terça-feira, 28 de agosto de 2007
Nelson Évora, na imprensa
Não gosto deste título na capa e num artigo do jornal O Jogo.
Nelson Évora não ganhou uma medalha de ouro graças às suas convicções religiosas. Ganhou porque foi melhor que os adversários. Ganhou e deu uma alegria enorme a todos os portugueses.
A fé religiosa pode ajudar a moldar o carácter de uma pessoa; pode estimular o desenvolvimento espiritual de um ser humano; pode dar uma pessoa uma compreensão sobre o propósito da vida e o relacionamento com o Transcendente.
Mas dizer - ou sugerir - que se ganha uma medalha de ouro num Campeonato do Mundo de Atletismo devido a uma qualquer convicção religiosa é, sem dúvida, um disparate.
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ACTUALIZAÇÃO (29-Agosto-2007 23H41):
Aqui fica o texto publicado neste jornal:
Valeu a Fé Bahá’i
Nelson Évora é campeão do Mundo de triplo salto! Arrasou a concorrência em apenas três saltos, o melhor a 17,74 metros. Mesmo assim, o seu semblante manteve-se sereno. E foi sem grande euforia – ao menos aparente – que festejou o principal feito de uma carreira com mais de 10 anos….
Évora nasceu na Costa do Marfim em Abril de 1984. Filho de pais cabo-verdianos, rumou a Portugal em 1989. Tinha cinco anos. Todo o seu percurso desportivo foi feito em solo português. A naturalização? Obteve-a em Dezembro de 2001, pouco depois de Francis Obikwelu
O desporto sempre foi a sua paixão. Bem mais do que os livros. Na escola praticou de tudo um pouco, mas apaixonou-se pelo atletismo. Desde logo pelos saltos, parecia querer voar. Iniciou-se como tantos outros no desporto escolar e, imagine-se, no salto em altura!
Por sorte, o vizinho de cima, João Ganço – ainda hoje seu treinador - cedo percebeu a habilidade do rapaz para os saltos. Ganço fora o primeiro português a passar a fasquia dos dois metros no salto em altura, corria o ano de 1972. E antes de Nelson de lhe chegar às mãos como pupilo, havia acumulado a experiência de treinar o próprio filho, David, um ano mais velho do que o nosso campeão. Entre as dúvidas típicas da tenra idade, o técnico começou por convencer Évora a dedicar-se aos saltos horizontais -comprimento e triplo – e que bela aposta se revelou o conselho.
A ligação de ambos é forte. Tão forte que o atleta tem resistido aos inúmeros convites de universidades norte-americanas, sempre ávidas em contratar os melhores atletas jovens que brilham pelo Mundo. Mas Évora tem recusado todos os convites. Pensa, e com legítimas razões, reunir por cá condições para se preparar para as mais ambiciosas metas…
Évora espelho da religião da... Unidade
A fé faz parte do dia-a-dia deste pacato jovem lisboeta. Hoje benfiquista, Nelson foi campeão europeu de juniores pelo FC Porto em 2003. A dedicação ao treino tem sido exemplar e saídas à noite não constam dos seus roteiros - a não ser em férias. E, embora não tão brilhante como a desportiva, nem a carreira académica saiu descurada: foi admitido num curso superior de marketing que pensa exercer quando deixar a alta competição.
Na religião, Évora e Ganço seguem as leis de uma religião chamada Fé Bahá'í, regida pela Unidade. Ensina que a Terra é um só país e a Humanidade os seus cidadãos. Sobre a importância da religião não sua carreira Évora diz: “A religião ajuda-nos no equilíbrio do nosso interior e a sabermos enfrentar a realidade. E a olhar mais para as coisas positivas do que negativas”. Mais palavras para quê?…
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6 comentários:
"o meu carro anda muito bem - ainda bem que hoje vi o zé"
igualmente não relacionado :)
Marco, há quanto tempo. Desde os tempos do Pantalassa feito a partir de Timor... Um forte abraço,
Ângelojqt
Concordo com o que tu e o sahba dizeram , mas penso que o que artigo podera quer dizer é que, o sucesso do nelson, podera em parte ter sido moldado pelo o ambiente e influencias em que cresceu, que inclui inegavelmente a fe bahai.
Haveremos de reconhecer que este feito do Nélson ajudou mais à divulgação da Fé Bahá'í do que as "cartas ao director" escritas pelo Marco António, Pedro Reis ou João Moutinho.
João Moutinho,
Alguma publicidade é como uma faca de dois gumes.
Se hoje alguém afirma (ou insinua) que o Nelson Évora ganhou porque é Baha'i, o que é que vão dizer quando deixar de ser campeão?
Creio que a questão fundamental não será a relação entre a vitória e a sua religião, porque há uma relação intrínseca entre a vontade de Deus e o nosso esforço pessoal.
Acredito que o Nelson é esforçado, senão não teria lá chegado!
Quanto à publicidade... Não sei se sequer sou a favor desse género de publicidade. Às vezes pode nem ser benéfico.
Além do mais, apesar de poder chegar a muitos olhos e ouvidos, amanhã o nome bahá'í será esquecido se não se fizer como se diz na bíblia: permitir que a Glória da Deus seja reconhecida pelos seus "frutos", pelas acções e actos de seus seguidores. É somente mais uma nota que amanhã poderá ser esquecida se nós não fizermos a nossa parte.
PS: adorei o comentário do Sahba.
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