Pela 18ª vez desde 1985, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou uma resolução expressando "profunda preocupação" pela situação dos direitos humanos no Irão, e referindo especificamente a corrente perseguição à comunidade baha’i daquele país. A resolução foi apresentada pelo Canadá e apoiada por 46 países, incluindo a União Europeia, Estados Unidos e Austrália. Foi aprovada por 75 votos contra 50, no passado dia 16 de Dezembro.
Entre outras coisas, a resolução apela ao Irão para "eliminar na lei e na prática todas as formas de discriminação baseadas na religião, etnia ou base linguística e outras violações de direitos humanos contra minorias, incluindo árabes, curdos, baluchis, cristãos, judeus, sunitas e baha’is..."
A resolução refere especificamente o ressurgimento das perseguições contra a comunidade baha'i iraniana, mencionando a "escalada e frequência crescente da discriminação e outras violações de direitos humanos contra os baha’is, incluindo casos de detenções arbitrárias, negação de liberdade religiosa ou expressão pública de assuntos comunitários, desrespeito por direitos de propriedade, destruição de locais de importância religiosa, suspensão de actividades sociais, educativas e comunitárias, negação de acesso ao ensino superior, emprego, pensões, alojamento adequado e outros benefícios..."
A resolução também encoraja várias agências das da Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos a continuar a trabalhar para melhorar a situação dos direitos humanos no Irão e simultaneamente apela ao governo iraniano para cooperar com estas agências.
Bani Dugal, a representante da Comunidade Internacional Baha'i junto das Nações Unidas expressou o seu agradecimento pelo apoio da comunidade internacional sobre o assunto dos direitos humanos no Irão: "Este foi um ano em que as violações dos direitos humanos contra baha’is e outros grupos no Irão se agravaram significativamente, e o acompanhamento e apoio da comunidade internacional tem sido praticamente o único instrumento para protecção de pessoas inocentes no Irão."
"Para os baha’is que são perseguidos no Irão apenas por motivos religiosos, este foi um ano muito difícil." Várias dezenas de baha’is foram alvo de detenções arbitrárias e no final de Outubro pelo menos nove ainda permaneciam detidos. Entretanto os jovens continuam a ver negado o acesso à universidade. As detenções têm como objectivo intimidar a comunidade baha'i; mas se se considerar todo o leque de discriminações de que são alvo, podemos perceber que existe uma política de estrangulamento social e económico da comunidade baha'i do Irão.
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Relacionados:
Notícia original no BWNS: UN calls on Iran to stop persecution of Baha'is
Post do ano passado: Pela 17ª vez...
7 comentários:
Desculpa-lá pelo comentário off-topic, mas queria dar-te os meus parabéns pelo excelente e muito oportuno artigo no Público!
No que diz respeito ao conteúdo deste post, só posso declarar-me solidário com os baha'is e os outros perseguidos no Irão. É ainda um caminho longo, e infelizmente com muito sofrimento para muitos inocentes, até a democracia iraniana passa a respeitar as minorias, religiosas e outras. Comparado com isso, os problemas caseiros neste domínio quase parecem insignificante. Mas o esforço para a sua solução não é incompativel com o dos grandes, muito pelo contrário: ajuda!
Obrigado Lutz!
Na verdade, a história dos crucifixos parece coisa ridícula comparada com a situação dos baha’is no Irão; e a situação dos baha’is iranianos parece coisa pequena quando comparada com o sofrimento de outras comunidades e povos em várias locais do nosso planeta.
Eu sou baha'i há 21 anos e há 21 anos que ouço falar das perseguições no Irão. Por vezes até pode dar a impressão que não sei falar de outro assunto. Mas a verdade é que não consigo estar calado sobre isto.
Parece que o Irão anda nas bocas do mundo ultimamente.
Já por várias vezes tenho lido sobre as perseguições aos bahá'ís no Irão (e quem diz bahá'ís diz membros de outras comunidades religiosas não-muçulmanas).
É lamentável, assim como o são as declarações agora quase diárias do presidente Ahmadinejad sobre a eliminação de Israel. Ainda para mais quando parece que o país está prestes a tornar-se numa potência nuclear...
E já agora aproveito para dar os parabéns ao Marco por este blog. Não conhecia (vim aqui parar a partir do "Clara Mente") e parece-me bastante interessante.
Fico contente em saber que existe um blog bahá'í escrito por um português. A Internet é mesmo algo de espantoso :)
Luís,
Obrigado pela visita e pelo elogio.
Olhando a relação entre persas e judeus ao longo da história diria que se trata de uma relação amor-ódio. Quem sabe se dentro de alguns tempos não se tratam como se fossem grandes amigos...
As declarações do presidente Ahmadinejad são preocupantes. Mas não sei quanto do que ele diz será apenas retórica para consumo interno, ou verdadeiras declarações de intenção. Já percebi que entre presidente, governo e parlamento iraniano existem grandes lutas pelo poder. Não sei se tudo isto não fará parte dessa luta. Mas se se tratam de verdadeiras declarações de intenção, então o caso é muito sério.
O Gabriel (do Clara Mente) tem escrito pouco. É pena...
Marco, permite-me republicar um antigo post meu sobre o assunto.
«Os Bahá'ís, a minoria religiosa mais numerosa no Irão, têm sofrido perseguições e segregações desde a Revolução Islâmica no país em 1978 e a instauração do regime dos ayatollahs (chefes religiosos). Os Bahá'ís têm sido sequestrados, torturados, assassinados, os seus bens confiscados, o acesso à Educação é negado, enfim, está em marcha uma campanha para a exterminação daqueles que professam uma religião que não o Islão.
Aqui fica um pequeno relato de um exemplo tragicamente real.
"Poucos incidentes são mais chocantes – ou reveladores do preconceito religioso da perseguição aos Bahá’ís e da coragem com a qual a enfrentam – do que o acontecido com um grupo de dez mulheres Bahá’ís enforcadas em Shiraz, Irão, em 18 de Junho de 1983. O seu crime: ensinar aulas religiosas a crianças Bahá’ís.
Com idades compreendidas entre os 17 e os 57 anos, as dez mulheres Bahá’ís foi levadas à forca sucessivamente. Aparentemente, as autoridades esperavam que à medida que vissem as suas companheiras no lento estertor da morte, as mulheres renunciariam a sua fé.
No entanto, de acordo com testemunhas presentes, as mulheres aceitaram o seu destino cantando, como se estivessem a apreciar o seu destino com prazer.
Um dos homens presentes confidenciou a um Bahá’í: «Tentámos salvar as suas vidas até ao último momento, mas, uma por uma, primeiro as mais velhas, depois as mais novas, foram enforcadas enquanto as outras eram forçadas a assistir, com isto tentando que negassem as suas crenças. Até chegámos a incitá-las a declararem que não eram Bahá’ís, mas nenhuma delas o aceitou; preferiram a execução.»
Cada uma das dez mulheres foi interrogada e torturada nos meses que precederam a sua execução. De facto, algumas apresentavam feridas visíveis nos seus corpos quando estavam na morgue, após o enforcamento.
A mais nova destas mártires era Muna Mahmuddnizhad, uma estudante de 17 anos que dada a sua juventude e envolvente inocência tornou-se, de certa forma, no símbolo do grupo. Na prisão, as solas dos seus pés foram vergastadas, tendo Muna sido obrigada a caminhar em sangue. Porém, nunca renegou a sua fé, chegando mesmo a beijar as mãos daquele que a executou, e depois a corda da morte, antes de colocá-la em volta do seu pescoço.
Outra jovem mulher, Zarrin Muqimi-Abyanih, 28 anos de idade, disse aos interrogadores que a instigavam a que renunciasse a sua fé: «Aceitem ou não, eu sou uma Bahá’í. Não podem tirar isso de mim. Sou uma Bahá’í em toda a minha existência e com todo o meu coração».
Durante o julgamento de outro dos membros deste grupo, Ruya Ishraqi, uma estudante de Veterinária, o juiz declarou: «Vocês colocaram-se perante esta agonia apenas por uma palavra: basta dizeres que não és Bahá’í e eu libertar-te-ei». Ruya respondeu: «Não trocaria a minha fé pelo mundo inteiro.»
As outras mulheres executadas a 18 de Junho de 1983 foram Shahin Dalvand, 25 anos, socióloga, Izzat Janami Ishraqi, 57 anos, doméstica, Mahshid Nirumand, 28 anos, que se tinha candidatado a uma licenciatura mas tinha sido recusada por ser Bahá’í, Simin Sabirim 25 anos, Tahirih Arjumandi Siyavushi, 30 anos, enfermeira, Akhtar Thabit, 25 anos, também enfermeira, Nusrat Ghufrani Yalda’í, 47, membro do Conselho Nacional Bahá’í.
Todas haviam sentido como seu dever ensinar aulas religiosas Bahá’ís – sobretudo depois do Governo iraniano ter barrado o acesso de crianças Bahá’ís às escolas estatais."»
Para que tenhamos verdadeira noção do crime contra a Humanidade que está a decorrer.
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