domingo, 22 de junho de 2008

Mário Soares alerta para risco de guerra de civilizações

O presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, Mário Soares, alertou hoje que pode ocorrer uma guerra de civilizações se as religiões não forem um factor de paz.

«As religiões devem discutir umas com as outras. Todas têm a verdade revelada e quem tem a verdade revelada pensa que tem o exclusivo e por isso é difícil conjugar, mas tenho verificado em encontros ecuménicos que é possível encontrar pontos comuns e é isso que é preciso desenvolver», disse.

Mário Soares falava aos jornalistas num encontro com a presença do ministro da Justiça para apresentar o III Colóquio Internacional da Comissão da Liberdade Religiosa sobre «O contributo das religiões para a paz», a decorrer em Lisboa segunda e terça-feira.

«O mundo está muito complicado. Se as religiões não forem um factor de paz pode acontecer que se entre numa guerra de civilizações e isso seria o pior de tudo que pode acontecer», disse.

Apesar do risco a que se refere, Mário Soares tem uma visão optimista sobre a questão até porque considera possível um dialogo entre as religiões em busca de pontos de convergência.

Ao contrário do que defende o cientista político Samuel Huntington, no livro «Choque de Civilizações», de que este seria o século das lutas religiosas, o presidente da Comissão da Liberdade Religiosa defende que o mundo está muito longe disso.

«Não quero entrar na geoestratégia, mas estou convencido que se Obama ganhar as eleições isso desaparece como um sopro», frisou.

O grande desafio que hoje se coloca às religiões, acrescentou, é que, tendo sido elas durante muitos séculos factores de conflito - muitos deles também políticos por não existir a separação Estado/Igreja - encontrem agora caminhos para a paz.

«A guerra é tão má para o homem que a humanidade tem de se dar conta que tem de fazer um grande esforço no diálogo e isso tem de começar pelas igrejas», acrescentou.
O encontro, cuja sessão de abertura será presidida pelo primeiro-ministro, é para Mário Soares um momento importante e inédito em Portugal por juntar representantes de varias confissões religiosas.

«Gostaríamos que os debates fossem animados, que as pessoas se pronunciassem porque realmente as religiões é difícil discutirem umas com as outras».

O ministro da Justiça, Alberto Costa, destacou também a importância do colóquio internacional que debaterá não só o contributo das religiões para a paz como a questão da liberdade religiosa.

«Não me recordo de nenhuma realização a este nível se ter verificado em Portugal. Esse é um aspecto que marca uma nova forma de afirmação da Comissão da Liberdade Religiosa», disse.

A sessão de abertura da conferência terá como oradores o primeiro-ministro, José Sócrates, o Cardeal Patriarca de Lisboa, D.José Policarpo e o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa.

No primeiro painel dedicado aos contributos das religiões para a paz estarão representantes de varias confissões religiosas como o Hinduísmo, o Judaísmo, a Aliança Evangélica, Islão sunita e ismaelita, a União Budista Portuguesa, a Igreja Ortodoxa Grega e os Baha´is.

O tema «Liberdade religiosa do mundo actual» será abordado pelo coordenador da Ajuda à Igreja que Sofre para o relatório sobre a liberdade religiosa no mundo enquanto a liberdade religiosa em Portugal será um tema desenvolvido pelo professor Jónatas Machado, da faculdade de direito da Universidade de Coimbra.

Já no que respeita ao tema «Crentes e não crentes face à laicidade» programada para o segundo dia do colóquio, está previsto que seja abordado por António Reis, professor da Universidade Nova de Lisboa e grão-mestre da Maçonaria, e por Agostino Giovagnoli, da Comunidade de S.Egídio.

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FONTE: Religião: Se religiões não forem factor de paz pode ocorrer uma guerra de civilizações - Mário Soares (LUSA)

9 comentários:

Orlando Braga disse...

«Não quero entrar na geoestratégia, mas estou convencido que se Obama ganhar as eleições isso desaparece como um sopro», frisou.

Mário Soares tem toda a razão. O facciosismo religioso é todo da culpa do Bush.
O "fundamentalismo islâmico" é um conceito que Bush inventou para mandar deitar as torres gémeas abaixo e para assim ter uma razão para invadir o Iraque.

Estou com Mário Soares. Soares é fixe! E imparcial!

Anónimo disse...

Orlando,
E Bush não é um homem que diz que fala com Deus? Ele não recebeu o apoio politico da direita (e extrema-direita) religiosa americana?

Será difícil perceber que o fundamentalismo é sempre o mesmo, seja ele Evangélico americano ou Islâmico saudita?

Quem merece crédito? Um presidente como o Bush ou um candidato que afirma que os EUA já não se podem ver apenas como uma "nação cristã", e que agora também devem pensar que são uma "nação judaica", uma "nação muçulmana", uma "nação hindu", uma "nação budista" e uma "nação de não-crentes"?

Orlando Braga disse...

Com que então os evangélicos americanos são de extrema-direita...temos portanto, cerca de 70 milhões de radicais de extrema direita nos Estados Unidos...alguns deles, lenhadores, carpinteiros, marceneiros, enfermeiros, etc., todos de extrema-direita!

Comparar (igualando) o cristianismo evangélico com o fundamentalismo integralista islâmico não tem classificação possível. Sem mais comentários.

Na lista das "nações", falta a "nação ateísta" e "nação anti-religião". É o que se está a arranjar, com a tolerância com quem não tolera ninguém. Não serve o exemplo do Irão? Os Bahai são perseguidos nos EUA? para quê tanto ódio aos evangélicos cristãos?

Um dos erros do proselitismo exacerbado é que só alimenta o ateísmo...

Leonor disse...

Não sei se Mário Soares tem ou não razão, porque as coisas não são assim tão simples e preconceitos (religiosos ou de qualquer outras natureza) não desaparecem assim, mas temos realmente que dar passos nesse sentido, ou tudo voltará vários passos para trás...

Marco Oliveira disse...

Orlando,

O GH não é baha'i.

Orlando Braga disse...

Leonor: Há dois tipos de preconceitos: o preconceito negativo, aquele que não admite discussão é que se constitui como tabu; e o preconceito positivo, que é aquele que está aberto à discussão. Qual destes dois é o seu preconceito?

Orlando Braga disse...

Marcos: retiro o que disse em relção ao proselitismo.

Anónimo disse...

Orlando,
Só quem não quer ver é que ignora que os evangélicos apoiaram largamente o Bush. E até há evangélicos portugueses que fizeram o mesmo (basta ver alguns blogues).
E esse apoio ao Bush coincidiu com uma faixa conservadora (direita e extrema direita) da população americana.

Porque será que esses lenhadores carpinteiros, marceneiros apoiaram o Bush? E porque será que a esmagadora maioria dos americanos instruidos apoiam o Obama?

Pensa nisso!

Orlando Braga disse...

1. Se fossem só os evangélicos que apoiassem Bush, ele não teria sido eleito nem reeleito.

2. Um político é como o melão: só abrindo a gente vê o que está dentro. Obama não foge à regra.

3. Os carpinteiros não têm menos dignidade do que os professores universitários de rabo-de-cavalo e ar efeminado que aconselham a lobotomia neomarxista; tão pouco os enfermeiros são menos dignos que as elites de Hollywood, que defendem a erradicação da pobreza no mundo e vivem na maior e obscena riqueza.

Pensa nisso, meu caro!