terça-feira, 10 de junho de 2008

Ser Português...

O jornal Público dedica hoje algumas páginas a um inquérito sobre identidade nacional realizado pelo International Social Survey Programme. Das conclusões do estudo, o jornal destaca a importância que os portugueses atribuem à religião como factor de identificação nacional, aspecto em que apenas somos ultrapassados pela Polónia, Bulgária, Filipinas, Israel, África do Sul e Venezuela.

O destaque feito pelo jornal incide nas respostas à seguinte questão:

Que factores são importantes na definição do que é ser português?
(% respostas Importante + Muito Importante)

Sentir-se português 94,9
Saber falar português 94,7
Ter cidadania portuguesa 92,5
Respeitar leis portuguesas 92
Ter nascido em Portugal 91,4
Viver em Portugal 89
Antepassados portugueses 83,9
Ser religioso 68,5


Algumas destas respostas pre-definidas são subjectivas e dão azo a diversas especulações. Por exemplo, O que se entende por “sentir-se português”? Será isto uma mera identificação socio-cultural? Terá implícito um sentimento nacionalista saudável ou exacerbado? E como se expressa no relacionamento com outros portugueses? E no relacionamento com estrangeiros?

E que se entende por "ser-se religioso"? Estaremos a falar da anuência à doutrina oficial de uma religião (neste caso a Igreja Católica), de uma prática religiosa regular (missa dominical), ou de um qualquer sucedâneo religioso que se manifesta na forma de cultos marianos, posse de imagens de santos e participação em festividades populares (procissões e romarias)?

Mesmo considerando questionável a forma como este estudo foi feito (ou a forma como o jornal o apresenta), tenho de reconhecer que os resultados nos apresentam uma imagem de um certo tipo de portugueses. Para o bem e para o mal, estes são – provavelmente – a maioria dos cidadãos portugueses.

Mas há uma outra questão que merece atenção.

Quais são as principais fontes do orgulho em ser português?
(% respostas Importante+Muito importante)

História 91,8
Desporto 86,5
Literaturas e Artes 84,8
Ciência e Tecnologia 52,9
Forças Armadas 52,5
influência no Mundo 39,4
Democracia 38,7
Tratamento justo dos cidadãos 35,2
Economia 21,5
Segurança Social 18,9


O orgulho patriótico apenas parece ter maior incidência em actos do passado histórico e proezas desportivas, do que no desenvolvimento técnico e científico. A democracia, a justiça a economia e a segurança social não são motivos de grande orgulho. Não será isto um sinal claro de que há muita coisa mal neste país?

A propósito: Para mim não me faz confusão jogadores de futebol como o Deco ou o Pepe serem portugueses e jogarem pela selecção nacional. Muitos portugueses tornaram-se brasileiros, e vejo com naturalidade que também existam brasileiros que se tornem portugueses. O mesmo se passa com angolanos, moçambicanos, guineenses, s. tomenses, cabo verdianos e timorenses.

11 comentários:

Anónimo disse...

Proezas desportivas estas que numa grande parte foram conquistadas pelos estrangeiros se naturalizados em português (adquirir a nacionalidade portuguesa) e ai que vem a questão fundamental de sua pergunta Marco: O que se entende por “sentir-se português”?

Anónimo disse...

Pegando nas palavras da Daniella, lembro que o Eusébio e o Coluna eram moçambicanos, o Jordão não sei... mas o Oceano é Cabo-verdiano.
O Obikwelu é nigeriano e o Nelson Évora nasceu na Costa do Marfim!

Mas aproveito o tema para perguntar ao autor deste blog: és um português baha'i ou um baha'i português?

José Fernandes disse...

Ó gh, eu cá se não fosse Bahá'í, era português.

Anónimo disse...

Olha que que nem o dom Afonso Henriques era português... por acaso até era castelhano!

Anónimo disse...

Vocezes desculpem-me lá a mas a raça do Serra da Estrela é única, por isso devemos ter orgulho nela assim como os alemães têm no seu pastor.

Anónimo disse...

Boa pergunta gh mas olha, presta atenção, logo no perfil deste blogue o autor declara, em bom tom em inglês: I am a Portuguese Baha'i
E agora!!!???

Anónimo disse...

a mim também não, mas faz-me impressão que não saibam cantar o Hino

Marco Oliveira disse...

GH
Isso é ima boa questão!
Tenho dificuldade em dizer se sou «português baha’i» ou «baha’i português». Consoante as situações, assim se manifesta o meu lado português ou o meu lado baha’i.

Por exemplo, se um fábrica encerra em Portugal para ser deslocalizada para outro pais onde os salários são mais baixos, o meu «lado português» fica ferido. Mesmo que isso leve benefícios para outros países, é óbvio que é um prejuízo para Portugal. E isso chateia-me. Porque é que não temos outros argumentos para cativar esses investimentos? Porque é que não investimos mais na inovação tecnológica e na capacitação das pessoas?

Por outro lado, se se verificam atropelos à liberdade religiosa em qualquer país do mundo, então é o meu lado baha’i que fala. E este blog está cheio de exemplos de situações dessas.

Marco Oliveira disse...

Elfo,
E o Podengo do Alentejo? Também é uma raça que devemos estimar.
:-)

Anónimo disse...

Marco
Eu do Alentejo só conhecia os rafeiros, mas pronto ainda bem que deste o nome aos cães portugueses, com o Serra da Estrela à cabeça. Como vês por aqui é tudo em grande, até o nosso famoso cão de guarda.

Héliocoptero disse...

A respeito da questão dos naturalizados na selecção nacional de futebol e em jeito de concordância com o Marco, nunca é demais lembrar que o primeiro almirante português era na realidade um genovês empregue por D. Dinis para organizar a marinha portuguesa.

E, já agora, Afonso Henriques seria, no máximo, castelhano-leonês, mas não estará errado dizer que ele era portucalense - dado o possível local de nascimento - ou mesmo galego, uma vez que Portucale era entendido como uma extensão sul da Galiza, politica e culturalmente.