domingo, 12 de março de 2006

A Última Heterodoxia

Segue-se a transcrição do artigo publicado ontem no caderno "Actual" do jornal Expresso. O texto é da autoria da jornalista Ana Cristina Leonardo. Acrescentei links e algumas referências entre parêntesis rectos para comentários no final do texto.





A Última Heterodoxia

Nascida no Irão quando este ainda se chamava Pérsia, em 1844, a fé bahá’i foi desde o início sujeita a perseguições. Discriminada pelo regime do Xá Reza Pahlevi, e já antes de seu pai, não teve melhor sorte com o regressado «ayatollah» Khomeini. Chegou a Portugal em 1926. Texto de Ana Cristina Leonardo.

John Birks Gillespie(1917-1993), que ficou para a história do jazz como Dizzy Gillespie, tornou-se bahá’i na década de 70, pouco tempo após o assassínio de Martin Luther King, em 1968. Os princípios professados pelos seguidores de Bahá'u'lláh pareceram ao trompetista, na altura em valente crise de alcoolismo, estar significativamente de acordo com a sua visão do mundo. Assim como ele mostrava convicto de que «chegam profetas à música e depois da sua influência se impor vem outro com um nova ideia, conseguindo muitos seguidores, também a fé bahá’i apontava para a unidade essencial entre profetas e religiões: «Cremos queDeus é uno, tem apenas uma religião, a qual nos é revelada progressivamente». E por isso preferem falar em fé.

Ao trazer o evolucionismo para o interior das religiões reveladas, os bahá’is ensaiam um sincretismo[1] que se traduz na aceitação daquilo a que chamam «os manifestantes de Deus» (professores de inspiração divina cujo ensinamento depende do nível em que os alunos se encontram), de Krishna a Buda, de Abraão a Zoroastro, de Moisés a Jesus Cristo ou Maomé. O Báb (1819-1850), em português "A Porta", e Bahá'u'lláh (1817-1892) , «A Glória de Deus», são aqueles que lhe são próprios.

Se o habitual é cada religião ter os seus mártires, Báb (de nome Siyi Ali-Muhammad) e Bahá'u'lláh (Mirzá Husayn Ali) estarão para os bahá’is como João Baptista e Jesus, respectivamente, estão para o cristianismo (descontada a pretensão de Jesus à divindade) [2]. À imagem do profeta que autenticou o filho de Maria e José como o Messias, também o Báb sofreu um final trágico. Aos 31 anos é fuzilado a instâncias dos «mullahs», indignados com a sua insistência na chegada iminente do Mensageiro de Deus. 13 anos depois, Bahá'u'lláh, seu acólito, proclama ser o prometido pelo Báb e demais religiões. Também nascido na Pérsia, oriundo de uma destacada família nobre, suportara uma série de prisões e exílios, primeiro para Bagdade, depois para Constantinopla, Adrianópolis e, finalmente, para Akka (hoje em Israel), tendo falecido numa povoação próxima, Bahji. Aí se ergue o seu sepulcro, que conjuntamente com o Centro Mundial Bahá'i, em Haifa, são lugares de peregrinação obrigatória.

Mapa dos exílios de Bahá'u'lláh

Desde a sua fundação que a fé bahá'i tem estado na mira das autoridades persas. Ainda no século XIX, calcula-se que cerca de 20 mil aderentes tenham sido mortos em diversos massacres. Em 1903 regista-se a chacina de uma centena na cidade de Yazd. A perseguição continuou até hoje. Ao testemunhar a possibilidade de profetas posteriores a Maomé torna-se uma heresia no mundo islâmico. Residirá aí a razão teológica subjacente à caça feroz a que vem sendo sujeita, em particular no Irão.

Durante a dinastia Pahlevi, que dirigiu o país entre 1925 e 1979, foram promulgadas uma série de leis discriminatórias. Em 1933 (dois anos antes de a Pérsia ter adoptado oficialmente o nome de Irão), a literatura bahá'i será proibida, os casamentos deixam de ser reconhecidos, os funcionários de Estado demitidos e as escolas encerradas. Uma nova onda de violência surge em 1955 quando, fruto de uma aliança oportunista entre o Xá e o Xeique Taqi Falsafi, os bahá'is são caluniados na rádio e a cúpula da sua sede nacional demolida à picareta pelas forças do exército dirigidas pelo general Batmangelich. Com todas as actividades proibidas, vivem um período de terror que não fará mais que prolongar-se com a queda do Xá e a promulgação da República Islâmica em 1979.




Destruição da casa do Báb, em Shiraz(Irão), em 1979

Um mês antes de Khomeini subir ao poder, a Casa do Báb, o santuário mais sagrado do país, é entregue a um «mullah» conhecido pelo seu fanatismo anti-bahá'i; em Setembro seria completamente destruída por uma multidão em cólera. Em Agosto do ano seguinte, o governo de Khomeini decide decapitar a liderança da comunidade. Os nove membros da Assembleia Nacional são dados como desaparecidos, um eufemismo a que as ditaduras recorrem ad nauseum. Três anos depois, a 18/6/1983, em Shiraz, terá lugar um dos acontecimentos mais chocantes: 10 mulheres bahá’i, entre os 17 e os 57 anos, são enforcadas uma à uma, obrigadas a assistir por ordem decrescente das idades, à agonia das congéneres. O crime? Ensinar a sua fé em aulas dirigidas a crianças.

Calcula-se que entre 1979 e 1998 tenham sido executados cerca de 200 bahá’is no Irão e sujeitos à tortura milhares deles. Mas a fúria persecutória não tem de chegar à morte para se mostrar eficaz. Depois de ter despedido sem indemnização todos os funcionários públicos bahá’i, o Estado adita em 1984 que estes teriam de devolver os salários pagos pelo governo. As actividades profissionais privadas também são vivamente combatidas. Durante o ano de 2003 foram muitos os empresários que viram, em tribunal, serem-lhe recusados alvarás ou licenças de actividade. Em 2004 e 2005 as prisões arbitrárias multiplicaram-se, assim como a confiscação de bens, incluindo as casas para habitação.


Membros da Assembleia Nacional Bahá'í do Irão, desaparecidos em 1980

O Conselho da União Europeia, no «Relatório Anual sobre os Direitos Humanos» (2004), chamou a atenção para o tema, afirmando continuar «preocupado com as constantes violações dos direitos humanos (no Irão), que incluem detenções arbitrárias, desaparecimentos na sequência de detenção, tortura e amputações, discriminação contra minorias religiosas, incluindo os bahá’is(...) Foram igualmente reafirmadas as preocupações pela destruição do santuário bahá’i de Babol, e pela recusa das autoridades em autorizarem que os restos mortais que nele se encontram voltem a ser condignamente enterrados»

Já o ano passado, o caso que teria maior visibilidade foi o que envolveu cerca de mil estudantes bahá'is impossibilitados de aceder ao ensino superior por discriminação religiosa. Desde os anos 90, em grande parte devido a pressões internacionais, era-lhes permitido frequentar escolas primárias e secundárias. Mas os cursos superiores continuavam-lhes vetados por ser obrigatório declarar a confissão religiosa e a fé bahá'i não constar na lista das religiões admitidas. Em 2004, as autoridades retiraram essa menção, introduzindo, contudo, um exame em que era solicitado aos estudantes um trabalho sobre um de quatro temas: judaísmo, cristianismo, zoroastrismo e islamismo. A maioria dos candidatos bahá'i optou pelo islamismo (a religião do país), e quando os resultados foram divulgados viu que havia sido acrescentada a palavra Islão no espaço reservado à religião do aluno. Muitos protestos e petições depois, dos 800 admitidos inicialmente apenas 10 constaram das listas finais. Toda esta trapaça discriminatória foi repetida no ano lectivo seguinte (o actual), resultando, na prática, numa recusa do direito à educação dos jovens bahá’i iranianos.

Deste e de outros assuntos falaríamos com Mário Mota Marques, director de Assuntos Externos da Comunidade Bahá'i de Portugal. Oriundo de uma família agnóstica, entrou para a comunidade ainda adolescente, há 43 anos. Dificilmente disfarça algum orgulho por pertencer à mais jovem religião reconhecida, cujo número de membros portugueses avalia em nove mil e cuja origem recua a 1926. No mundo existirão mais de quatro milhões espalhados por 166 países. Sem clero, organizam-se segundo uma estrutura piramidal, com conselhos locais, nacionais e internacional, sempre constituídos por nove membros - um número considerado sagrado[3]: a fé bahá’i é a nona na linha das revelações e Bahá'u'lláh é o nono profeta. Será o último? Mário Mota Marques confessa que haverá alguma tentação responder que sim, preferindo concluir que esse é um assunto em aberto[4].

Hoje é dia de jejum, o que se repete anualmente entre 2 e 20-3 (cada mês bahá’i tem 19 dias e um ano 19 meses), com abstinência de alimentos e bebidas do nascer ao pôr-do-sol. O objectivo é contrariar o ego, enfatizando a meditação e a prece. A privação não atrapalha a memória do meu interlocutor, que de Teerão salta para o Portugal de antes do 25 de Abril, quando as suas visitas à António Maria Cardoso não eram assim tão raras; o mesmo para as visitas à casa dos bahá'is, onde costumava limitar-se à apreensão de livros e documentos. Mário Soares e Vasco da Gama Fernandes chegaram a ser advogados da comunidade. E em defesa dela, embora não jurídica, também saiu Eça de Queirós em Correspondência de Fradique Mendes. Já à porta da sede lisboeta, na Avenida Ventura Terra (uma moradia de espaço lotado, dizem-nos), Mário Mota Marques recorda o dia em que a polícia política lá apareceu apreendendo as folhas de papel-cenário que as crianças da comunidade usavam para dar livre curso ao seu fulgor artístico: «Não acreditaram. Julgaram que os gatafunhos eram planos criptados para assaltar quarteis».

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COMENTÁRIOS

É sempre interessante ver a imagem que a religião baha’i projecta para os media. Apesar deste artigo ser muito interessante, possui, na sua versão impressa, uma incorrecção óbvia: a foto de 'Abdu'l-Bahá possui uma legenda que indica tratar-se de Bahá'u'lláh. Para além disso existem apenas pequenos pormenores merecedores de comentário.

[1] - Sincretismo. Este é uma das expressões frequentemente usadas para descrever a religião baha’i. Trata-se de um termo costuma ser usado num sentido depreciativo como significando uma mistura artificial e algo confusa de diferentes doutrinas, numa tentativa de as forçar a um entendimento. À semelhança das grandes religiões mundiais, a religião bahá’í defende que existe um processo evolutivo e uma harmonia de ensinamentos nas religiões que a antecederam. Da mesma forma, o Islão aceita Cristo, Moisés e Abraão; o Cristianismo aceita Moisés e Abraão. Desta forma, se classificamos a religião bahá’í com sincretismo, então todas as grandes religiões mundiais também merecem essa classificação.
[2] - A pretensão de Jesus à divindade. Algumas frases que o Novo Testamento atribui a Jesus Cristo, levaram muitos cristãos a acreditar que Ele e Deus eram consubstanciais. Isto, apesar de existirem outras frases onde Ele se assume como claramente distinto do Criador. Desta forma, parece-me mais correcto falar da pretensão dos cristãos do que da pretensão de Cristo. Ver o meu post : A Dupla Condição dos Profetas.
[3] - Um número sagrado. Parece-me mais correcto dizer que é um número com uma forte carga simbólica.
[4] - Bahá'u'lláh será o último dos profetas. Os ensinamentos baha’is são muito claros sobre este assunto. O fundador da religião baha’i não é o último, mas sim, o mais recente de uma série de Mensageiros Divinos que Deus tem enviado à humanidade. À medida que a humanidade vai evoluindo, os ensinamentos adequados à nossa evolução espiritual também devem evoluir. E por esse motivo, novos Manifestantes Divinos devem surgir com ensinamentos adequados às necessidades futuras da humanidade.

19 comentários:

Pedro Fontela disse...

A perseguição é sempre algo execrável e, infelizmente, as minorias religiosas estão longe de ser as únicas a sofrer desse mal (quer no Irão quer em qualquer outro sitio no mundo).

PS: acho que a religião mais recente não é a vossa... o movimento neo-pagão começou por volta de 1950 com Gardner. É claro que isto depende se se considera o neo-paganismo como continuação directa do paganismo (como os practicantes das denominadas versões "tradicionais" ou "hereditárias" afirmam) ou ou como um movimento novo (vagamente) inspirado no antigo.

Pedro Fontela disse...

ups... no meio do comentário esqueci-me de dizer o mais importante... um abraço de solidariedade para todos os que sofrem de perseguições injustas.

Maria Lagos disse...

Achei o artigo muito interessante. Realmente a história dos Bahá'is em Portugal está cheia de episódios de repressão antes do 25 de Abril. Era um inferno!
Agora e com a Lei de Liberdade religiosa a vida é calma para todos e é bonito sentir como as várias religiões se relacionam e cooperam. Espero que esta fase seja um caminho interminável!
O que continua a acontecer no Irão, em que Bahá'is são espoliados e mortos é incrível. Vamos lá ver se algum dia os organismos internacionais fazem pressões suficientes para que esta situação acabe.Matar em nome de um Deus bondoso é, certamente, uma grande maldade e uma monstruosidade para um sec.XXI onde a evolução humana deveria já ter atingido um grau superior.

Anónimo disse...

Olá Marco, li este artigo no Expresso antes de o ver no teu blog e apesar de achar interessante achei-o bastante descontextualizado.
Era bom se todos o pudessem ler no teu site, sobretudo aqueles que nada sabem sobre a fé bahai pois através dos numerosos links e com os teus comentários a perspectiva que iriam ter seria muito mais completa e esclarecedora.
Mas ainda assim gostei de ver um jornal com a dimensão do Expresso falar sobre a fé Bahai, já não via isso desde que há uns anos atrás a revista de Domingo do Publico publicou uma excelente entrevista com uma bahai do Algarve.
Já agora Marco, tens alguma ideia das referências que Eça de Queiroz faz à fé bahai?

Anónimo disse...

segundo estudos indepedentes, o numero de bahais no mundo é de 7,5 milhoes.

João Moutinho disse...

jduaFaz-me lembrar que já enviei umas duas ou três "cartas ao director", em que a Fé bahá'í era focada, e ainda não publicaram nenhuma integralmente - alguns pensarão sorte a dos Bahá'ís....

Marco Oliveira disse...

Pedro,
Obrigado pelas tuas palavras de solidariedade.

Não sabia do movimento neo-pagão.
A definição de religião é algo sobre o qual não me parece haver acordo possível. Há quem considere que a religião baha'i não é uma religião porque ainda não há nenhum país onde seja maioritária. Há quem ache que nunca crescerá o suficiente (em aderentes) para influenciar o destino da humanidade (e por isso não pode ser considerado uma religião. Mas também há quem considere que se trata de uma religião mundial (com grande potencial de crescimento) mas ainda nas suas fases iniciais de desenvolvimento.
Imagino que existam opiniões semelhantes em relação ao neo-paganismo.

Uma vez ouvi um professor alemão de religiões comparadas dizer que uma das primeiras coisas que ensinava aos seus alunos era a impossibilidade de definir o que é uma religião. E avisava mesmo que chumbava qualquer um deles que tentasse dar uma definição de religião. :-)


João,
Eu não me parece que o artigo esteja descontextualizado. Infelizmente quando hoje se fala da religião baha’i, vem sempre à baila o tema das perseguições no Irão. Por outro lado, como eu digo no post, o artigo num jornal reflecte a imagem que os baha’is passam.
O Eça fez duas referências ao Babismo. A primeira é na correspondência de Fradique Mendes, onde dedica alguns parágrafos ao assunto (ver o post: Fradique Mendes e o Bábismo) e outra é numa carta dirigida a um familiar (mas é uma referência muito breve).

Anónimo disse...

Os esclarecimentos são muito importantes em especial o facto da foto não ser do Manifestantes de Deus, Bahá'ú'lláh, e sobretudo enfatizar que mais Manifestantes de Deus virão no futuro.

Para mais informações consultar o site: pt.bahai.org

Luz Dourada disse...

Depois de ler o artigo e os comentários anteriores, fiquei satisfeita que tivessem publicado o site Bahai, pois vou já visitá-lo. Quanto às informações que aqui colhi, acho repugnante que alguém seja perseguido pelas suas convicções religiosas.O Irão é um mau exemplo e não acredito que os ensinamentos de Maomé levem a situações dessas pois tudo o que sei sobre essa religião (pouco!)parece-me que não incentiva a isso. Mas Cristo também pregou o amor e no entanto existiu a Inquisição... Infelizmente o poder é o poder, quer seja civil quer seja religioso e leva a extremos, muitas vezes. Triste, porque sendo Deus o mesmo, não há justificação possível.

Anónimo disse...

Obrigado Marco por teres satisfeito a minha curiosidade em relação às referências do Eça à fé bahai.
Devem ser referências unicas na literatura portuguesa, não?

pedro disse...

É difícil condensar num artigo de duas páginas toda a História de uma Fé. Tal como o João, eu também senti que falta alguma contextualização, que os assuntos aparecem um pouco desgarrados, sem ligação. Mas conhecendo desde sempre estes factos é-me difícil avaliar.

Não posso no entanto deixar de congratular que um jornal da dimensão do Expresso disponibilize duas páginas inteiras para falar sobre a Religião Bahá'í.

Quanto ao comentário de Pedro Fontela, religião é algo que descende de um profeta, como Krishna, Abraão, Moisés, Zoroastro, Buda, Jesus Cristo, Maomé, o Báb e Bahá'u'lláh, o que não acontece com Gerald Gardner (http://pt.wikipedia.org/wiki/Wicca)

GWD disse...

You provide a valuable service, Marco, to reproduce this article with your commentary. The observations of your commentators are of interest as well.

Elise disse...

quando referi a um muçulmano xiita a perseguição aos bahá’i iranianos, tive como resposta: "essa seita patrocinada pelo zionismo?"

lamento muito marco que a sua religião ainda seja alvo de tanta intolerância.

Marco Oliveira disse...

Elise,
Quando ouço esses comentários, lembro-me da resposta que a Rainha Vitória deu quando recebeu uma epístola de Baha'u'llah: "Se essa causa provém de Deus, então não necessita da nossa ajuda para triunfar; mas se não provém de Deus, então cairá por si própria".
:-)

Elfo disse...

Desculpem lá a intromissão mas acho que o Pedro Fontela teria alguma razão se dissesse que o neo-paganismo é exactamente o contrário daquilo que diz ser, isto é, neo-paganismo.
Expliquemo-nos:
Mircea Eliade, um "monstro" da literatura religiosa, diz que a religião mais antiga do mundo e: A Magia da Natureza.
Ora a Magia é nem mais nem menos do que aceitar a Natureza como Mãe e reverenciá-la através dos Espiritos da Natureza ou Entes da Natureza, ou ainda determinados pontos da terra que são considerados sagrados.
Na Bíblia, que é uma biblioteca que abrange cerca de oito mil anos da humanidade, vemos, se olharmos com olhos imparciais, que na antiguidade erguiam-se os Zigurates que estão espalhados por todo o Planeta e que o Homem sempre teve predilecção pelos lugares mais elevados para adoração. Por exemplo Zoroastro ergueu o seu templo no alto de um monte para servir de ponto de adoração mas também como obsrvatório astrológico, daí que os três Magos que seguem uma estrela para encontrar Jesus são Zoroastrianos, a saber: Baltazar, Melchior e Gaspar.
Se dermos crédito à Biblia, e não há razão para não dar, veremos que o Jardim do Eden, que ficava entre o rio Tigre e o Eufrates, hoje Iemen, seria o local onde Adão teria lançado os primeiros rudimentos da Religião Sabeana que os Pagãos querem agora renovar como neo-paganismo, como o senho Gardner pretende.
Ora acontece que Adão vem reunir as várias crenças que existiam nas Eras anteriores numa religião estruturada no par, isto é, na família. Krisna vem estruturar a família em Clã ou Castas, e Moisés dá mais importância à tribo pelo que havia sido precedido por Abraão. Mais tarde Zoroastro vem criar a noção de gregarismo quando diz:"É mais útil ao homem que planta milho, do que aquele faz mil orações".
Buda traz a noção da interiorização e da introspecção para os problemas da humanidade.
Sua Santidade o Cristo vem criar a noção de Nação Estado e a restruturação da família voltando à monogamia.
Maomé traz-nos a noção do Império na Terra e renova o paganismo que se tinha de novo instalado nas tribos nómadas do deserto. O Báb e Bahá'u'lláh trazem-nos a noção da Unidade do Planeta e a abolição das fronteiras artificiais criadas pelo homem.
Digamos em abono da verdade que o paganismo nunca deixou de existir paralelamente a todas as religiões, logo não é o mais novo movimento religioso, mas sim o mais antigo, este movimento sempre se conciliou com as religiões vigente em cada era, como nos dis outro "monstro" da literatura religiosa:Moisés Espirito Santo.
Vejamos por exemplo como os católicos aproveitaram as festividades do Solestício de Inverno (dos pagãos) que estava de tal maneira enraizado nos costumes dos povos que o aproveitaram para celebrar o nascimento de Jesus, quando Este nasceu em meados de Março, (Signo de Peixes) pelo qual eram conhecidos os cristão da Era de Cristo.Aproveitaram também as Fogueiras de Beltane para as transformar em fogueiras de S. João e S. Pedro. Os Pagãos riam-se e continuaram a fazer o que sempre fizeram: As fogueiras de Beltane onde o vinho corria a rodos e acabava quase invariavelmente num bacanal,agora mais moderado.
Já me estou a longar, pois poderia,à luz da Biblia, provar que Moisés fez o mesmo com o Bezerro de Oiro e com a Serpente do deserto,ainda hoje utilizada como símbolo dos médicos.

Pedro Fontela disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Pedro Fontela disse...

Caro Elfo,

Alguns pontos:

a) Para conhecimento fiável olhamos para a arqueologia e história, não para a bíblia (a bíblia pertence ao estudo do mito, e o mito não é inteiramente verdade histórica, é antropologia).

b) Pessoalmente não me convence a teoria que o próprio Gardner propôs sobre a suposta continuidade das suas práticas desde a mais remota antiguidade (ou se não uma continuidade então pelo menos uma réplica exacta do que se fazia no passado). É pura ficção romântica, ele criou uma religião a partir de elementos muito diversos (incluindo da maçonaria, a ordem hermética da amanhecer dourado, entre outras) e deu-lhe uma história, (um “spin” se quiser-mos) – para mais sobre este tema ver os estudos históricos sérios publicados por Ronald Hutton. Ao contrário de muitas religiões muitos neo-pagãos têm o bom senso de admitir que a sua religião foi em parte construída no presente e sabem reconhecer o que são práticas reais dos “seus” antepassados e o que são adaptações (de outros “clubes” místicos).

c) O paganismo como religião morreu, morreu muito tardiamente (especialmente no norte europeu onde só acabou quando os cavaleiros teutónicos esmagaram e colonizaram os povos eslavos sobre a égide e aprovação de Roma) mas acabou por sucumbir. O que nunca morreu foram as crenças supersticiosas. Na idade média elas faziam parte de uma visão ainda mágica do mundo que o cristianismo não conseguiu suprimir (nem substituindo os deuses locais por santos, muitas vezes com igrejas nos locais onde antes existiam templos, nem movendo os seus dias “santos” para coincidirem com as celebrações pagãs) e os próprios mitos cristãos conviviam muitas vezes lado a lado com antigos mitos pagãos que continuaram a ser praticados muito depois de o seu significado religioso ter sido esquecido. Só na idade moderna (especialmente depois da reforma) é que podemos dizer que começa a época de ouro do absolutismo cristão em que todo os restos de práticas não ortodoxas (quer católicas, luteranas, calvinistas, etc) são varridas do mapa através de uma campanha de medo e de interiorização de certos conceitos que até aí se tinham limitado aos sacerdotes.

d) Ou seja, o paganismo como religião morreu sim senhor, o que lhe sobreviveu durante muito tempo foram as práticas mágicas mas que já estavam desenraizadas dos seus contextos originais. No contexto de uma sociedade moderna pós-reforma não existiam pagãos.

Marco Oliveira disse...

Pedro Fontela e Elfo,
Obrigado pelos vossos esclarecimentos.
Fico com a ideia que a religião não é algo que se possa definir.
O conceito varia muito entre povos, culturas e por vezes até entre pessoas que parecem professar a mesma crença.

Anónimo disse...

Agora meus amigos, quanto à foto publicada, que eu não vi, pergunto:
Por quanto mais tempo vamos tentar tapar o Sol com a peneira?
É que... a foto existe mesmo e qualquer investigador consegue facilmente encontrar as duas e saber separar uma da outra.
A Casa Universal de Justiça já veio a lume dizer a foto que aparece como sendo de Sua Santidade O Báb está confundida com outra personagem histórica da Fé. Isto não implica que o Sol continue a ser tapado pela peneira.
Que se arrange uma solução qualquer; assim é que não pode continuar. Eu não sou jornalista, embora tenha estudado para isso,no entanto se fizesse uma pesquisa e não fosse bahá'í, pespegava com a foto no meu trabalho e explicava o porquê.
Assim já não tenho mais argumentos quando um qualquer professor de antropologia me põe perante este dilema que eu não consigo justificar à luz da razão. Peço a Deus que me ilumine!