o diálogo inter-religioso.

Para um baha’i, as ideias de Panikkar merecem uma análise cuidadosa; é difícil deixar de nos identificarmos com as suas opiniões.

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