Aqui fica a transcrição do artigo "Querem mudar o mundo" publicado hoje no semanário Sol, de autoria da jornalista Andreia Félix Coelho.
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Bahá'í é uma religião ensinada nas escolas públicas portuguesas
Stella Rodrigues ensina contabilidade em Viana do Castelo, mas é na Secundária de Monserrate, do mesmo concelho, que lecciona uma aula especial: a Educação Religiosa segundo os Ensinamentos Bahá'í (EREB).
O Ministério da Educação aprovou a disciplina no ensino público há uma década. Muitos dos alunos de Stella são seguidores da Fé Bahá'í, e a aulas da escola são apenas uma ínfima parte de todo o trabalho que desenvolvem na comunidade.
NÃO TÊM RITUAIS NEM LIDERES
Em Agosto, as portas da casa da professora, em Viana do Castelo, abriram-se a um grupo de jovens que ali aprendem, riem, dançam. Um ambiente descontraído.
Os Bahá'í não têm rituais, nem lideres ou imagens para adoração. Falam de temáticas sociais e de problemas que afectam a humanidade. Nada é tabu.
Stella explica o funcionamento das aulas que dá na escola: «Cada um tem liberdade para falar abertamente. Abordamos temas como a justiça, igualdade entre sexos, direitos humanos, racismo e xenofobia, sexualidade, entre outras». Defende a professora que a «educação deve ser livre de preconceitos».
As aulas de Ensinamentos Bahá'í fazem parte de uma filosofia de vida aberta a todos.
«Valorizamos o cidadão pró-activo», explica Stella. O grupo de dança Geração Viva é resultado deste conceito. São jovens que usam a expressão cultural para divulgar princípios Bahá'í.
Dançam em todo o lado quando estão juntos. «Nas estações de comboio, no meio da rua, na escola», garantem.
Mudar o mundo é o objectivo. E nunca ninguém o quis tanto como os mais novos. Chegaram a vestir-se de ecopontos para ensinar crianças do 1º ciclo a separar o lixo.
Afonso é estudante universitário. Segue hoje os princípios Bahá'í e conta que o álcool e as drogas são proibidos. Nada que o faça sentir-se diferente dos amigos da faculdade. «Quando saímos à noite acham estranho eu não beber nem fumar charros. Mas curto a ‘moca’ à minha maneira». Stella sublinha: «São miúdos iguais aos outros, mas com uma consciência de cidadania muito apurada». O ano lectivo já começou e a professora lamenta que haja falta de docentes. «Muitos Bahá'í têm outras profissões. São médicos, advogados ou têm ocupações que não deixam tempo para dar aulas». Ainda se conhece pouco esta confissão religiosa em Portugal e a confusão é frequente: «Pensam que é uma seita»
PRIMEIRAS CRENTES CHEGARAM EM 1926
A Fé Bahá'í defende a unidade da Humanidade, a união das religiões e a harmonia com a ciência. Preconiza também a educação para todos e a igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Há 80 anos em Portugal - as primeiras crentes foram duas americanas que chegaram ao nosso país em 1926 -, a Fé Bahá'í tem estatuto de Organização Não Governamental e assento nas Nações Unidas.
A comunidade não tem hierarquia, sendo todos os anos eleitos representantes por voto directo.
EXEMPLO DE DEVOÇÃO
Matilde Lima, hoje com 74 anos, é uma das mais antigas bahá'í de Portugal. A linguagem pouco polida não faz dela menos sábia. É uma referência para todos os crentes. Menina católica, estudou até à quarta classe porque os patrões da mãe engraçaram com ela. A paixão levou-a a casar-se com Ventura, um devoto da Fé Bahá'í. «Eu dizia que era um seita. E a minha mãezinha avisava para não falar daquilo». Em pleno Estado Novo, não podia ser diferente.
Um dia abriu o livro de orações do marido. «Que sacrilégio, pensei». Guardou para si o momento pecaminoso. Mas mais tarde declarava-se bahá'í. Uma doença traiu-lhe a energia e não sabe por quanto tempo cá fica. Os jovens bahá'í vão filmá-la enquanto repete a história da sua vida. «É essencial termos um registo de viva voz da Matilde».
2 comentários:
A mudança do mundo começa mesmo com mudança no nosso íntimo, começa com mudanças na nossa casa, no nosso meio. A mudança começa com nós mesmo e mais ninguém. Se cada um de nós tentasse um pouco, o mundo seria um lugar muito melhor. No entanto sei que em alguma situação específica não consegue resolver sozinho, a mudança deve passar por um processo colectivo, sendo um trabalho em conjunto e radical, seja onde for e com quem for.
Não o li, mas falaram-me bem do texto publicado na página do leitor do Expresso desta semana.
Se possível, gostaria que fosse compartilhado.
Ainda, acho que seria do teu agrado o artigo de Ana Nogueira Pestana no n.º7 na revista "Psicologia Actual" (Marisa Cruz na capa e dossier temático dedicado ao ensino universitário)
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