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Quando frequentava a faculdade, um professor perguntou-nos se tínhamos alguma ideia sobre qual era o país com a mais poderosa máquina diplomática. A resposta de alguns foi imediata: "Os Estados Unidos" ou "A União Soviética". Com o professor a negar essas respostas, arrisquei: "O Vaticano". O professor concordou e acrescentou "Não se elege um Papa polaco por acaso". Não sei até que ponto aquele professor tinha razão, mas hoje, pensando no que foi o pontificado de João Paulo segundo, percebo que foi um período de tempo em que a Igreja Católica conseguiu induzir algumas mudanças no mundo e tentou acompanhar outras.
Durante os últimos vinte e cinco anos as comunidades católicas por todo o mundo ficaram marcadas pela figura de João Paulo II. Ciclicamente, aquele polaco de sorriso sereno surgia numa visita a algum país do mundo; era saudado por milhares de crentes e o seu rosto tornou-se familiar. Se foi um Papa conservador, ou se a Igreja Católica podia ter feito mudanças mais profundas no seu interior, isso é um debate que deixo para os católicos.
Para mim a imagem de Karol Wojtyla será sempre a do homem que abriu as portas da Igreja Católica ao diálogo inter-religioso. Creio que tudo começou com a célebre Jornada de Oração pela Paz, em Assis, em Outubro de 1986, quando vários lideres religiosos foram convidados para uma sessão de orações pela paz. Para um baha’i o acto era perfeitamente natural; Bahá'u'lláh afirmara: "Associai-vos com os seguidores de todas as religiões num espírito de amizade e fraternidade". Mas por ter sido uma iniciativa da Igreja Católica liderada por João Paulo II, e intensamente acompanhada pelos media, assumiu uma dimensão tremenda.
Lideres Religiosos em Assis, Outubro de 1986
Desde então o diálogo inter-religioso tornou-se uma prática corrente e perfeitamente aceitável para a grande maioria dos católicos. Os contactos e encontros entre cristãos, judeus, muçulmanos, baha'is, hindus, budistas e tantos outros sucederam-se um pouco por todo o mundo. Hoje para qualquer pessoa com um pouco de senso comum, o diálogo inter-religioso é o algo tão indispensável à construção da nossa Aldeia Global como o diálogo entre pessoas de diferentes culturas ou de diferentes etnias.
O mundo catolico acaba, pois, de perder um homem fora do vulgar. Como baha'i, e observador do fenómeno religioso, deixo aqui a minha homenagem a essa figura tão marcante da Igreja. Faço votos para que o seu sucessor possa prosseguir o seu trabalho e, com a ajuda de Deus, consiga ainda melhores resultados.
ACTUALIZAÇÃO
Através da Karen cheguei a um texto de Juan Cole: The Other Pope. Muito interessante!
8 comentários:
Sem dúvida! Foi o Papa da viragem! vamos lá ver se o próximo continuará este caminho, ouvindo também as vozes que do interior, reclamam direitos que nunca lhe foram concedidos, como por exemplo a igualdade entre homens e mulheres na parte da ritualização e não só, o casamento dos padres, etc.
Esperemos que o diálogo inter-religioso também não acabe!
Luz Dourada
A enorme estatura humana e moral de João Paulo II poder-se-à tornar numa pesadíssima herança para o seu sucessor. Por outro lado, este foi o Papa que pregou a Esperança e portanto, como católico, espero que o Espírito Santo ilumine os participantes do conclave, de modo a que todos os progressos obtidos possam ser congtinuados. Cumprimentos.
Marco, gostei muito do texto.
E gosto muito do teu blogue, que me permite aprender sobre uma religião de que nada sabia.
Obrigada pelo teu testemunho.
Velho,
Tenho a que o diálogo inter-religioso está em suspenso à espera do sucessor de João Paulo II.
Luz Dourada,
O meu pai ontem dizia-me que o Papa do seu tempo tinha sido o Pio XII, que tinha publicado enciclicas contra o nazismo e o fascismo. Foi o Papa que marcou a geração dele.
Este Papa marcou os católicos da minha geração.
Como será o Papa que vai marcar os católicos da geração do meu filho?
O último Papa.
A fiarmo-nos nas palavras de Nostradamus este seria o último Papa... e, como dizia alguém aí em cima, ou em baixo, depois deste Papa não muito espaço de manobra para um qualquer sucessor...!
Elfo,
Eu não entendo nada das profecias de Nostradamus; só percebi até hoje que os seus pretensos intérpretes falham as suas interpretações...
Para quê preocuparmo-nos com as profecias?
Por se não dar importância às profecias - não só as de Nostradamus -, é que o povo ainda não viu que estamos na Era Bahá'í.
E se fossemos politicamente incorrectos e dissessemos que estas "Estrelas Cadentes" já não têm razão de existir depois da vinda de Sua Santidade O Báb em 1844.
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