sábado, 1 de julho de 2017

Pena de Morte: Sim ou Não?

Por David Langness.


Uma execução não é simplesmente a morte. É tão diferente da privação da vida como um campo de concentração é da prisão. ... Para que houvesse equivalência, a pena de morte teria de castigar um criminoso tivesse advertido a sua vítima da data em que lhe infligiria uma morte horrível e que, a partir desse momento, o confinasse à sua mercê durante meses. Um tal monstro não se encontra na vida privada. (Albert Camus, Reflexions sur la Guillotine)
Há algumas semanas, um de nossos leitores no site BahaiTeachings escreveu: "Como os é que seguidores Bahá’ís justificam a pena de morte? É um enorme ponto de desencontro com a sua prática. Isto é apenas meu ponto de vista e eu estou à procura de uma resposta."

Por pura coincidência, quando ele enviou o seu comentário, eu já tinha começado a escrever esta série de ensaios sobre a pena de morte; e naquele mesmo dia, votei por correio nas eleições gerais aqui na Califórnia. Nessa eleição, cada eleitor do meu estado teve que fazer uma escolha assustadora sobre a pena capital, e decidir sobre duas propostas de lei sobre a pena de morte.

A Proposta 62 revoga a pena de morte na Califórnia. A Proposta 66 pretende manter e reforçar a pena de morte acelerando o processo de recurso nos casos de pena de morte, que são tipicamente demorados nos tribunais. Se a Proposta 62 passar, o Estado da Califórnia perderá o seu direito de aplicar a pena de morte. Se a Proposta 66 passar, o Estado executará mais pessoas. Eu tive que decidir, como todos os eleitores da Califórnia, se eu queria parar ou acelerar a pena de morte para as mais de 700 pessoas que estão no Corredor da Morte na Califórnia.

Considere estas opções contrastantes. Como seria o seu voto? Poucas eleições resultam realmente em decisões imediatas de vida ou morte. Mas nesta eleição, e em muitos referendos similares sobre pena capital em todo o mundo, o seu voto sobre a pena de morte pode realmente resultar na execução de alguém - ou salvar a vida dessa pessoa.

Qual a sua opinião sobre esta pesada questão moral sobre a pena de morte? Alguns acham que a pena capital é necessária para a justiça e a dissuasão; outros consideram que isso equivale a castigo desnecessariamente cruel e incomum - e que o Estado nunca deve assumir o papel de um assassino.

Estudos de opinião globais sobre o assunto mostram que a pena capital tende a polarizar as pessoas. A organização Gallup, que tem feito estudos em diferentes países sobre a questão, encontra apoio e oposição à pena de morte em níveis aproximadamente iguais na maioria das nações. Um grupo sem fins lucrativos, o The Death Penalty Information Center, recolhe e colige regularmente várias pesquisas de diferentes países e relata os seus resultados. Essas sondagens indicam que uma pequena maioria (52%) dos russos, por exemplo, apoia a pena capital; enquanto dois terços dos australianos preferem a prisão perpétua pelo crime de homicídio e não a pena de morte. Na Grã-Bretanha, o apoio à pena de morte caiu para menos de 50% pela primeira vez. Nos Estados Unidos, de acordo com o Pew Research Center, cerca de metade de todos os americanos (49%) apoiam a pena de morte, enquanto 42% se opõem a ela - o nível mais baixo de apoio em mais de quatro décadas.


A maioria dos países do mundo aboliu a pena de morte, na prática ou por lei. Cinquenta e oito países ainda utilizam a pena de morte; por outro lado, 134 países tornaram-na ilegal ou deixaram de a aplicar. Há seis países a mantêm apenas para circunstâncias especiais como crimes de guerra e genocídio.

As Nações Unidas apresentaram o Segundo Protocolo Facultativo à Convenção Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, que exige uma moratória sobre a pena de morte - e 81 países ratificaram-na. A União Europeia proíbe a pena de morte, tal como o faz o Conselho da Europa. Apenas dois governos democráticos do mundo desenvolvido - Estados Unidos e Japão - ainda a permitem; e 19 dos 50 estados americanos proíbem a pena de morte; em breve serão 20 estados se a Proposta 62 da Califórnia passar.

Numa perspectiva mundial, as sondagens mostram que o apoio e o uso da pena capital diminuíram durante as últimas cinco décadas. Essa tendência global de longo prazo, no entanto, afecta apenas 40% da população do planeta - uma vez que 60% ainda vivem em nações como a China, Japão, Coreia do Norte e Estados Unidos.

Então, como é que os ensinamentos Bahá’ís lidam com a punição dos crimes mais hediondos - estabelecem a pena de morte ou permitem a prisão perpétua? A resposta é ambas:
A lei de Bahá’u’lláh prescreve a pena de morte por assassinato e incêndio, com a alternativa de prisão perpétua. (The Most Holy Book, pág. 204)

... se alguém tirar deliberadamente a vida de outro, também a ele matareis. ... Se condenardes o incendiário e o assassino à prisão perpétua, isso será permitido de acordo com as disposições do Livro. (Bahá'u'lláh, The Most Holy Book, págs. 203-204)
Quando questionado sobre este versículo no Livro Mais Sagrado de Bahá’u’lláh, Shoghi Effendi, o Guardião da Fé Bahá'í:
"... afirmou que apesar da pena capital ser permitida, foi definida uma alternativa - prisão perpétua - com a qual os rigores de tal condenação podem ser seriamente atenuados." Ele afirma que "Bahá’u’lláh deu-nos uma escolha e, portanto, deu-nos liberdade para usar o nosso próprio critério dentro de certas limitações..." (Idem, págs. 204-205)
Claramente, então, um futuro sistema de jurisprudência Bahá’í oferece à sociedade uma opção entre a pena capital e a prisão perpétua para os crimes mais graves. Qual seria a sua escolha? Moralmente, qual é correcta?

Convido o leitor a explorar estas importantes questões nos próximos textos desta série. Examinaremos os ensinamentos e as leis Bahá’ís sobre pena de morte e sobre o assassinato; exploraremos como os Bahá’ís encaram esta questão moral crítica; e tentaremos prever a situação futura de uma sociedade onde a justiça prevalece. E também vos vou contar o sentido do meu voto.

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Texto original: Voting to Execute: Do You Believe in Capital Punishment? (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

1 comentário:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Boa tarde.

Embora eu tenha acabado de enviar meu comentário a uma postagem mais recente tratando do assunto em tela, gostaria de deixar aqui umas indagações:

Qual pena será mais dura ao criminoso? Sofrer a pena de morte ou passar muitos anos de sua vida (ou o restante dela) suportando restrições em sua liberdade?!

Qual pena lhe permitirá refletir melhor sobre seus atos delinquentes e chegar a uma atitude de arrependimento?!

Digo que há casos em que as pessoas até mesmo livres dos muros de uma penitenciária suportam até com muito mais dureza as consequências de seus atos ilícitos.