sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Tragédias

Em Novembro de 1911, um acidente ferroviário em França vitimou várias pessoas. O caso despertou a atenção da opinião pública, tendo os jornais dedicado muito espaço ao assunto. A tragédia (e com a toda a emoção com que os jornais a descreviam) levou mesmo a que o responsável pelo SNCF fosse chamado ao Parlamento Francês. 'Abdu'l-Bahá, que na ocasião visitava França, comentou:
Acabaram de me contar que houve um terrível acidente neste país. Um comboio caiu no rio e pelo menos vinte pessoas morreram. Isto vai ser matéria de discussão hoje no parlamento francês e o director dos caminhos-de-ferro do Estado será convocado para falar. Ele será inquirido a respeito da condição da linha, do motivo do acidente, e haverá um debate acalorado. Fico cheio de admiração e surpresa ao observar o interesse e excitação se levantaram por todo o país devido à morte de vinte pessoas, enquanto há indiferença pelo facto de milhares de italianos, turcos e árabes serem mortos em Tripoli! O horror dessa carnificina em tão grande escala não perturbou o Governo de forma alguma! E, contudo, essas pessoas desafortunadas são também seres humanos!
A mensagem era simples: se pensamos que um acidente à nossa porta é maior que uma enorme tragédia que se vive noutra parte do mundo, então o nosso conceito de solidariedade para com os nosso semelhantes é muito limitado.

Mais de 90 anos passados, continuamos a assistir a situações semelhantes. Ontem, a queda de uma ponte sobre o rio Mississipi, nos EUA fez várias vítimas, tendo as televisões e os jornais on-line dado enorme destaque. Citam uma autoridade local dizendo que se trata de uma "tragédia histórica". Entretanto lá longe, os atentados e as guerras civis no Iraque deixaram há algum tempo de merecer o destaque nos media. Quantos atentados foram noticiados desta a últimas semana? Quantos foram as vítimas? A maioria de nós já nem sabe; um dia destes mostrar-nos-ão a estatística. Correrá a sua dor o risco de cair na nossa indiferença?

4 comentários:

Anónimo disse...

Mas no Iraque a responsabilidade não é da autoridade rodoviária norte-americana.

Até tinha vontade de dizer que as autoridades americanas não têm culpa dos atentados que se passa no iraque mas isso seria falso - tal como lhes atribuir a responsabilidade total.

É verdade que vivemos numa cultura de "zaping" mas não é verdade que o sofrimento alheio seja indiferente na Europa ou na América do Norte.

Além disso, as intervenções têm um preço que pode ser monetário ou em vidas "nossas".

Podia-se vender menos armas, e lançar alguns dos "nossos" trabalhadores para o desemprego.

João Moutinho

Anónimo disse...

"Cultura de Zaping!"
O que será que este homem anda a ler?...

Pedro Reis disse...

O post to Marco é bom e fácil de perceber... o comentário do João deverá ser bom, se eu o conseguisse perceber! :-)

João Moutinho disse...

Pedro,
\
Agradeço o "deverá ser bom", considerando que tal se deve à tua boa vontade.

Pretendo chamar atenção que os ocidentais assistirão ao que se passa no Iraque mais com um sentimento de impotência para o que se passa do que indiferença.